sexta-feira, abril 21, 2006

Morre Telê Santana, um dos maiores técnicos do Brasil


Ex-treinador não resistiu a uma infecção no intestino e faleceu em Belo Horizonte

Como jogador, ele era um atacante rápido, habilidoso e inteligente. Como técnico, foi campeão por onde passou e ganhou a fama de chato, exigente e disciplinador. Em comum nas duas carreiras, a busca incessante pela vitória. Assim podemos resumir a vida de Telê Santana, morto às 11h30min desta sexta, aos 74 anos, em decorrência de uma grave infecção, que teve início no intestino grosso. Os detalhes sobre o velório e sepultamento ainda não foram divulgados.

Depois de superar uma isquemia, um derrame, a depressão e a amputação de parte da perna esquerda, Telê foi internado na CTI do Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte, há 28 dias. Com dificuldades para respirar e uma forte dor abdominal, foi sedado e entubado. Segundo o médico José Olinto Pimenta Figueiredo, responsável pelo atendimento, lutou até o final com muita “garra”. Como legado, deixou quase 50 anos dedicados ao futebol.

Nascido em Itabirito (MG), Telê começou a carreira aos 14 anos, como goleiro do Itabirense. Já convertido em atacante, foi descoberto pelo Fluminense quando atuava no São João Del Rey, cujo técnico e presidente era o seu pai. Assinou seu primeiro contrato profissional em fevereiro de 1951, sagrando-se campeão carioca no mesmo ano. Por causa do corpo franzino, ganhou o apelido de “Fio da Esperança”, em referência ao título de um filme em cartaz em 1952.

Telê permaneceu no tricolor carioca por mais 12 anos, transferindo-se depois para Guarani, Madureira e Vasco, antes de parar de jogar, em 1965. Dois anos mais tarde, ele voltou às Laranjeiras e iniciou sua carreira de técnico nas categorias de base. Em 1969, assumiu o time profissional como interino, sagrou-se campeão carioca e foi efetivado no cargo. Venceu também outros três importantes estaduais do país: o Mineiro (Atlético-MG), o Paulista (São Paulo) e o Gaúcho (Grêmio).

Já consagrado, Telê foi convidado para assumir a Seleção Brasileira em 1980. Dois anos depois, na Copa da Espanha, encantou o mundo com uma equipe ofensiva que buscava o gol durante os 90 minutos e até hoje é lembrada como a melhor Seleção Brasileira de todos os tempos. Ironicamente, o time que contava com jogadores como Falcão, Zico, Sócrates e Cerezo acabou sendo eliminado pela Itália de Paolo Rossi e voltando mais cedo para casa.

O fracasso alterou a relação da torcida brasileira com Telê, que passou a ser conhecido como pé-frio. Mas depois de uma passagem pela Arábia Saudita e apesar da reputação, o treinador voltou ao comando da Seleção em 1985, no lugar de Evaristo de Macedo. O time vinha mal nas eliminatórias para a Copa do México, mas Telê deu novo ânimo ao scratch verde-amarelo e conseguiu a classificação.

Mais uma vez, no entanto, o destino pregou uma peça em Telê. Depois de vencer os três jogos da primeira fase sem sofrer um gol sequer e atropelar a Polônia nas oitavas-de-final, o Brasil cruzou com a França de Michel Platini. Careca abriu o placar, mas o craque francês empatou. Na prorrogação, Zico perdeu uma penalidade. Sócrates perdeu outra na decisão por pênaltis, e o Brasil voltou outra vez para casa sem a taça.

A maldiçoado pela torcida brasileira, Telê só se desfez da fama de pé-frio quando assumiu o São Paulo, em 1990. No Tricolor do Morumbi, ele construiu uma trajetória de conquistas jamais equiparada por qualquer outro técnico brasileiro. Foi bicampeão paulista (1991 e 1992), campeão brasileiro (1991), bicampeão mundial interclubes (1992 e 1993), bicampeão da Copa Libertadores (1992 e 1993), bicampeão da Recopa Sul-Americana (1993 e 1994), campeão da Supercopa (1993) e campeão da Conmebol (1995).

Depois de atingir a glória no São Paulo, Telê foi obrigado a abandonar o futebol por problemas de saúde. No início de 1996, um exame de rotina revelou a existência de uma isquemia cerebral. Diabético e com dificuldades de fala e locomoção, se recolheu e foi viver com a esposa e os dois filhos em Belo Horizonte. Teve depressão profunda e, em 2003, parte da perna esquerda amputada por conta de uma nova isquemia. Influenciou não só a maioria dos técnicos brasileiros como também seu filho, Renê Santana, a seguir a carreira de treinador.

QUEM FOI:
Confira os fatos mais marcantes da carreira de Telê Santana

• Nome: TELÊ SANTANA da Silva
• Nascimento: 26 de julho de 1931, em Itabirito (MG)
• Principais títulos como jogador: duas vezes campeão carioca pelo Fluminense, em 1951 e 1959, e duas vezes campeão do Torneio Rio-São Paulo, em 1957 e 1960.

• Principais títulos como técnico: campeão carioca (Fluminense, 1969); duas vezes campeão mineiro (Atlético-MG, 1970 e 1988); campeão gaúcho (Grêmio, 1977); bicampeão paulista (São Paulo, 1991 e 1992); duas vezes campeão brasileiro (Atlético-MG, 1971, e São Paulo, 1991); campeão do Golfo Pérsico (Al Ahli, 1983); campeão nacional da Arábia Saudita (Al Ahli, 1984); bicampeão da Copa Libertadores (São Paulo, 1992 e 1993); bicampeão mundial interclubes (São Paulo, 1992 e 1993); campeão da Supercopa da Libertadores (São Paulo, 1993), bicampeão da Recopa Sul-Americana (São Paulo, 1993 e 1994) e campeão da Copa Conmebol (São Paulo, 1995).

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