quarta-feira, maio 17, 2006

Talento versus "talento" biológico (d. de observador)

Aproveitando o “lanço” de ter participado num Seminário Nacional (organizado pelo SLB) acerca da Selecção e Desenvolvimento de Talentos, falo-vos de algo pelo qual não desisto de batalhar e alertar.

É recorrente ver por esses jogos de escalões de formação, que todas as semanas vou observando, jogadores pouco dotados tecnicamente mas muito fortes fisicamente, a jogarem como titulares e a serem apostas fortes dos clubes onde jogam.
Num Futebol tão “amador” como o nosso, não me espantaria, mas a partir do momento que vejo os grandes clubes Portugueses (ou pelo menos parte deles) cometerem esse “erro”, fico a pensar onde está o profissionalismo e a experiência dos seus dirigentes e técnicos.

Se é óbvio, que a aposta dos clubes na formação, quer em termos financeiros quer em termos humanos se justifica com a necessidade e vontade de ver jovens talentos, jovens com capacidade para jogar nas equipas principais, nascerem, então tudo levaria a crer, que a aposta seria feita em jovens com capacidades técnico/tácticas relevantes ao ponto de se apostar no seu futuro. Jovens capazes de interpretar o Futebol da melhor maneira possível, e não apenas encarar o jogo como uma batalha física e sem qualidade.

Obviamente que nem todos os miúdos crescem á mesma velocidade ou com o mesmo vigor, e temos casos de precoce crescimento, algo que transportado para o Futebol acaba por se traduzir em jogadores capazes de “dar nas vistas” unicamente por serem bem mais fortes fisicamente do que os oponentes (a componente física na formação é algo muito desiquilibrador). Mas será que são estes os atletas que no futuro trarão alegrias e sobretudo permitirão atingir os objectivos da formação? Serão estes, no presente, “gigantes” que daqui a uns anos, já bem nivelados em termos físicos com os outros, que irão ter alguma hipótese no Futebol Profissional?
Penso que a resposta obvia, é um redondo não!

O Professor André Seabra (famoso professor do FCDEF), confidenciava em tom bem disposto que á uns anos atrás, ele e o seu staff faziam a selecção de talentos muito baseada na vertente física dos atletas.
Até aqui tudo normal, no entanto o Professor teve a honestidade suficiente para dizer que foi “ingénuo” e que os resultados dessa selecção acaboi por não ser o melhor, pois anos mais tarde a vertente física já não se sentia tão díspar em relação aos atletas que entretanto foram crescendo mais lentamente, e que portanto o resultado prático da formação foi 0, pois os atletas seleccionados não foram capazes de “vingar” no Futebol Profissional.
E para ilustrar esse facto da sua vida, acabou por admitir que o Simão Sabrosa não foi “seleccionado” pois era um atleta bastante baixo. Vejam o que é hoje o Simão Sabrosa….

Numa outra apresentação, Vanessa Fernandes apresentou um estudo sobre Maturação Biológica e estado de crescimento dos atletas, e depois de vários dados apresentados, explicou que os atletas mais “maturados” biologicamente tinham na sua generalidade testes menos positivos em termos técnicos, o que em termos práticos significa muito.


Em conclusão, penso que estes 2 exemplos que acabei de referir são casos bem claros do que venho alertar, neste “capítulo” do meu diário de observador.
Alerto assim todos os treinadores e “observadores” ligados á formação, que embora se saiba que a componente física na formação pode significar algum sucesso e vitórias, não é o caminho correcto para a obtenção dos reais objectivos: formar talentos.
E se é verdade que seria hipócrita ao dizer que os resultados não são importantes e não pesam na balança do consciente dos treinadores, também é verdade que quem anda nisto por paixão e realmente se interessa em formar talentos, tem o dever de apostar nos “miúdos” que realmente têm “talento” e potencialidade, e esse talento exibe-se na componente técnico/táctico e não num crescimento biológico precoce.
É tempo de dar “espaço” aos verdadeiros artistas, para que estes possam potenciar e desenvolver a sua real qualidade futebolística.
É tempo pois, de deixar para trás a “época” dos jogadores grandes e fortes, mas “toscos”.

Contudo, uma coisa é óbvia. Quando se pode aliar os 2 num mesmo atleta, tanto melhor!

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