sexta-feira, junho 22, 2007

Play-Off Apuramento JO: Portugal 0x0 Itália (3-4)


Portugal 0 x 0 Itália (3-4)

Estádio: De Goffert, Nijmegen (Holanda)
Assistência: Desconhecida
Árbitro: Stéphane Lannoy (França)



Chegámos à Holanda com um sonho: conquistar o Euro Sub-21 (e, por consequência, a presença nos Jogos Olímpicos de Pequim). Hoje, percebemos que saímos da Holanda com um pesadelo, de mãos a abanar. Já não bastava não termos chegado às tão ansiadas meias-finais do Campeonato da Europa, como o segundo objectivo – Jogos Olímpicos – ficou por cumprir.

Portugal entrou hoje em campo com clara vontade de vencer e conseguiu mesmo superiorizar-se aos cínicos italianos. No estádio mais pequeno do Euro Sub-21, em Nijmegen, e depois do sempre comovente Hino Nacional entoado pelos 80% de portugueses que compunham a moldura humana, esta noite, Stéphane Lannoy, de França, fez soar o apito inicial.
Portugal apresentou-se com a formação mais forte, sendo a única alteração em relação ao 4-0 anterior (frente a Israel) a saída do capitão Hugo Almeida (suspenso) para a entrada de Silvestre Varela.

Paulo Ribeiro voltou a dar mostras do seu valor, executando uma série de defesas de média/elevada dificuldade e provando que o Porto tem nele e em Bruno Vale duas das maiores esperanças para as balizas portuguesas nos próximos anos. Sem dúvida, mais uma boa exibição, negando o golo por mais do que uma vez. João Pereira fez um jogo muito bom, mais uma vez cheio de determinação e vontade e com o seu estilo aguerrido. Foi capaz de excelentes e péssimos cruzamentos e foi o lateral que mais apoiou o ataque, sempre com inteligência e moderação nas subidas. Defendeu bem, fez poucas faltas e foi claramente um jogador em dia sim esta noite. Do lado oposto, o jovem Antunes, o mais novo de Portugal em campo, esteve relativamente bem. Subiu muitas vezes, ajudando Nani, mas na defesa foi em algumas ocasiões ultrapassado por Montolivo. A isto se acresce o facto de ter falhado o penalty. No centro da defesa, Manuel da Costa continuou a mostrar o seu enorme potencial, maturidade, inteligência e capacidade. É um central que aprecio imenso pois tem grande técnica para a sua posição, é forte no jogo aéreo, possui uma grande inteligência posicional e é uma autêntica muralha. Hoje, foi melhor coadjuvado do que nunca. Semedo exibiu-se a um nível que ainda não tinha sido capaz de exibir, muito forte em todos os aspectos, com desarmes providenciais e uma grande disponibilidade. Surpreendente para quem só o conhece da selecção. Miguel Veloso não esteve tanto em jogo como no jogo anterior, por motivos óbvios – este adversário requeria, claramente, mais atenção e contenção do médio defensivo. Fez um jogo muito bom, para não variar, ainda que no capítulo atacante não tenha estado tão exposto como já o vimos fazer. Manuel Fernandes, esse sim, foi uma peça fulcral no xadrez montado por José Couceiro para esta partida. O grande elemento de conexão entre os sectores, o verdadeiro transportador da “redondinha” e também um dos mais activos no capítulo defensivo. À sua frente esteve o regularíssimo João Moutinho. Hoje jogou muito bem, esteve em permanente movimento, ora descaindo nas faixas, ora optando pelo meio, trocando a bola ou levando-a por si mesmo para o ataque. Importantíssimo na distribuição do jogo e na execução de alguns remates perigosos. Nani esteve irrequieto na primeira parte, quebrando as cabeças dos laterais transalpinos, fazendo remates, cruzamentos e fintas, mas decresceu muito quando o jogo se encaminhava para o fim. Silvestre Varela, esse sim, conseguiu manter o ritmo elevado durante mais tempo, quebrando só no término do prolongamento. Ganhou imensas faltas, arrancou, fintou, rematou… muito dinâmico. Ricardo Vaz Tê teve a difícil tarefa de iludir os centrais italianos e chegou a estar perto de assinar um golo. Um bom jogo, que terminou cedo fruto dos problemas que nunca escondeu neste Europeu.

A selecção nacional de Portugal jogou a um ritmo alucinante na primeira parte, pressionando tão alto que em certos períodos asfixiou por completo a Itália. Mesmo quando os italianos tentavam segurar a bola para serem eles a comandar e pautar o jogo, logo os portugueses impunham velocidade e imprimiam ao jogo uma enorme dose de vivacidade e dinamismo. As oportunidades sucediam-se, em especial recorrendo aos remates de longe – Varela, Nani e Manuel Fernandes estiveram todos perto do golo. Portugal instalou-se no meio-campo italiano e, até ao intervalo, foi difícil para Itália sair a jogar. Portugal, durante uns minutos, ainda acalmou, trocando a bola passivamente na defesa. Contudo, esta foi uma estratégia para recuperar energias, pois o pedal do acelerador foi carregado a fundo durante a primeira parte, em especial a partir da meia hora, quando os laterais perderam a vergonha e começaram a posicionar-se mais à frente e a envolver-se nos lances atacantes. Num dinamismo a nível de meio-campo e ataque incrível, Portugal mostrou hoje maturidade posicional e muita cultura táctica, pois as compensações eram sempre feitas com sucesso e os jogadores tinham uma flexibilidade muito grande ao nível da sua colocação no terreno, nunca permanecendo no mesmo sítio, com e sem bola. Ainda apanhámos um susto quando Rossi, qual foguete, entrou na área após “comer” dois defesas portugueses, mas Paulo Ribeiro fez a defesa da noite com uma mancha fabulosa.

Veio o intervalo.

Na segunda parte, voltámos com a mesma toada. Porém, aos poucos e poucos, foi-se acumulando o desgaste e as pernas já não permitiam tanto – a pressão reduziu, o ritmo também e o efeito surpresa desvaneceu-se, caindo-se numa certa monotonia e encaixe táctico que, com velocidade, não era possível. A Itália foi-se aproximando até equilibrar o jogo e os centrais tiveram mesmo que brilhar. Manuel da Costa e Semedo revelaram ambos uma segurança, confiança e eficácia. Se houve momentos em que o jogo esteve fechado e as linhas de passe e de penetração eram escassas, houve outros em que os contra-ataques se sucediam, uns atrás dos outros, dando uma maior abertura ao jogo e tornando-o mais espectacular. Varela apareceu claramente nesta parte como grande impulsionador de Portugal, conquistando livres e levando os companheiros para o ataque. Pazzini, uma nulidade, e Rossina, pouco produtivo, saíram para os lugares de Pellé e Palladino respectivamente. A meio da primeira parte, o jogo começou a decair e a produção de muitos dos intervenientes também. Vaz Tê saiu para entrar João Moreira, que pouco acrescentou, a meu ver, à equipa. O cansaço ia-se acumulando até que Rossi, o melhor elemento ofensivo de Itália, foi expulso. Aí ganhámos forças extra e ainda conseguimos esboçar um retorno ao vigor atacante, pelo que isso não aconteceu. Fora alguns remates de longe, pouco de mais se passou. Nos últimos dez minutos, o desafio chegou mesmo a tornar-se aborrecido e empastado – as equipas já esperavam mais meia hora de jogo. Ainda deu tempo para a saída de Manuel da Costa, por questões do foro físico, para a entrada do jogador do Belenenses Rolando e para Pellé assustar Paulo Ribeiro, que defendeu com os punhos um remate rasteiro.

O prolongamento abriu com um forte remate de Nani depois de um envolvimento colectivo assinalável. A inferioridade numérica dos azurri veio ao de cima no prolongamento e Portugal dominou: João Moreira quase marcava se não fosse um defesa italiano a “tirar-lhe o pão da boca”; João Moutinho cabeceou ao lado, já dentro da pequena área; e Yannick Djaló, entrado no intervalo do prolongamento para o lugar do lateral João Pereira, de baliza semi-aberta e com tudo para abrir o marcador, disparou por cima, no falhanço mais escandaloso dos 120 minutos.

Sem justiça, a Itália segurou o empate durante todo esse tempo e o jogo acabou por se decidir na marcação de grandes penalidades. Os italianos não perdoaram e conseguiram a viagem a Pequim no próximo Verão. Moutinho e Nani converteram, assim como Pellé e Motovolio, mas Manuel Fernandes falhou ao passo que Triscito marcou. Depois, Miguel Veloso e Palladino marcaram e Antunes não podia falhar para Portugal ainda ter hipóteses… falhou. E todos sabíamos que ia falhar, Antunes é demasiado inexperiente e nervoso para ter nos pés todas as aspirações de uma selecção. Má escolha.

Como disse nas primeiras linhas deste post, Portugal entrou na Holanda com um sonho que, com o passar do tempo, virou pesadelo. Chegámos a ter a ilusão de ganhar o Euro e vimos para casa sem sequer garantirmos o apuramento para os Jogos Olímpicos. Hoje, merecíamos claramente ter ganho pois a nossa superioridade foi inegável, mas o futebol é mesmo assim, por vezes injusto e imprevisível. Com uma equipa como a nossa, é inglório chegar a Portugal sem nada na bagagem. Foi o que aconteceu. Está na altura de perceber o que falhou. Neste jogo, na minha opinião, faltou eficiência ofensiva e sorte.

Uma campanha negativa de Portugal em terras neerlandesas que terá que ser discutida por todos os Atacantes. O que correu mal e porquê? Que alterações? Há culpados?...


Melhor Jogador

Manuel Fernandes. Especialmente pelos primeiros 45 minutos. Manuel Fernandes foi, esta noite, o verdadeiro motor da equipa portuguesa. Na primeira metade, todos os portugueses actuaram exemplarmente mas Manuel Fernandes destacou-se. Não que as investidas e remates de Varela e Nani, as jogadas do incasável Moutinho ou a belíssima exibição dos centrais portugueses não merecessem destaque, mas “Manelelé” é, de facto, um jogador especial e que esteve em crescendo durante o Europeu (se bem que este jogo já não fizesse parte dessa competição). Foi uma exibição quase perfeita, escurecida apenas por um amarelo, claras marcas do desgaste físico na parte final e um penaltie mal batido e falhado. Mesmo assim, brilhante. No aspecto defensivo, demonstrou toda a sua disponibilidade, raça, inteligência na ocupação dos espaços e no posicionamento do corpo e foi capaz de cortes absolutamente deliciosos de tão “limpinhos” e complicados que eram. No ataque, foi o principal transportador da bola, foi o iniciador das jogadas. Se no jogo contra Israel partilhava essa função com Miguel Veloso, hoje notou-se uma maior contenção do leonino e um claro aproveitamento de Manuel Fernandes para aparecer e tomar a iniciativa. Fez remates perigosíssimos, passes muito bons (e alguns maus, também) e foi quem começou a mexer na interessantíssima dinâmica ofensiva portuguesa. Mais um grande jogo do nº8 luso.


Arbitragem

Viu-se, neste jogo, uma arbitragem globalmente positiva, com falhas de pouca relevância. Talvez tenha denotado algum critério dualista ao mostrar cartão amarelo a Manuel da Costa por mão na área adversária e, minutos depois, não ter sancionado disciplinarmente um italiano que levou a mão ao esférico. De resto, um erro logo no início do jogo, quando Antunes toca para canto e o árbitro assinala pontapé de baliza. Um erro crasso, numa altura em que a visão do árbitro estava tapada e o juízo era complicado. Acima de tudo, o árbitro soube controlar a partida, ter mão nos jogadores e, não dando espaço para protestos (foi a maior causa de cartões, inclusivamente o vermelho a Rossi), conseguiu não gerar uma atmosfera pesada entre os jogadores de ambas as equipas e o próprio árbitro. De uma forma geral, sem grandes defeitos – uma arbitragem mais.


Positivo do Jogo

• A boa imagem que Portugal deixou nesta partida.
• A coragem de José Couceiro em arriscar a saída de um defesa para colocar em campo um avançado.
• O “fair-play” demonstrado, salvo raras excepções, de ambas as partes. Não houve desentendimentos.
• A primeira parte fenomenal da selecção portuguesa.
• A mestria dos italianos na cobrança de grandes penalidades.


Negativo do Jogo

• A derrota e consequente impossibilidade de marcar presença no Torneio Olímpico a disputar-se para o ano em Pequim.
• Duas substituições, do lado português, motivadas por insuficiências físicas: Ricardo Vaz Tê e Manuel da Costa saíram em dificuldades.
• O desgaste e cansaço que os lusitanos demonstraram a partir do último quarto de hora a segunda parte e no prolongamento – motivou o “desaparecer” de alguns jogadores como Nani e mesmo Manuel Fernandes.

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