segunda-feira, agosto 11, 2008

Testes

FC Porto, Benfica e Sporting continuam a sua preparação tendo em vista a época 2008-09. Este fim-de-semana todos entraram em campo, precisamente em casa, vencendo os seus jogos e protagonizando boas exibições, talvez com os 'leões' a estarem uns furos abaixo dos outros dois. Os adversários foram de respeito e os testes, portanto, muito positivos, tendo já começado a definir algumas situações individuais e colectivas, isto numa altura em que os jogos a sério estão aí à porta.



FC PORTO - LÁZIO 2 - 1

Magnífica primeira parte do FC Porto, defronte de uma das mais prestigiadas equipas italianas. Os portistas vulgarizaram autenticamente a Lázio durante os primeiros 45 minutos. Jesualdo Ferreira apostou no seu habitual 4-3-3 e, na realidade, não há qualquer razão para mudar, pois é um sistema que já está completamente enraízado na equipa e que deu os frutos que todos conhecemos. Em termos individuais, destaque para a colocação de Benítez a lateral-esquerdo e de Guarín a pivot-defensivo, as posições onde há mais dúvidas sobre o seu dono. De resto, tudo normal: Helton na baliza, Sapunaru, Bruno Alves e Pedro Emanuel a completarem a defesa, Raúl Meireles e Lucho a manterem-se no meio-campo e o trio Mariano-Lisandro-Rodríguez na frente. Pode até dizer-se que o onze para defrontar o Sporting, sábado no Algarve, está encontrado.

Na primeira metade, o jogo portista foi de alta rotação, com velocidade e fluídez em posse de bola, movimentações constantes dos jogadores, objectividade nos ataques e pressing incessante na recuperação. Resultado: dois golos e um domínio avassalador do FC Porto, pontuado por alguns momentos de marcado brilhantismo. A máquina parece estar já bem oleada, o que entusiasmou o muito público presente no Dragão.

Cristian Rodríguez rubricou uma exibição soberba e caiu definitivamente no goto dos portistas. O extremo uruguaio alia a capacidade ofensiva (ultrapassou várias vezes o seu marcador directo, com velocidade e técnica) à disponibilidade defensiva (impressionante a forma como pressiona e luta pela bola), o que faz as delícias de qualquer treinador e o leva a encaixar às mil maravilhas no esquema azul e branco. Realizou várias arrancadas fenomenais, numa das quais serviu Lucho para o segundo golo. Já antes, Bruno Alves abrira o activo com um portentoso livre do meio da rua.

O entrosamento revelado é de enaltecer, se atendermos a que ainda estamos na pré-época. Todos os jogadores se integraram nos processos colectivos, não vi ninguém deslocado ou sem saber o que fazer. Lucho foi o cérebro de sempre e, além do habitual entendimento com Lisandro, parece querer tê-lo igualmente com Rodríguez. Mariano também esteve bem e, apesar de sempre muito criticado e incompreendido, é um jogador que me agrada. Meireles foi voluntarioso e esclarecido, como de costume. Guarín participou sempre correctamente no processo ofensivo, mostrando bons pés, boa visão e arrojo, tendo subido várias vezes e até tentado o ramate. A verdade é que, para quem joga na posição '6', sai muito do seu espaço e é ainda muito imaturo a nível posicional, o que pode por a equipa em dificuldades defensivas. Por isso, não o acho a melhor opção para substituir Paulo Assunção, pelo menos para já, sendo mais prudente apostar em Meireles para essa função. A defesa esteve geralmente acertada, tanto os centrais como os laterais.

Na segunda parte, com as inúmeras substituições e umas invenções de Jesualdo, como o 'double-pivot' ou o encosto de Lucho à direita, a equipa deixou de jogar como tal e o espectáculo baixou drasticamente de qualidade. Hulk foi mesmo o único que aproveitou para brilhar, com uma fantástica jogada individual - mal concluída - e mais uns apontamentos técnicos interessantes, embora ainda lhe falte perceber o momento certo para largar a bola. Mas pode ser um elemento bastante importante no plantel portista nesta temporada. De referir que o golo dos romanos foi apontado por Ledesma, num lance em que Nuno não está isento de culpas.



BENFICA - FEYENOORD 1 - 0

Boa exibição e vitória justa do Benfica, materializada com um grande golo de Cardozo, após uma assistência primorosa de Aimar. Quique Flores começa a assentar ideias, as indefinições quanto a jogadores vão diminuindo e, com isso, a tendência é de crescimento colectivo. Neste teste com o Feyenoord, houve uma evolução evidente em relação aos jogos anteriores efectuados pelos encarnados. O 4-4-2 clássico é o sistema eleito.

Quique optou por jogar com Katsouranis a central ao lado de Luisão, entregando o meio-campo a Yebda e Carlos Martins, com Ruben Amorim à direita e Urreta à esquerda. Maxi Pereira actuou do lado direito da defesa e Léo do lado contrário. Na frente, Cardozo foi o homem mais adiantado, tendo Aimar um pouco mais atrás.

O destaque da partida vai para o domínio benfiquista em termos de posse de bola, especialmente na primeira parte, graças à dinâmica e entrosamento revelados, mas também à pressão alta feita sobre os holandeses, que levou o Benfica a recuperar várias vezes a bola de forma rápida e em zonas adiantadas. O perigo rondou sempre muito mais a baliza de Timmer que a de Quim. O paraguaio Cardozo foi o principal responsável pelos sobressaltos provocados ao guardião holandês, já que, além do golo, enviou uma bola ao poste e ainda lhe proporcionou duas óptimas paradas. O 'Tacuara' teve uma noite em grande e foi o melhor em campo.

Carlos Martins foi dos jogadores mais activos e o futebol benfiquista passou invariavelmente pelos seus pés. Apesar de ter cometido alguns erros no passe, mostrou ao seu técnico que pode contar com ele para titular. Por seu turno, Yebda é fisicamente imponente, mas não é só isso. É um bom jogador, tem bons pés, sabe os terrenos que pisa e normalmente não complica, além de ter boa capacidade de pressão. Parece-me uma alternativa muito válida para jogar à frente da defesa. No entanto, julgo que Katsouranis continua a ser a melhor escolha para '6' e que é um desperdício colocá-lo no sector mais recuado. Nas alas, Amorim jogou à direita e esteve discreto, embora tenha tido uma oportunidade de golo soberana, tendo Urreta jogado à esquerda. O jovem uruguaio de 18 anos foi um dos melhores do primeiro tempo, fazendo da velocidade a sua principal arma. Revela ainda muita imaturidade, mas pode ser uma bela surpresa ao longo da época e constituir-se como opção constante para uma ala, já que na frente será mais difícil. Cá atrás, Léo e Katsouranis estiveram acima dos seus colegas de sector.

Agora, um apontamento individualizado para Aimar. O internacional argentino foi, a par de Reyes, a contratação mais sonante do clube da Luz até ao presente momento. Ninguém duvida da sua categoria. Mas estou em crer que o sistema instituído por Quique não o favorece nem um pouco. Jogar nas costas de Cardozo, como um dos avançados, retira-o do centro de jogo, faz com que entre em acção reduzidas vezes e não lhe permite ser o 'patrão' do futebol ofensivo da equipa. Seria mais adequado posicioná-lo mais atrás, onde tivesse uma visão maior do campo e dos colegas, distribuisse jogo ao critério do seu talento, pautasse os ritmos colectivos e pudesse também fazer passes a rasgar ou partir embalado de zonas mais recuadas em direcção à área. O problema que aqui se coloca é que Aimar não tem intensidade de jogo nem disponibilidade física suficientes para jogar no miolo apenas com mais um jogador. Conclusão: o 4-4-2 clássico não favorece as características de Aimar (o 4-4-2 losango - se bem que este não privilegiasse os extremos do plantel... - ou mesmo o 4-2-3-1 - embora Cardozo jogue melhor quando acompanhado... - seriam mais ajustados), o que, atendendo ao facto de ele ser um dos melhores jogadores do Benfica, pode vir a constituir um problema bicudo.

O internacional espanhol Reyes fez a sua estreia de águia ao peito e esta foi, quanto a mim, uma magnífica contratação. O jovem vindo do Atlético Madrid será certamente um dos grandes desequilibradores encarnados, servindo-se da sua capacidade técnica apurada e estonteante velocidade com a bola colada ao pé esquerdo. Aliás, neste encontro, já deu para ver um 'cheirinho' de Reyes, concretamente no espectacular remate ao poste e em mais um ou dois excelentes pormenores. Este vai dar cartas.



SPORTING - SAMPDÓRIA 2 - 0

Deste jogo, pouco posso falar, pois apenas o vi a espaços. Ao que se consta, a exibição leonina não foi brilhante, mas convém não esquecer que pela frente estava o 6º classificado da última liga italiana. Marcar dois golos e não sofrer nenhum é sempre positivo, sendo que o tento inaugural, marcado por Derlei, resultou de uma belíssima combinação com Yannick Djaló. Já o segundo nasceu de uma grande penalidade convertida por João Moutinho, que foi aplaudido mais que assobiado, uma novidade após as suas recentes declarações.

No Sporting, o losango é para manter, existindo apenas dúvidas quanto aos seus integrantes, sendo certo que, com os oito centrocampistas disponíveis, as combinações possíveis são imensas. E as discussões em redor desta problemática também. Moutinho e Rochemback são peças indiscutíveis, seja em que posição for, os restantes terão de fazer pela vida. Na minha opinião, a posição ideal para 'Roca' é a '6', mas para aí já existe Miguel Veloso, que por acaso vem de uma temporada muito abaixo do que pode produzir e se continuar na mesma corre o risco de ir para o banco. Moutinho rende mais como interior. Romagnoli é talvez a melhor alternativa para '10'. Vukcevic, em forma, tem de jogar, e aqui devo dizer que, devido às suas características, o acho mais talhado para jogar na frente que propriamente no losango. O 'problema' é que Liedson, quando recuperar, será titular, e Derlei é o avançado perfeito para jogar neste esquema. Moral da história: há homens a mais para os lugares existentes e uma gestão equilibrada e rotativa do plantel é aquilo que se pede a Paulo Bento.

Na defesa, tudo mais claro, com Abel e Grimi nas laterais e Polga incontornável no eixo. Resta saber qual o parceiro para o internacional brasileiro, se Tonel ou Caneira. Note-se que Caneira pode também facilmente ser adaptado a qualquer das laterais, algo que é potencialmente um ponto a seu favor na luta pela titularidade. Rui Patrício continua firme na baliza, embora seja minha convicção de que nesta época não vai dispor de tanta margem de erro, sob pena de poder perder o seu posto.

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