quinta-feira, março 27, 2008
Selecção Nacional: Ponto de Situação
Acabou o jogo e fui jantar, silenciosamente, a meditar e a reflectir sobre o que se passou hoje em Düsseldorf, sobre o momento que a minha selecção atravessa. Já tinha em mente publicar um artigo de opinião sobre o estado da equipa nacional do meu país e decidi esperar pelo fim do duelo contra a Grécia para que os meus argumentos ganhassem consistência e acima de tudo para clarificar algumas dúvidas que ainda persistiam no meu espírito e estão agora dissipadas.
Esta noite, Portugal perdeu e perdeu bem. Frente a uma Grécia que já nos habituou a uma solidez defensiva e uma organização táctica acima da média, os jogadores portugueses não foram capazes de se superiorizar. Eu diria que esta só não foi a reedição da final do Euro 2004 porque, se da outra vez a derrota foi injusta, desta vez não deixou grandes dúvidas.
Passo a uma análise por sectores, antevendo o Euro 2008...
* Guarda-Redes
Continuo a discordar das convocatórias feitas nos últimos tempos por Luiz Felipe Scolari. A começar pela baliza. Quim e Eduardo, os dois guarda-redes em melhor forma na actualidade, não foram chamados. No seu lugar, o Sargentão convocou Ricardo e Rui Patrício. Ora, Ricardo voltou hoje a provar que o seu lugar na selecção é injusto. No Euro 2004 achei mais do que imerecida a sua titularidade (Vítor Baía acabara de ser considerado o melhor guarda-redes da Liga dos Campeões); no Mundial 2006 acreditei que ele era um digno titular; para o Euro 2008 volto a ser da opinião de que não é a melhor opção para a baliza. No jogo de hoje, voltou a ter mais duas ou três saídas infantis e despropositadas que poderiam ter originado golos e nos livres não fez o que podia para tirar a bola do caminho da baliza. Ficar com os pés presos ao chão não resolve nada e mostrou clara falta de atitude. Parece-me que um verdadeiro guardião, no primeiro livre do Gladiador Katsouranis teria evitado o golo.
Falemos agora de Rui Patrício, um jovem que considero altamente promissor e com inúmeras qualidades. Não sei, sequer, se merece ser titular no Sporting, mas uma coisa é certa: Rui Patrício não tem lugar na selecção nacional. Pelo menos, para já. É um jovem, tem apenas 20 anos, e ainda denota uma grande dificuldade em reagir à pressão. Apesar das grandes potencialidades, que, repito, lhe reconheço, parece-me que ainda não tem estofo para ser o terceiro guarda-redes de Portugal. Porque os azares acontecem e acredito que não será capaz de responder à pressão no caso de ocorrer uma catástrofe.
Pela lógica, o guarda-redes titular deveria ser Quim. É um futebolista muito experiente, já conta com dezenas de internacionalizações, já esteve presente em grandes competições – nomeadamente o Euro 2004 e o Mundial 2006 –, tem feito uma boa época ao serviço do Sport Lisboa e Benfica e parece-me a opção mais sensata. Como alternativa, teríamos Ricardo, um jogador que, apesar de muito frágil (realmente mau, em muitas circunstâncias) a sair dos postes, e das frequentes "diarreias mentais" é um bom guarda-redes entre os postes, com bons reflexos (como o provam os penalties que defende) e um jogador importante no balneário, que esteve presente nas últimas três grandes competições internacionais em que a turma lusitana esteve envolvida. Em terceiro, e como Scolari gosta de levar um guarda-redes jovem, teríamos duas hipóteses: Beto, a menos válida, um guarda-redes de 25 anos (jovem para a posição), tem feito uma excelente temporada no Leixões e evidenciado qualidades acima de média; e Eduardo, aquele de quem já todos falavam antes da final da Taça da Liga, e que tem o apoio de grande parte dos adeptos portugueses após esse fatídico dia. Com a mesma idade, 25 anos, é a solução mais atilada.
* Laterais
Se temos defesas direitos em abundância e qualidade – Bosingwa (quanto a mim, o titular), Miguel, Paulo Ferreira e Abel –, o mesmo não se pode dizer dos canhotos. Carlos Queirós disse, há poucos dias, que essa é uma das principais lacunas da selecção nacional portuguesa. Eu não acho o problema tão grave como outros – designadamente a ausência de um fio de jogo, de sentido de equipa, de mecanismos colectivos e também a ausência de um avançado centro –, agora que é uma situação desfavorável, é. Quanto a mim há quatro hipóteses e vou citá-las com ordem de preferência: ou se joga com Caneira a lateral esquerdo como aconteceu hoje, frente aos helénicos, na primeira parte; ou se coloca Jorge Ribeiro a cumprir essa função; ou se adapta Paulo Ferreira à faixa esquerda (que não é a sua de origem), como sucedeu na segunda parte do desafio diante da Grécia; ou se dá uma hipótese ao jovem, imaturo e pouco rotinado Antunes. Nomes como Miguelito ou César Peixoto, que já li em algum lado, não me parecem credíveis. Talvez deixasse de fora do Europeu Paulo Ferreira porque não tem jogado; Miguel, Caneira e Bosingwa parecem-me suficientes.
* Defesas Centrais
Aqui não há problemas. Ou melhor, é um problema bom. Há excesso de jogadores para esta posição. E normalmente só se levam 4 às grandes competições. As minhas escolhas recairiam sobre: Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Fernando Meira e Pepe. De fora, custa-me deixar um grande jogador, Jorge Andrade, só que a verdade é que depois da sua lesão nunca mais voltou a ser o mesmo. Além deste, de fora deverão ficar os experientes Nunes e Ricardo Rocha, os ainda jovens Tonel e Ricardo Costa e a promessa Manuel da Costa. Difícil é mesmo constituir a dupla de centrais titular. Aposto na dupla de hoje, composta por Ricardo Carvalho e Pepe. Será vital criar automatismos entre estes dois durante o estágio em Viseu, antes do Europeu.
* Médios
Em teoria, vão ser chamados seis médios centro: dois mais defensivos, dois mais ofensivos, dois box-to-box. Os possíveis convocados? Mais do dobro, pelas minhas contas: treze. É certo que estou a incluir nomes como nunca chamados, como Pelé e Pedro Mendes; e alguns que não têm grandes possibilidades pelas épocas pouco brilhantes que têm vindo a fazer, como Hugo Viana e Tiago. Já exclui quatro. Restam nove: Petit, Costinha, Miguel Veloso, Raúl Meireles, Manuel Fernandes, Maniche, João Moutinho, Carlos Martins e Deco. Quem deixar de fora? Eu deixaria Costinha e Carlos Martins, simplesmente porque acho que a sua utilidade seria pouca. Há nº6 em muito melhor momento do que Costinha, que seria apenas útil pela sua vastíssima experiência (já jogou em França, Espanha e Itália; já foi campeão europeu pelo FC Porto e fez inúmeros jogos internacionais e, mais do que isso, esteve presente em dois Europeus e dois Mundiais), e Carlos Martins é demasiado irregular para ser uma aposta segura (além de que João Moutinho, Simão ou Nani poderão fazer tão bem ou melhor a posição 10). Resta-me excluir um, e não sei bem quem. Possivelmente, Petit. O problema é que, excluindo Petit, o nosso meio-campo fica demasiado verde. Miguel Veloso e Raúl Meireles como nº6 (ambos pouco habituados a estas andanças e sem experiência em nenhuma grande competição de selecções); Maniche e Manuel Fernandes como nº8 (apenas Maniche é experiente, mas Manuel Fernandes provou hoje, nos sub-21, a sua maturidade); João Moutinho e Deco como nº10 (ao contrário de Deco, João Moutinho nunca marcou presença num Europeu ou num Mundial).
O nosso meio-campo está repleto de qualidade. Faltam-lhe os mecanismos e os automatismos próprios de quem joga em equipa para se tornar no meio-campo unido, equilibrado e sólido que Portugal tanto necessita. Disso falarei mais à frente.
* Extremos
Há alguns bons jogadores nesta posição que não terão hipóteses de ser convocados, como Boa Morte ou Duda, pura e simplesmente porque há quatro grandes executantes que têm lugar cativo nesta selecção: Cristiano Ronaldo, Quaresma, Nani e Simão. E não se fala mais nisso, penso eu! Nani e Quaresma deverão lutar por um lugar a titular, tendo em conta que Ronaldo é a estrela e deverá fazer parte do onze em todos os jogos.
* Pontas-de-Lança
O maior handicap da nossa querida equipa nacional, como Carlos Queirós disse. Nuno Gomes, Makukula, Hugo Almeida e Hélder Postiga parecem ser as únicas soluções. Isto, excluindo João Tomás. Quanto a mim, o melhor ponta-de-lança português da actualidade é mesmo Hugo Almeida e, num esquema que usa somente um avançado, ele é, sem dúvida, o meu avançado de eleição. Makukula é um jogador interessante para colocar em campo quando é necessário poder físico na área mas não poderá ser titular porque não tem a mobilidade que se exige ao avançado no nosso modelo de jogo. Hélder Postiga e Nuno Gomes são jogadores que não resultam – está mais que visto – num sistema de um só avançado. Sentem-se perdidos, alheios ao jogo, a tentar criar espaços para ninguém. O primeiro é ainda jovem e tem qualidade, falta-lhe consistência e regularidade. Ao segundo, fustigado por lesões, já começa a pesar a idade e perdeu o fulgor que tinha noutros tempos, tempos em que funcionava a “vitamina selecção”. Longe vão os jogos em que era decisivo com as quinas ao peito. Com um Villa, um Torres, um Henry, um Rooney, um Podolski, um Kuyt, um Babel, um Van Persie, um Baros, ou um outro qualquer, não tenho dúvidas que o nosso ataque seria muito mais mortífero. Mas não vale a pena chorar, é acreditar nos nossos "mininuiss"…
* Ausência de Colectivo - O maior problema de Portugal...
Portugal não apresenta mecanismos, não joga como uma equipa e vive à custa de rasgos individuais dos excelentes jogadores que possui. Matéria-prima não falta: grandes jogadores temos nós! Scolari está a falhar muito redondamente nesta fase de transição da selecção nacional. Começo a concordar com aqueles que defendem a tese de que ele se aproveitou do trabalho de Mourinho para alcançar o que alcançou no Euro 2004 e no Mundial 2006. Agora, sem Costinha, com um Deco em queda e um Maniche mais inconstante, o meio-campo já não é o que era e o motor de Portugal deixou de funcionar. É inacreditável que não tenhamos ganho nenhum jogo, em seis, às selecções da Sérvia, da Finlândia e da Polónia. É inaceitável que o nosso último resultado digno de registo seja a nossa vitória sobre o Brasil há mais de um ano. O que me preocupou ao ver o jogo de hoje frente à Grécia não foi o resultado, foi o futebol apresentado. Temos uma defesa razoável, que, acredito, poderá funcionar muito bem no Europeu após os longos dias de preparação pré-Euro que se vai desenvolver em Viseu e na Suíça; mas do meio-campo para a frente temos um amontoado de jogadores, um grupo de homens desorganizados, desnorteados, com francas dificuldades nas transições, que amiúde se atropelam e desconhecem o seu posicionamento e o dos seus colegas. Dizia eu, ainda há bem pouco tempo, que Cristiano Ronaldo falhava demais, era egoísta e não jogava tão bem na selecção como no Manchester United. Dou agora razão àqueles que contestaram esta minha opinião. Porque, apesar de continuar a achar que Ronaldo poderia produzir muito mais (afinal é o melhor do mundo…), a verdade é que uma selecção com aspirações a chegar a uma final de um Europeu não poderá funcionar através de jogadas individuais, mas sim como um todo, como uma equipa. Porque o futebol é um jogo colectivo e é com um grupo coeso, unido, experiente e conhecedor de si próprio que Portugal poderá chegar longe no Campeonato da Europa. Quaresma joga mal porque não tem jogo para si e não tem para quem cruzar; Ronaldo não rende metade do que podia porque as bolas lhe chegam em más condições. Meira não pode jogar a trinco. E por aí fora... O grande problema de Portugal está na ausência de fio de jogo. E isso, meus amigos, é incompetência do treinador. Parece-me a mim, agora…
Em jeito de conclusão, deixo a minha convocatória para o Euro 2008 (algo irreflectida):
Quim
Ricardo
Eduardo
José Bosingwa
Miguel
Marco Caneira
Fernando Meira
Ricardo Carvalho
Bruno Alves
Pepe
Raúl Meireles
Miguel Veloso
Manuel Fernandes
Maniche
Deco
João Moutinho
Nani
Cristiano Ronaldo
Ricardo Quaresma
Simão Sabrosa
Hugo Almeida
Nuno Gomes
Makukula
De fora, deixo jogadores como: Beto, Rui Patrício; Abel, Paulo Ferreira, Jorge Ribeiro, Antunes, Jorge Andrade, Tonel, Ricardo Rocha, Nunes, Manuel da Costa, Ricardo Costa; Costinha, Petit, Hugo Viana, Pelé, Pedro Mendes, Tiago, Carlos Martins, Duda; Boa Morte, Hélder Postiga, João Tomás, Vaz Tê, entre outros...
O post já vai tão longo, mas fico com a sensação de que ainda tinha tanto para dizer...
FORÇA PORTUGAL !!!
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