No dia 10 de Junho de 1956, em plena cidade de Lisboa, em Congresso da FIFA, decidia-se surpreendentemente que o Mundial de 1962 se iria realizar num pequeno país da América do Sul, aparentemente sem grandes condições para tal: o Chile.
Mesmo depois de muita campanha negativa dos países europeus, a FIFA mostrou-se inflexível, e o campeonato realizou-se mesmo no país da cordilheira dos Andes.

Na fase preliminar assistiu-se a mais um recorde de inscrições, com 57 países. Nesta fase, a selecção portuguesa que já começava a ter bastante qualidade acabaria por não se qualificar, obtendo uma vitória fácil frente ao Luxemburgo em Lisboa, por 6-0, um empate frente à Inglaterra em casa a uma bola, uma derrota em Wembley por 2-0 e uma vergonhosa derrota no Luxemburgo por 4-2...
Como única grande surpresa nesta fase, a eliminação da França, apurando-se no seu grupo a Bulgária.
A caminho da final
Disputado nos mesmos moldes do Mundial de 1958, as 16 selecções apuradas foram divididas em 4 grupos.
No Grupo I, apuraram-se facilmente URSS (2-0 à Jugoslávia, 4-4 com a Colômbia e 2-1 ao Uruguai), e Uruguai (além da derrota com os russos, 2-1 à Colômbia e 3-1 ao Uruguai). A selecção uruguaia estava longe de ser a poderosa formação dos primeiros mundiais e caía logo nesta fase.

No Grupo II, apuraram-se RFA (0-0 com a Itália, 2-1 à Suiça e 2-0 ao Chile) e a selecção anfitriã, o Chile, que além de perder com os alemães, venceu suíços (3-1) e italianos (2-0). Surpreendentemente a selecção transalpina era eliminada e dizia adeus a mais um Mundial. Por outro lado a loucura em todo o Chile era evidente com o apuramento da sua selecção para os quartos de final.
No Grupo III, os campeões mundial, Brasil, venceriam o seu grupo ao bater México (2-0) e Espanha (2-1), além de empatarem com a Checoslováquia a zero. Os checos por sua vez conseguiriam apurar-se pois além deste empate conseguiriam vencer a Espanha por 1-0, perdendo com o México por 3-1. De destacar que no jogo entre o Brasil e os checos, Pélé lesionou-se gravemente, com uma rotura muscular que significou o “seu” adeus ao Mundial.
O Grupo IV foi vencido pela selecção da Hungria (2-1 à Inglaterra, 6-1 à Bulgária e empate a zero frente à Argentina. No segundo lugar ficaram os ingleses que perderam com os checos mas venceram a Argentina por 3-1 e empataram a zero com a Bulgária, apurando-se por ter melhor goal-average do que a Argentina.

Nos quartos de final a Jugoslávia acabaria por afastar de forma algo surpreendente a forte selecção da RFA, vencendo por 1-0, enquanto o Brasil caminhava gloriosamente para mais um título, batendo sem dificuldade a Inglaterra por 3-1. A Checoslováquia venceria os húngaros por 1-0, e a equipa anfitriã mais uma vez acabaria por surpreender, ao vencer a forte selecção da URSS por 2-1. Neste jogo, Yashine esteve bastante mal e não justificou o título de melhor guarda-redes de sempre. Acontece aos melhores...

As meias finais chegavam então, e as melhores equipas e favoritas à final acabariam por triunfar. O Brasil bateria os chilenos por 4-2, enquanto a Checoslováquia venceria a Jugoslávia por 3-1. A final mais que esperada chegava.
A final
Os campeões do mundo tinham possibilidade de igualar o feito da Itália, quando os transalpinos venceram dois campeonatos de seguida na década de 30. Para isso contavam com uma equipa coisa, com grandes jogadores, dos quais sobressaía o homem das pernas arqueadas, Garrincha de seu nome. Do outro lado uma selecção europeia assente mais no seu poderio físico e menos técnico, comandada por Masopust.
Ao contrário do que todos esperavam, os checos não praticaram o futebol totalmente destrutivo que andar a mostrar pelos campos do Chile durante toda a fase final, jogando num futebol aberto, ofensivo, criando imensas oportunidades. O jogo ficou marcado pelos erros do guarda-redes checo que acabou por dar de bandeja o bicampeonato aos brasileiros. Aos 15 minutos Masopust colocava a Checoslováquia na frente do marcador. Porém, 1 minuto após este fantástico golo, Amarildo igualaria a partida numa falha monumental do guarda redes checo, resultado a que chegaríamos ao intervalo.

Após o reatamento, o jogo tornava-se mais equilibrado, com menor pressing dos checos, e a 13 minutos do fim, Zito marcaria o segundo golo dos canarinhos, que acabariam por carimbar o resultado final 6 minutos depois, em mais um monumental frango do guarda-redes adversário. O Brasil era bicampeão!...

O Goleador

Após o Mundial chegou a jogar na Bundesliga mas foi uma figura um pouco esquecida do futebol mundial.
A Figura

O seu clube de coração era o Botafogo e foi ao serviço deste emblema que obteve os seus grandes êxitos extra-selecção. Chegou ainda a jogar no Corinthians e no Flamengo, mas foi no “Fogão” que se notabilizou. Acabou por morrer na miséria, caído no esquecimento.
A equipa ideal
A equipa ideal tal como no Mundial da Suécia, era maioritariamente preenchido por jogadores brasileiros. Assim, a equipa ideal escolhida foi Gilmar (Brasil), Djalma Santos (Brasil), Voronin (U.R.S.S.), Schenellinger (Alemanha), Mauro (Brasil), Masopust (Checoslováquia), Zito (Brasil), Zagallo (Brasil), Garrincha (Brasil), Vavá (Brasil) e Sanchez (Chile).
Curiosidades Atacantes:
- O Mundial chileno esteve prestes a não se realizar pelo simples facto de dois anos antes ter ocorrido um violento sismo numa das regiões chilenas, quase deitando tudo a perder.
- Futebolisticamente falando este foi considerado um dos piores campeonatos mundiais de sempre.
- Foi no Chile a primeira vez que o vulgarmente chamado goal-average foi utilizado como forma de desempate na fase de grupos.
- No URSS-Jugoslávia da primeira fase, o jogador jugolavo Mujic lesionou com imensa gravidade o lateral soviético Doubinski, e foi a delegação jugoslava que “auto-expulsou” o seu jogador, retirando-o de campo, reconhecendo a gravidade da atitude do atleta...

- Este Mundial foi o último em que um jogador nacionalizado pôde integrar a selecção do seu país adoptivo. A partir de então determinou-se que só desfrutariam dessa possibilidade os jogadores que não tivessem participado anteriormente na equipa nacional do seu país de origem (Puskas jogou pela Hungria e pela Espanha, por exemplo...)
- Neste Mundial marcou-se aquele que é até hoje o golo mais rápido de sempre em fases finais de Mundiais. O checo Vaclav Masek marcou para a sua selecção no jogo frente ao México aos 15 segundos de jogo!!
Cá estarei na próxima semana para falar do primeiro grande momento do futebol português de selecções a nível internacional, e do seu brilharete em Terras de Sua Majestade.

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