
Antes de mais um pedido de desculpas pela rubrica não ter sido colocada como seria de esperar na passada 6ª feira, por motivos profissionais e de saúde só me foi possível acabar a mesma hoje. Espero que compreendam.
Novamente na Europa
Seguindo o regime de alternância entre a Europa e a América do Sul, em 1954 decidiu-se que o Mundial seria disputado na Suiça. A decisão deveu-se à não participação do país no conflito mundial da década anterior, sendo a Suiça um país próspero, com boas infra estruturas desportivas.

Inscreveram-se 36 países, que disputaram uma primeira fase preliminar para apurar os 16 finalistas. A selecção portuguesa mais uma vez esteve presente e foi eliminado pela congénere da Áustria, com uma derrota histórica por 9-1 em Viena e um empate a uma bola em casa. Ainda não era desta que os portugueses estavam presentes no seu primeiro grande evento internacional.
Nesta fase preliminar assistiu-se à eliminação prematura da selecção da Espanha, às mãos da quase desconhecida Turquia. Inglória eliminação diga-se, uma vez que a mesma foi por sorteio, após uma vitória de cada uma das equipas e um empate no jogo decisivo.
Caminho para a Final
O sistema escolhido na fase final deste Mundial foi aquele que ainda perdura nos dias de hoje. Uma primeira fase de grupos, em que se apuram equipas para as fases a eliminar seguintes. Neste caso foram apuradas 16 equipas que se distribuíram por 4 grupos. A única curiosidade é que as equipas não jogavam todas contra todas nos grupos, só efectuando 2 partidas. Em caso de empate faziam-se jogos de desempate entre as selecções empatadas. Um sistema bastante estranho como podem imaginar.
No Grupo I, apuraram-se Brasil e Jugoslávia, que venceram na primeira ronda respectivamente México (5-0) e França (1-0), e que empataram entre si a uma bola, apurando-se as duas equipas então para os quartos de final da competição.

No Grupo II, a super-Hungria de Puskas, Kocsis e Czibor venceu facilmente a Coreia do Sul (9-0) e a Alemanha (RFA), por 8-3, demonstrando porque motivo era uma das selecções favoritas à conquista da vitória final. A Alemanha ao vencer a Turquia por 4-1 conseguiu também o respectivo apuramento.
Passando para o Grupo III, os apurados foram o campeão do mundo Uruguai (2-0 à Checoslováquia e 7-0 à Escócia), e a Áustria (1-0 à Escócia e 5-0 à Checoslováquia).
No grupo IV apuraram-se a Inglaterra e a anfitriã Suiça. Os ingleses empataram a 4 bolas com a Bélgica e venceram a Suiça por 2-0, enquanto que os anfitriões depois de baterem a Itália por 2-1 e dos transalpinos terem batido por 4-1 a Bélgica tiveram as duas selecções de disputar um encontro de desempate. Neste jogo a Suiça viria a golear a Itália por 4-1, apurando-se para os quartos de final.
Nos quartos de final a Alemanha batia a Jugoslávia por duas bolas a zero, enquanto os campeões do mundo se afirmavam também como candidatos ao título, batendo os ingleses por 4-2. A Hungria continuava a demonstrar o melhor futebol do torneio e batia por 4-2 a selecção dos nossos amigos brasileiros, num verdadeiro festival magiar. No jogo com mais golos da edição, a Áustria iria bater a selecção anfitriã da Suiça por 7-5 (!). Deixo uma pergunta no ar: será que havia defesas em 1954???...

Nas meias finais, por capricho do sorteio, pensava-se estar perante a verdadeira final antecipada entre Hungria e os campeões do mundo, Uruguai. Num grande jogo de futebol, os húngaros iriam sofrer para eliminar os sul americanos, batendo-os apenas no prolongamento, por 4-2, depois de no tempo regulamentar se verificar uma igualdade a duas bolas. Pensava-se que se tinha assistido a passagem de testemunho e que nada tiraria o título à selecção magiar.
Na outra meia final a Alemanha goleava a Áustria por 6-1, apurando-se para o derradeiro jogo frente à selecção com quem tinha sido goleada na primeira fase (3-8!!).
A Final

Todos os prognósticos davam como certa a vitória húngara para esta final. Os magiares tinham vencido os germânicos por 8-3 na primeira fase, eram uma selecção fantástica, com um futebol apaixonante e irresistível, e não se via na Alemanha argumentos à altura para baterem a equipa de leste. Além de tudo isto a Hungria já não perdia um jogo desde Maio de 1950, ou seja, quatro anos invicta. Nesse período tinham conquistado 27 vitórias e 4 empates. Vida difícil para os alemães, pensava-se.
O jogo iniciou-se com uma forte pressão da Hungria, tal como era esperado, o que fez com que nos primeiros vinte minutos os alemães já estivessem a perder por 2-0. A maioria das pessoas pensavam que se estava perante o mesmo cenário da primeira fase. Uma goleada fácil dos húngaros. Puro engano!... Ainda antes do intervalo os alemães conseguiam inesperadamente chegar à igualdade.

Na segunda parte, um verdadeiro vendaval atacante da Hungria contribuiu para a grande surpresa final. Os húngaros atacavam, atacavam, atacavam, falhavam golos, o guarda-redes alemão defendia tudo, três bolas foram aos ferros, dois jogadores alemães salvaram golos sobre a linha. Os alemães limitavam-se a defender e a usar a sua dureza, a sua força física. E a seis minutos do final do jogo o impensável aconteceu: Schaefer conquista a bola a um defesa magiar, faz um passe fantástico em profundidade para uma zona de ninguém, e aparece em alta velocidade Fritz Walter, cruzando a bola de primeira para o pé direito de Rahn, o herói da partida, que bateu o guarda redes Grosics. E assim terminou de forma inglória a história de uma das melhores selecções de futebol de sempre, a da Hungria, que ficou sem direito a um lugar na história.

O Goleador

A Figura

A equipa ideal
A equipa perfeita desta selecção é maioritariamente húngara, com 6 jogadores. Na baliza temos Grosics (Hungria); Depois na defensiva Santamaria (Uruguai), Varela (Uruguai), Liebrich (Alemanha) e Andrade (Uruguai); no meio campo Boszik (Hungria), Rahn (Alemanha), e Hidegkuti (Hungria); na frente o trio maravilha magiar, constituído por Kocsis (Hungria), Puskas (Hungria) e Czibor (Hungria).
Curiosidades:
- O guarda redes da Hungria foi o primeiro da história a alterar a concepção de guarda-redes como a tínhamos. Foi um jogador que não raras vezes saía da grande área, jogava com os pés, funcionando na maioria dos casos como líbero.
- A média de golos marcada neste Mundial foi a maior de sempre até hoje, com 5.36 golos por jogo. Era o verdadeiro futebol espectáculo.
- Dois anos depois da final, ainda se comentava a derrota histórica da super-favorita Hungria, alimentando-se o boato de que os alemães jogaram dopados no jogo decisivo.
- O relvado onde se jogou a final foi o mesmo em que anos mais tarde o Benfica de Coluna e José Águas bateu o Barcelona de Kocsis por 3-2. No final desse encontro Kocsis afirmaria: “Compreendi finalmente hoje o que aconteceu frente à Alemanha. Pesa uma maldição estranha neste relvado contra todo e qualquer jogador húngaro que o pisa”
- Este foi o primeiro campeonato mundial a contar com transmissões televisivas, facto que a partir desta data contribuiu significativamente para a expansão que o desporto-rei teve em todo o mundo.
Na próxima 6ª feira cá estarei com o próximo Mundial: o primeiro conquistado pelo Brasil, o Suécia 1958.

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