sábado, junho 16, 2007

Até mais, campeão


Quem me conhece sabe que sou um aficionado por futebol. 99,9% dos meus pensamentos estão relacionados com o desporto rei. Como fã, admiro muitas personalidades ligadas a esta modalidade, como Cristiano Ronaldo, Alex Bunbury, Paulo Autuori, Domingos Paciência, Mourinho, ou Bobby Robson. No que diz respeito a ídolos, porém, só tenho um: Vítor Baía. Um atleta de eleição, um guarda-redes fantástico, que tornava fácil aquilo que parecia difícil.
Foi com muita tristeza, portanto, que tomei conhecimento do fim da carreira do único futebolista que eu um dia realmente venerei.




Vítor Baía chegou ao Futebol Clube do Porto, por acaso, aos 14 anos, juntamente com Domingos Paciência. O seu primeiro desafio era chegar à trave, o que era difícil, devido à sua baixa estatura de então. Cresceu com o tempo, e aos 16 anos decidiu que queria fazer o futebol a sua vida.
Não obstante ser titular indiscutível nos juniores do F.C.Porto e da Selecção Nacional, o destino pregou-lhe uma até agradável partida em Fevereiro. Tudo indicava que jogaria em Riade, pelos Sub-20, até que o impensável aconteceu. Mlynarczyck teve um problema grave na clavícula, que praticamente pôs fim à sua carreira, e o malogrado Zé Beto, por sua vez, andava a contas com um problema disciplinar. Só sobrou Baía. Com 19 anos, defendeu a baliza do Porto com todo o profissionalismo e brio a que sempre nos habituou. Na época seguinte, já era o titular indiscutível dos dragões – esteve perto de bater o recorde do mundo de invencibilidade em 91/92 – e assim continuou até a sua saída para Barcelona, em 96.
A 19 de Dezembro de 1990, veio a estreia pela Selecção Nacional. Foi contra os Estados Unidos, na Maia, num jogo em que a equipa de todos nós venceu por 1-0.
Em 1996, depois de ter participado no Euro 96, transferiu-se para Barcelona, naquela que foi, então, a transferência mais cara de um guarda-redes. Na Catalunha, encontrou um campeonato diferente e a camisola do Barça revelar-se-ia pesada. Não obstante, fez uma grande época na Catalunha, conquistando a Taça das Taças e a Taça do Rei. No entanto, na sua segunda época, treinou sob as ordens de Van Gaal, que, por alguma razão, não foi com a sua cara. O momento mais dramático aconteceu aquando de um jogo para a Liga dos Campeões,contra o Dinamo de Kiev, em que o Barcelona foi goleado em casa por 4-0. Esse jogo acabou por ser a morte de Baía na Catalunha. O treinador holandês, que sabia à priori que o guardião português não estava em condições de jogar, insistiu na sua titularidade nesse encontro.
Em 1999, aconteceu o tão desejado regresso às Antas, então por empréstimo. O dia do seu regresso ao seu clube do coração foi emblemático. Avenida Fernão Magalhães foi interrompida, pois os exigentes adeptos portistas levaram-no em ombros.
No regresso ao F.C. Porto, Baía esteve a um grande nível até uma grave lesão, que começou por se manifestar no último jogo de qualificação da Selecção Nacional para o Europeu de 2000. Parou quase até o final da época. Porém, o facto de ter jogado a finalíssima da Taça de Portugal fez com que fosse um dos eleitos de Humberto Coelho para o Euro 2000. Baía, ainda em processo de recuperação, esteve em grande, defendendo, inclusive, uma grande penalidade, nos quartos-de-final, frente à Turquia.
Voltou à Catalunha, onde foi dispensado, regressando, assim, às Antas. Voltou a lesionar-se num treino e só voltou à competição em Dezembro de 2001. Jogou grande parte da segunda volta da época 2001/2002, o que fez com que estivesse presente no Mundial de 2002, de muito má memória para as cores portuguesas.
Antes da partida para o Oriente já havia um grande dilema: Baía ou Ricardo? A escolha do então seleccionador, António Oliveira, foi, obviamente, Vítor Baía, que, em minha opinião, esteve a um bom nível na Coreia do Sul.
Após o desastre por terras do Oriente e com a chegada de Scolari, Baía nunca mais voltou a vestir o mais importante jersey da selecção nacional. As versões são mais do que várias, mas, provavelmente, só Felipão saberá o por quê de não contar com o guardião portista.

Com Mourinho ao leme dos dragões, Baía realizou duas das suas melhores épocas de sempre, premiadas com três títulos internacionais: Taça Uefa, Liga dos Campeões e Taça Intercontinental. Em 2004, ano em que ficou fora do Euro 2004, realizado em Portugal, foi eleito pela crítica o melhor guarda-redes da Europa.
Nos anos seguintes, continuou a fazer épocas de grande nível, até que perdeu a titularidade no F.C. Porto para Helton. Mesmo assim, continuou a ser um elemento fundamental no balneário. Raras foram as vezes, durante a época que agora terminou, que os jogadores Porto não se dirigiram a Baía para festejar um golo.
Embora considerasse que estivesse apto para jogar mais um ano, o jogador com mais títulos no mundo decidiu acabar a carreira ao mais alto nível, com mais um troféu no bolso. Neste momento é o Director de Relações Externas do F.C. Porto. A pessoa indicada para expandir a marca Porto, segundo Pinto da Costa.
Doravante o futebol para mim terá um outro significado. Nunca mais verei o meu ídolo de sempre defender a camisola do meu tão estimado F.C. Porto. Um símbolo dos dragões, uma referência do futebol português. Vítor Baía foi, simplesmente, o melhor de todos os tempos …


P.S. Há cerca de um ano, um amigo meu, de 15 anos, adepto do Porto, recebeu uma bola do seu clube, presente que detestou. Pois digamos que a bola não era bem do F.C. Porto, mas sim de Baía. “Porra, este frangueiro”, frisou António, aquando do visionamento do esférico. Não sei por que razão, mas as jovens gerações afectas ao dragão não têm o mesmo carinho por Vítor Baía que as gerações de outrora.
Eu ainda sou de um tempo em que o mítico guardião passava inúmeros jogos consecutivos sem sofrer um golo. Arrisco-me a dizer que, por exemplo, na época 92/93, o facto de Baía sofrer um golo era tão raro, que poderia dar uma manchete dos três jornais desportivos.
Recordo-me de, com 9 anos, estar a ouvir um relato de um Porto – Braga, que terminou com a vitória dos azuis e brancos por 5-3. Um amigo, benfiquista convicto, soltou, com uma grande dose de imparcialidade, o seguinte comentário, no momento do quinto golo portista: “Marcar três golos ao Baía não é para qualquer equipa”. Mal sabia ele – eu naquele momento desconhecia tal acontecimento – que dois dos golos bracarenses haviam sido marcados através da marca de grande penalidade!

Sem comentários: