A referência estrangeira desta semana foi o primeiro treinador a conquistar um título europeu para o futebol português. O seu nome é Béla Guttmann, e foi o tal treinador que mandou uma praga ao futebol português. Mas já lá vamos, uma coisa de cada vez….
Enquanto jogador, pertenceu ao MTK e alinhou pela selecção húngara nos Jogos de Olímpicos de Antuérpia, em 1924.Por terras belgas, ganhou a consagração olímpica e depois partiu à aventura por terras americanas. Ainda tentou a sua sorte no chamado soccer, mas estava à procura de outras aventuras.
Acabou por fazer coisas extra-futebol, inclusivamente umas apostas na bolsa. O crash de bolsa, em 1929, afectou-o, uma vez que perdeu 55 mil dólares. Saiu dos Estados Unidos, pobre e humilhado, rumo a Viena. E foi lá que se tornou treinador de futebol….
Montou um esquema ofensivo e colectivo, que reinou durante os anos 50 e 60.
Depois de ter sido campeão holandês, italiano, brasileiro e argentino, foi contratado pelo F.C. Porto. Os azuis e brancos queriam afastar o fantasma que Yustrich havia deixado nas Antas. A verdade é que Guttmann ajudou a exorcizar esse fantasma ao ser campeão na sua primeira época no nosso país, no famoso ano de Calabote…..
Contudo, o que se passou a seguir foi tudo menos festivo!
Guttmann troca o F.C. Porto pelo Benfica num processo muito pouco leal. E a seguir o que aconteceu no Benfica, penso que já todos já ouvimos falar….
Ao serviço dos encarnados, Guttman não só ganhou dois campeonatos nacionais, como também foi bi-campeão europeu. A segunda Taça dos Campeões Europeus valeu-lhe o título de comendador dado por Salazar, como também a toda a restante equipa. Ao sair do Palácio de São Bento disse que não continuaria como treinador, pois não tinha capacidade para treinar 14 comendadores. Muitos pensaram que era brincadeira, mas afinal não era, sendo aí que Guttmann lançou tão célebre maldição: «Nem daqui a 100 anos uma equipa portuguesa será bicampeã europeia e o Benfica jamais ganhará uma Taça dos Campeões sem mim...»
Partiu para o Peñarol, onde não teve muito sucesso, voltando a Viena, a cidade onde a sua aventura como treinador começou. Durante uns tempos viveu de subsídios, só que propostas de regresso a Portugal começaram a surgir. Primeiro, foi o Sporting, que Guttmann recusou, por ser um homem de sentimentos, por não conseguir treinar um clube com os mesmo objectivos que o Benfica. Mais tarde, os seus sentimentos não foram suficientes para deixar de exigir ao Benfica números astronómicos para o seu regresso, o que levou os da Luz a contratarem o romeno Elek Schwartz.No entanto, um ano depois, em 1966, regressa efectivamente à Luz. Mas o mago tinha perdido aquela magia que levou os encarnados ao topo da Europa, e acabou por perder o campeonato para o rival da segunda circular..
Concluída mais uma passagem por Portugal, Guttman volta a Viena, onde viveu de subsídios, até à sua morte, que aconteceu em 1981.
De que Béla Guttmann deu um grande contributo para que o futebol português chega-se ao topo, disso ninguém dúvida. As conquistas europeias que efectuou ao serviço do Benfica farão com que o nome de Guttmann fique para sempre na história do futebol português.
«Eu, o treinador mais caro do Mundo, em face dos resultados obtidos, posso dizer que sou o mais barato. Basta ver a escrita do Benfica: quando lá cheguei o clube recebia 2500 dólares por desafio, depois passou a receber 30 mil. Por ter ganho o Campeonato Nacional recebi 150 contos de prémio. Czeizler, depois, ganhou 250 contos e estava instalado num hotel em que o Benfica gastava oito contos por mês. Se o Benfica chegasse a uma situação de ruína financeira, era capaz de treinar o clube sem levar um tostão. Mas como o Benfica está ganhando muito dinheiro com o futebol, só queria comer o que cozinhei. Porque fui eu que cozinhei o Benfica europeu, de que, depois, vieram outros comer. Ganhei o campeonato europeu com jogadores como Neto, Saraiva, Serra, Artur, Mário João... E agora que squadra tem o Benfica? Só Serafim ficou mais caro que todas as aquisições feitas no meu tempo: o Eusébio, o Torres, o Germano, o José Augusto. E não tem jogado. Mas eu é que sou um treinador muito caro...»
Béla Guttmann
Ficha Técnica:
Nome: Bélla Guttmann
26 de Janeiro de 1905 a 28 de Agosto de 1981
Naturalidade: Budapeste
Nacionalidade: Húngara
Clubes que passou como jogador: Törekvés, MTK, Hakoah, New York Giants, New York Hakoah FC, Hakoah All-Stars Brooklyn, New York Soccer Club, Hakoah
Clubes como treinador: F.C. Porto, Benfica, São Paulo, Peñarol, AC Milan, Twende ……
Palmarés como jogador:
3 campeonatos húngaros
1 campeonato austríaco
Palmarés como treinador:
2 Taças dos campeões europeus
3 campeonatos portuguesa
1 campeonato italiano
1 campeonato brasileiro
1 campeonato holandês
1 campeonato argentino
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