O que terão os estudos e o futebol em comum?
Á primeira vista pouco ou nada, mas a realidade mostra-nos uma ligação “complicada”.
O Futebol tornou-se, nos ultimos 15, 20 anos, num negócio milionário, capaz de gerar milhões e milhões.
Uma espécie de maquina de fazer dinheiro, que permite o pagamento de fortunas aos “artistas principais”, os jogadores.
É exactamente este “boom” financeiro no Futebol, que acaba por o tornar num Mundo apetecível não só para empresas, investidores, imprensa, etc, mas também para jovens atletas e pais dos mesmos, que veêm no Futebol, uma forma de obter uma possível estabilidade financeira, difícel de alcançar em qualquer outra profissão.
Assim, num passado recente, assistiu-se á criação de um “mito”: o aspirante a jogador de futebol não precisa da escola, pois o seu futuro está garantido no Futebol.
Milhares de jovens atletas, por opção própria ou por imposição de pais e clubes, desistiram de estudar e decidiram jogar numa espécie de “roleta russa” ao entregar nas mãos do Futebol o seu futuro e a sua estabilidade.
A verdade é que no Desporto Rei são poucos os que triunfam. A percentagem de jovens jogadores que conseguem viver, já na idade adulta, á custa do Futebol é uma percentagem bastante reduzida.
Tomemos como exemplo o Futebol Português.
O Futebol é, de longe, o desporto mais praticado pelos jovens do nosso País.
Quase todos os miudos sonham com uma carreira no Futebol, e uma grande percentagem deles chegam mesmo a tentar a sua sorte.
Quantos acabam por vingar? Muito poucos.
Alguns outros conseguem fazer carreira em clubes secundários, os quais estão longe de pagar salários exorbitantes e, por vezes, ficam a dever meses e meses de honorários aos atletas.
Após 10, 15 anos como profissional de Futebol, o jogador abandona a carreira.
E depois? Será que os salários de 500, 750 euros lhe garantiram estabilidade para o futuro?
Após a carreira, como subsistir se a formação académica é zero, e o mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo?
Vejamos um segundo cenário.
Quantos miudos oriundos das Academias do Sporting, Benfica e Porto acabam por vingar no Futebol?
Quantos deles chegam á idade adulta e veêm-se a jogar em clubes que não lhes garantem estabilidade financeira? Quantos deles são obrigados a desistir do Futebol, como actividade profissional?
Pois é, felizmente tem-se verificado uma desmistificação que se criou em torno do Futebol, como sendo a “galinha dos ovos de ouro” para milhares e milhares de jovens.
Cada vez mais, vemos casos de sucesso numa conciliação entre estudos e desporto.
Cada vez mais, se assiste a uma mentalização dos atletas para que não negligenciem os estudos, a bem do seu futuro.
Nos grandes clubes nacionais existe uma maior exigência no que toca ao ensino. Os clubes exigem resultados escolares.
Com a criação de infrastruturas como os centros de estágio, etc, veio também a aposta em acompanhamento psicológico, acompanhamento escolar, ou seja, toda uma rede de profissionais capaz de orientar e auxiliar os jovens atletas para uma melhor planificação do seu futuro e uma melhor gestão do seu tempo.
Mas não é só nos clubes grandes que se assiste a uma crescente aposta na formação de atletas, mas também formação de Homens.
O Varzim é um excelente exemplo.
No final de Dezembro foi inaugurada no clube nortenho a sala de estudo Dr. Armindo Graça.
Esta sala, situada na bancada norte do Estádio, é destinada ao acompanhamento escolar dos jogadores das camadas jovens, contando desde logo com o apoio dos atletas da equipa sénior.
Esta inauguração, inserida no Projecto Catraia (projecto de formação da equipa varzinista), conta desde logo com o apoio do Grande Colegio da Povoa e do Colégio de Amorim, que poderão ceder professores para apoio pedágogico, e ainda o apoio da Texto Editora que cedeu livros e computadores, o que fez com que o custo do projecto fosse nulo para o clube.
O que torna ainda mais exemplar este projecto é o já citado apoio de alguns atletas da equipa principal, que serão os principais dinamizadores e o principal apoio dos miudos dos escalões de formação da equipa da Povoa do Varzim.
O coordenador do acompanhamento escolar da sala de estudo é Nuno Ribeiro, jogador da equipa sénior, que se encontra a terminar um mestrado na área de ciências empresariais e finanças.
Além deste, mais dois atletas estarão directamente envolvidos no projecto: o capitão Alexandre (está a finalizar o curso de gestão do desporto) e Pedrinho (iniciou o curso de Educação Física).
Aqui ficam as palavras de Alexandre, capitão do Varzim:
“Eles vêem que é possível fazer uma carreira, como eu fiz, e não deixar de estudar. É importante que eles tenham as bases para quando acabarem a carreira terem algo a que se agarrar. Nem todos eles vão ser profissionais: não podemos formar 200 jogadores, mas podemos formar 200 homens”
É, sem duvida, um grande exemplo do rumo a seguir e da forma que os jovens atletas devem encarar a sua “cruzada” no Futebol.
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