domingo, agosto 12, 2007

À procura de um "outro" Drogba


Pela Costa do Marfim crescem as escolas de futebol ilegais. Todos querem ser o sucessor de Drogba, mas são poucos os que têm a mesma sorte.

Por cada canto das ruas de Abidjan, maior cidade da Costa do Marfim, há um jovem sonhador, em tronco nu. Alguns ainda têm um colete de treino, que são doados por empresários libaneses ou por clubes ocidentais.
O negócio de jovens jogadores neste país da África Ocidental está ao rubro, nomeadamente devido à crise económica do pós-guerra. Algumas crianças, que nem o ensino primário completaram, estão a ser seguidas de perto pelos maiores da França, Bélgica, Marrocos e Tunísia.

Empresários libaneses, que outrora se dedicavam ao contrabando de diamantes e de madeira, estão agora voltados para o negócio do futebol. Criam escola ilegais por todo o território costa-marfinense, de modo a negociar os jovens com os grandes clubes do Médio Oriente e Europa.
Para os pais das crianças, esta pode ser uma oportunidade de uma vida melhor. Os próprios filhos ambicionam sair do seu país, que, apesar de ser o maior exportador do mundo de cacau, é um país extremamente instável e violento, então depois de um golpe de Estado falhado em 2002, a Costa do Marfim ficou dividida em dois: o Sul encontra-se sob o domínio do Governo e o Norte, por sua vez, está sob o controlo dos rebeldes. No entanto, esta forma de exploração tem vindo a causar muitas preocupações junto das ONG em África.

Num campo de jogos de terra batida, cerca de 40 rapazes que jogam à bola sob um calor abrasador. O campo é limitado por uma auto-estrada de um lado,e por um monte de entulho por outro. Está cheio de vidros partidos e latas. Os postes das balizas estão enferrujados e emoldurados por ramos de morangueiro.
Dolho Lou Oliver é um dos jovens que exibe as suas qualidades. Cobiçado pelo Lille, vive numa casa com dois quartos, juntamente com mais oito pessoas. Na sua família, Doha é visto como a única esperança para uma vida melhor.
O Presidente da FIFA, Seep Blatter, já criticou severamente os clubes que vasculham o mundo subdesenvolvido à procura de talentos. Considera inclusive que estes se comportam “como neocolonialistas que não respeitam minimamente a herança e a cultura”.

A cidade de Abidjan está rodeada de escolas de futebol, que são controladas por empresários libaneses. Em algumas são cobradas propinas aos pais e exigem 50% do valor da transferência. Muitas dessas crianças faltam à escola para ir jogar futebol. Outras são traficadas para a Europa, ou para o Médio Oriente, com documentos falsos.
Para os empresários, um jovem jogador pode valer mais que um diamante. Porém, a realidade para muitos dos jovens traficados acaba por ser ainda mais pobreza e maus-tratos.
Heather Kerr, delegada da Save The Children na Costa do Marfim, assume que a exploração de jovens futebolistas naquele país está a assumir proporções preocupantes. Heather Kerr acusa os pais deste cenário, pois vêm nos filhos objectos de transição.

Numa outra perspectiva, Sharoub, um empresário libanês, assume que “a escravatura do futebol existe em África” e compara-a com a exploração dos diamantes, ouro e, até mesmo, com a dos povos africanos no passado. E, segundo Sharoub, “por que razão haveria de ser diferente com os jogadores de futebol?”.
Os empresários libaneses, sedeados na Costa do Marfim, acreditam que estão a prestar um bom serviço a todos os adeptos de futebol. Sublinha, inclusive, que é a paixão pelo futebol que mantém a Costa do Marfim unida.


Fonte: Revista Sábado

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