sábado, março 31, 2007

Antevisão do SL Benfica vs FC Porto

Os corações palpitam, a ansiedade cresce, o nervosismo faz-se sentir, enfim o clássico está á porta.
Um Benfica – FC Porto ,por si só, é uma fonte inesgotável de sentimentos e emoções, no entanto quando um classico destes ganha o contorno de puder decidir um futuro campeão, então temos todos os ingrediantes para um jogo impróprio para cardíacos.


Favoritismo

Numa primeira análise, torna-se muito complicado atribuir favoritismos, uma vez que a carga psicológica, a motivação que os jogadores sentem para actuar em jogos desta maginitude, etc por si só afectará o rendimento de cada atleta e em ultima análise de cada equipa.
Num plano puramente teórico e como expliquei tremendamente subjectivo, creio que o SL Benfica parte com algum favoritismo.
Desde logo o factor casa joga a favor do SL Benfica que poderá contar com 60 mil adeptos do seu lado. Por outro lado, o momento motivacional do Benfica é francamente mais positivo do que o do seu opositor, uma vez que a recuperação de tantos pontos de desvantagem e os resultados recentes da equipa choca claramente com a intranquilidade e inconstância que se vive no FC Porto.
Outros factores contribuem para este maior favoritismo do SL Benfica (serão dissecados a seguir) contudo gostaria de voltar a referir que atribuir favoritismos num clássico incorre sempre num grau enorme de subjectividade.

Sport Lisboa e Benfica


O SL Benfica não perde á 12 jogos, está em plena recuperação pontual, conseguiu reentrar na luta pelo título e tem um registo caseiro de grande nível.
Á partida serão estes os primeiros pontos favoráveis aos encarnados.
Mas o que terá levado o Benfica a um maior rendimento, a uma maior consistencia e a um maior equilíbrio entre sectores?
Fernando Santos chegou ao SL Benfica com o claro propósito de actuar em 4-4-2. Afastou os alas que tinha, e começou a pre-temporada a jogar num sistema com 4 médios. Contudo, por uma falta de rotinas e mecanização de um sistema que não era usado no Benfica, as exibições deixaram a desejar, os resultados revelaram-se negativos e a contestação ganhou rosto mesmo antes do início da temporada.
Tudo isto fez abalar as convicções de F. Santos e o caminho fácil foi tomado: “vamos fazer a vontade aos adeptos e vamos jogar no 4-3-3.”
A verdade é que em 4-3-3 o Benfica caracterizava-se como sendo uma equipa banal, atendendo ao seu objectivo final – a conquista do campeonato. Grandes dificuldades nas transições defensivas, previsibilidade ofensiva (como disse recentemente e bem Domingos Paciência num seminário sobre futebol) e uma incapacidade de impor o seu jogo através de um ritmo forte.
Fernando Santos diagnosticou tarde, algo que poderia valer o campeonato, mas já diz o ditado “mais vale tarde do que nunca”. Aproveitando o bom momento de Katsouranis e a sua versatilidade, e aproveitando o “elan” que foi o regresso de Rui Costa (servindo-se quase de desculpa para voltar a apostar no 4-4-2 losango), o Benfica tomou uma nova forma.
Um 4-4-2 bastante seguro defensivamente, com um posicionamento e características muito boas para garantir as compensações defensivas necessárias, dando liberdade aos “fantasistas” para um jogo ofensivo bastante móvel, imprevisivel e menos desgastante quando obrigados a tarefas defensivas.
Com a subida de forma de Karagounis e Miccoli, o Benfica ganhou a dimensão que faltava para ser consistente. Na mesma altura a lesão de Rui Costa vem abrir uma hipotese que a mim sempre me pareceu francamente viável e interessante: Simão de volta ás suas tarefas na formação..como vértice ofensivo do meio campo.
A força deste Benfica reside exactamente nas deficiencias do início de temporada: Imprevisibilidade nas movimentações ofensivas e uma capacidade de compensações defensivas de grande nível.
Teremos certamente um Benfica diferente daquele que defrontou o FC Porto no Dragão.

Esquema: 4-4-2 losango




Pontos positivos

- As boas compensações defensivas asseguradas por Petit, Katsouranis e por vezes Karagounis permitem aos elementos mais ofensivos uma dinâmica e uma movimentação muito mais livre e “criativa” o que acaba por baralhar autenticamente as marcações adversárias. A toda esta movimentação acresce o bom jogo posicional entre os 3 da frente (leia-se: as constantes trocas de posição entre os 3 elementos da frente).

- Karagounis subiu de rendimento. Com isso o Benfica ganha uma dimensão ofensiva maior. Maior criatividade, um elemento mais para provocar os desequilibrios.

- Petit e Katsouranis conseguem de maneira eficaz assegurar as compensações defensivas que se exigem quer nas subidas constantes dos laterais pelos corredores, quer em perdas de bola no momento de construção.

Pontos negativos

- A ausência de um central como Luisão poderá ser nefasta. Para além de se perder uma voz de liderança na defensiva, perde-se alguma experiência. Por outro lado apesar dos excelentes atributos demonstrados por David Luiz, a verdade é que um clássico pesa e o jovem central encarnado poderá acusar a pressão.

- Na realidade do campeonato Português, Nelson acaba por ganhar uma dimensão enorme, uma vez que face ao futebol defensivo e pouco imaginativo apresentado pelas equipas de meio e fim da tabela, o lateral português nunca é realmente testado em tarefas defensivas. Contudo contra o FC Porto e existindo a possibilidade de apanhar Quaresma pela frente, a permeabilidade defensiva do lateral direito encarnado poderá ficar bem exposta.

- O desgaste de efectuar jogos de 4 em 4 dias faz-se sentir na intensidade de jogo. O jogo encarnado dá mostras disso e num jogo contra o FC Porto essa menor intensidade, sobretudo nas 2ªs partes, poderá ser fatal.
Do losango encarnado todos os jogadores actuaram muitos minutos pelas suas selecções na 4ª feira, Petit regressou tocado.

Conclusão

O SL Benfica será uma equipa apostada sobretudo nas movimentações constantes do trio ofensivo. Simão será uma dor de cabeça e procurará através de movimentos de ruptura e/ou deambulações pelas alas surpreender o esquema defensivo portista. Por outro lado, o jogo posicional entre os 3 da frente será certamente uma aposta dos encarnados o que poderá levar á obtenção de espaços e corredores para a bola entrar em zonas de finalização.
O apoio dos laterais, tão sentido em outros jogos, poderá esbarrar numa maior preocupação defensiva se o Porto optar por actuar em 4-3-3.
Caberá a Petit e Katsouranis funcionar com garante de equilíbrio e só com uma boa exibição destes 2, teremos um Benfica realmente forte.


Futebol Clube do Porto


O FC Porto parte com menor favoritismo para esta partida, pois desde logo actua fora de casa.
Se é verdade que durante a primeira metade do campeonato foram muito superiores aos adversários e mostraram uma equipa muito forte, a verdade é que desde a pausa de Inverno têm estado vários furos abaixo, devido sobretudo ao aspecto físico.
Este Porto encontra-se orfão de criatividade, uma vez que apenas um jogador capaz de surpreender e desequilibrar (Quaresma) é manifestamente pouco.
Contudo, e mesmo com este quebra física, á partida a qualidade individual do plantel Portista seria suficiente para equilibrar o handicap de jogar em fora, caso não existissem tantas incógnitas e ausências.
A verdade é que o FC Porto vai disputar este duelo na pior altura possível, uma vez que Pepe e Lucho evidenciam cansaço muscular, Anderson ainda não tem rotina de jogo e Lisandro, elemento chave para o 4-3-3 de Jesualdo funcionar, está de fora. A todas estas dores de cabeça com jogadores “chave”, também Ibson não poderá dar o seu contributo.
Assim, se o 4-3-3 fica comprometido com a ausência de Lisandro, o 4-4-2 fica orfão de médios, uma vez que Ibson está indisponível e Jorginho e Anderson não têm ritmo de jogo.
Como ultrapassar estes problemas?
Jesualdo parte para o encontro com 1 ponto de vantagem, o que por si só lhe garante que o empate não é um mau resultado, uma vez que o Porto acaba o ciclo de jogos com os grandes á frente e a depender de si. Por outro lado, a menor necessidade de vencer concede espaço para que Jesualdo possa apostar numa equipa mais coesa e sóbria, de forma a não permitir uma superioridade númerica do meio campo encarnado.
O 4-4-2, a avaliar pelas opções de Jesualdo em outras partidas ditas grandes, será o esquema a adoptar.
Mas muitas incógnitas (e o factor incógnita reina nos portistas) se levantam.
Quem serão os 4 elementos desse losango? Certa é a presença e o posicionamento quer de P Assunção quer de Meireles. Certo também será a presença de Lucho no 11. No entanto em que posição? Creio que dependerá muito da sua forma física. Se não estiver a 100% dificilmente poderá ocupar o vértice como fez em Londres (frente ao Chelsea) uma vez que será submetido a um desgaste tremendo. Assim, apostaria num Lucho a interior direito contando com Postiga (opção na 2ª parte frente ao Sporting) como vértice, prendendo dessa forma uma possível tendência ofensiva para atacar de Petit e até condicionando os movimentos ofensivos de Katsouranis.
De qualquer forma existe ainda a opção Anderson, a qual parece mais credível para actuar nos ultimos 30 minutos aproveitando o desgaste do meio campo encarnado ou ainda a opção Cech, que poderia ser opção ,como interior esquerdo, para travar as ofensivas de Nelson pelo corredor direito.
Na frente não restam duvidas: Quaresma como vagabundo e a procurar as alas (sujeito a uma menor participação e rendimento) e Adriano para segurar jogo e procurar zonas de finalização.
O FC Porto apanha o SL Benfica na pior altura, no entanto por aquilo que demonstraram durante grande parte da temporada e pela forma inteligente e “venenosa” como jogaram em Londres partem para Lisboa com boas possibilidades de vencer, ou não se tratasse de um derby de desfecho sempre imprevisível. O grande tónico será a certeza ,em caso de vitória, de arrumarem praticamente com o campeonato.

Esquema: 4-4-2 losango




Pontos positivos
- A capacidade de decisão de Quaresma. Se estiver nos seus dias poderá tornar-se impáravel.
- A segurança defensiva da equipa Portista.
- A capacidade atlética de Bosingwa que poderá ser um jogador chave para dar profundidade á ala direita do Porto (algo que falho frente ao Sporting).

Pontos negativos

- As incógnitas em relação á condição física de jogadores como Pepe, Lucho e Anderson
- A lesão de Lisandro condiciona o 4-3-3, a condição física de Ibson, Jorginho e Anderson condicionam o 4-4-2.
- Apesar de parecer o sistema indicado, o Porto revela menos rotinas no 4-4-2, e já diz o ditado: “a equipa que for mais fiel ás suas rotinas tem mais hipoteses de vencer).

Conclusão

O FC Porto apresenta muitas incógnitas quer em termos de condição física dos seus atletas quer no onze e esquema a adoptar.
Contudo, será muito provavelmente um Porto dependente do brilhantismo de Quaresma e ao ritmo de Lucho.
Ao apostar no 4-4-2, o Porto irá apresentar-se como uma equipa mais sóbria e pragmática, procurando explorar um adiantamento dos encarnados apostando em rápidos contra-ataques.
A julgar pelo que se viu em Londres frente ao Chelsea, a segurança defensiva parece garantida mas o caudal de jogo ofensivo poderá ressentir-se.


Acima de tudo que seja um grande espectaculo, com grande fair-play dentro e fora do relvado e com uma arbitragem sem casos e justa.

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