domingo, outubro 29, 2006

Dragões Vs Águias



Estádio do Dragão, cidade do Porto
Assistência: 50.233 espectadores
Árbitro: Lucílio Baptista


Visão Azul e Branca

A conclusão que tiro do jogo de ontem é que foi um verdadeiro clássico.
E foi assim porque tivemos todos os ingredientes para tal: Nervosismo inicial, um grande ambiente no estádio com grande movimentação de adeptos, excelentes coreografias, muitas vozes a cantar, confiança, golos, alegria, grandes golos, acalmia, desconfiança, desilusão, crítica, balde de água fria, descrença e por fim, a grande explosão de alegria.

No aquecimento dos jogadores pudemos ver a constituição inicial das equipas, tentar imaginar quais os impulsos dos treinadores ao escaloná-las e sonhar com o que se passaria durante o jogo.
Por parte do FCP, que é a que me compete, foi com um sorriso nos lábios que vi Paulo Assunção a aquecer, mas esse sorriso tornou-se em crença quando vi que Raul Meireles estava fora dos onze; Não porque não goste dele, mas porque, aquando da passagem do esquema adoptado por Adriaanse para o 4x3x3 de Jesualdo, eu preferia que esta alteração fosse, nessa altura, a tomada pelo treinador do FCP. Ainda mais porque os dois nos onze ainda não funcionam, tal como foi visto em Alvalade e como se pôde ver na segunda parte, mas já lá vamos. E assim, teria eu a oportunidade de ver esta alteração logo neste clássico. A minha confiança ficou tanto ou mais redobrada, que me fez dizer a quem estava a ver o jogo comigo que o FCP, assim, com aquele esquema, ganharia mais facilmente.

Começou o jogo, de forma equilibrada, mas cedo o FCP tomou conta dele, e de que maneira! Fruto de uma pressão muito, muito alta, de uma compensação inexcedível entre jogadores, de “secagem” das linhas de passe, o FCP dominava e obrigava o Benfica a errar, a falhar passes, mas mais importante, não deixava o adversário atacar nem ter a bola no seu poder, recuperando-a facilmente para encetar os seus ataques.
As coisas saíam bem ao FCP e depois de uma ameaça inicial com um livre de Anderson, Postiga marca um golo de sorte, tabelando ainda a bola em Lisandro, desviando-a de Quim até ao fundo das redes.
As coisas começavam a parecer fáceis e com variadíssimos momentos de beleza entre os mais jovens do FCP, avizinhava-se rapidamente novo golo, estando o Benfica completamente perdido e sem capacidade de se compor. Quaresma endiabrado fez o quis, com quem quis, à hora que quis. Um lance de génio ia fazendo o golo do campeonato e ainda estamos na 8ª jornada, um cruzamento de trivela a dar seguimento a um passe de calcanhar de Anderson, para a cabeça de Lisandro, um remate algo defeituoso depois de um contra-ataque exímio e mortífero, novo lance de génio sobre Nelson, com remate a traduzir-se em golo, um canto que quase saía directo, enfim, Quaresma estava nos seus dias, convidava todos os seus colegas a estar e punha as bancadas em perfeito delírio.
O FCP sufocava por completo o Benfica, até que uma tragédia grega atingia Anderson, que se viu obrigado a abandonar o encontro com uma fractura do perónio(!!), sabe-se lá até quando. Esperemos que seja por menos tempo do que Lisandro esteve parado na época passada, atingido pela mesma tragédia, mas com outro intérprete, num jogo entre as mesmas equipas, arbitrado pelo mesmo árbitro que, desta feita, nem falta marcou. Raul Meireles entrou em jogo para colmatar esta falha, e foi aí que residiu a fraqueza demonstrada pelo FCP a partir desse momento.
O FCP deixava o adversário avançar mais no terreno já que a pressão não era feita tão alta, deixava-o pausar e pensar o ataque perdendo menos bolas e assim, as coisas começavam a ficar mais equilibradas. De tanto ver os companheiros brilhar, Helton decidiu ser ele a manter a vantagem de dois golos, com duas intervenções indescritíveis, a remates de Fonseca e Paulo Jorge, lances estes que começaram pelo lado esquerdo do ataque benfiquista, onde Fucile se deixou ultrapassar com facilidade, escorregando imenso e sendo pouco “dobrado” pelo central, neste caso Pepe.
O intervalo chegava, as emoções acalmavam e recordavam-se os grandes momentos passados.
A segunda parte chega com o FCP a entrar melhor até que Fernando Santos decide mudar o que tinha feito, tirando um avançado para colocar um centro campista. O jogo equilibrou e virou logo a seguir, passando o Benfica a dominar a seu belo prazer o encontro. Isto deveu-se à superioridade a meio campo, mas essencialmente à passagem do ataque exclusivamente pelas laterais para o centro, com a inclusão de Nuno Assis, que diminuiu assim o hiato criado por um meio campo constituído por dois médios defensivos e dois alas, sem qualquer transição defesa-ataque, a não ser pelas linhas, deixando o centro do terreno entregue ao FCP. Como disse anteriormente, a pressão deixou de ser alta, a incompatibilidade entre Paulo Assunção e Raul Meireles assumiu-se e a superioridade numérica a meio campo registou-se, deixando agora, o FCP algo perdido naquela parte do terreno.
Surge o golo do Benfica, de um lance fortuito, de bola parada, em que Lisandro sai do sítio por onde a bola entra. Mais domínio do Benfica, mais perigo, mais descompensação por parte do FCP, mais desnorte e Jesualdo parado.
Numa perda de bola, mais um ataque do Benfica, pouca pressão sobre o jogador que tinha a bola e Nuno Gomes dá a todos os portistas um grande balde de água fria, empatando o encontro. Até final o empate interessava ao Benfica, mas num último fôlego Bruno Moraes dá a vitória ao FCP, trazendo de volta as emoções.

Conclusão
Este foi um clássico com todos os ingredientes, o resultado é justo pela diferença de qualidade demonstrada, pelo domínio demonstrado. Traduzindo, o FCP dominou muito mais e com muito mais qualidade na primeira parte, do que o Benfica na segunda. O empate seria aceitável, mas a vitória a surgir, penso que teria de ser aos da casa.

Melhor em campo
Das minhas palavras poder-se-á depreender que escolheria Quaresma, mas penso que Postiga fez um grande, grande jogo, em todos os sentidos. Defendeu, atacou, assistiu os colegas, fez gato sapato de Luisão, marcou e sentiu-se uma grande personalidade e grande confiança dentro de campo. Este é o Postiga de outros tempos e espero que venha para ficar.

Positivo do Jogo
Tanta coisa:
• A genialidade e a alegria dos jogadores do FCP na primeira parte
• Todos os lances disputados por Quaresma
• O ambiente no estádio
• 5 Golos
• As defesas de Helton
• A explosão de alegria com o golo de Bruno Moraes

Negativo do Jogo
• A lesão de Anderson
• A pouca ambição de Jesualdo ao não colocar um substituto para Anderson, como Jorginho, por exemplo
• O desequilíbrio que Fernando Santos provocou no meio campo, com o escalonamento de uma equipa que chegou a funcionar em 4x2x4.

Arbitragem
Não se notou por ela até o Benfica entrar no jogo, na segunda parte. Não teve qualquer influência no resultado, penso que foi sempre bem auxiliado, com excepção a dois lançamentos de linha lateral do FCP que foram dados ao adversário, deixou correr os lances parando pouco o jogo e marcou poucas faltas, ao contrário do que é seu apanágio. Na segunda parte tudo, ou quase tudo isto mudou. Mostrou amarelos a jogadores do FCP somente, apitou toda e qualquer falta com o mínimo contacto e, com isto, empurrou os visitantes para a frente. Contudo, quero dizer que me surpreendeu pela postura da primeira parte e que, repito, não teve influência no resultado.


“Allez, Porto allez, nós somos a tua voz, queremos esta vitória, conquista-a por nós”


Versão Vermelha e Branca

Grande jogo de futebol com um ambiente fantástico, ao qual se juntaram cinco golos, emoção e suspense até ao último minuto.

O FC Porto entrou mandão no jogo. Jesualdo, manteve o esquema ao contrário do que fez em Alvalade e o FC Porto enquanto teve Anderson em campo foi muito superior aos encarnados. Pensava-se que Fernando Santos poderia fazer jogar Paulo Jorge em vez de Kikin e voltar ao esquema de 4x3x3, mas o certo é que jogaram os dois e o treinador manteve o 4x4x2, com Simão e Paulo Jorge nas alas e Petit e Katsouranis no miolo, como o grego a ter mais liberdade que o português.
Os jogadores do Benfica entraram nervosos com o ambiente hostil que encontraram, visto que os estádio estava repleto de adeptos do FC Porto, e apenas a espaços se encontravam adeptos encarnados. No entanto o primeiro remate até pertenceu aos benfiquistas, por intermedio de Katsouranis, mas a bola passou ao lado da baliza. O FC Porto respondeu aos 6 minutos com dois bons remates de fora da area, através de Helder Postiga e Lucho Gonzalez, mas nos dois a bola foi à figura de Quim.
O primeiro lance de perigo para a baliza encarnada surgiu aos 9 minutos depois de uma falta apontada por Anderson na direita do ataque azul e branco, mas a bola bateu na barreira e foi desviada para canto, tendo no entanto passado muito perto da trave de Quim. Na sequência do canto , Lucho teve o golo nos pés, mas Quim com uma mancha excelente não o permitiu. O FC Porto dominava o jogo como queria e a defesa encarnada, encostada às cordas, teve bastantes dificuldades para sacudir a pressão.
Sem surpresas chegou então o primeiro golo do jogo, estavam decorridos cerca de 12 minutos. Helton bateu a bola, que foi parar aos pés de Postiga, este recebe de costas para a baliza, roda sobre Ricardo Rocha e remata. O remate teria sido inofensivo, não tivesse batido nas pernas de Lisandro e desviado para o fundo das redes de Quim. Era o delirio nas bancadas do Dragão.
O Benfica respondeu muito tenuemente, apenas com Léo a fazer uma boa jogada pela esquerda, batendo Fucile e rematando ao lado da baliza de Helton. Antes, mais uma excelente jogada do ataque portista a culminar com remate de Quaresma, que sai muito perto do poste de Quim. era o prenúncio do que se iria passar cinco minutos depois. Aos 20 minutos, o árbitro não assinalou uma falta de Fucile sobre Petit, a bola sobrou para Anderson que iniciou o contra-ataque, e depois de algumas tentativas falhadas da defesa encarnada para afastar a bola da baliza, esta caiu nos pés de Quaresma que com um remate em jeito, bem ao seu estilo, fez o segundo da noite, e mais uma explosão de alegria para os adeptos azuis e brancos.
Minutos depois, o acontecimento que iria mudar o rumo do jogo. Numa disputa de bola entre Anderson e Katsouranis, o prodigio brasileiro sai lesionado. Ainda tentou reentrar, mas acabaria por ter que ser substituido por Raul Meireles. A partir deste momento o FC Porto apenas teve mais uma boa jogada de perigo, envolvendo quase toda a zona atacante do FC Porto em troca de bola e culminando com o remate de Quaresma à figura de Quim. O Benfica aproveitou bem algum desacerto do meio campo portista depois da saida do brasileiro, e cresceu. Aos 37 minutos de jogo grande oportunidade de golo para os benfiquistas. Paulo Jorge e Simão tinham trocado de flancos e foi dos pés do primeiro que saiu a bola que foi parar a Kikin Fonseca que fez o que lhe competia, com Helton a responder com excelente defesa já em esforço. O FC Porto sentiu a pressão e foi Fucile ao antecipar-se a Nuno Gomes depois de centro de Paulo Jorge, que evitou mais uma jogada de perigo para a sua baliza. Já em cima do intervalo, foi Paulo Jorge que desperdiçou nova oportunidade, depois de boa jogada de Léo com Nuno Gomes a deixar passar a bola, com Helton a fazer nova grande defesa. O intervalo chegava com o Benfica a equilibrar as contas e a dispôr de duas grandes oportunidades nos último dez minutos de jogo. Ficou bem claro que existiu dois FC Porto: um com Anderson em campo e outro sem o jogador em campo.
As equipas vieram dos balnearios como sairam, mas a toada de jogo foi a mesma. Logo a abrir, Helton teve que se aplicar em dois lances. Primeiro a um remate de Petit que saiu junto ao poste, mas o guardião afastou para canto e depois a responder a um cruzamento-remate de Paulo Jorge. Nesta altura percebia-se que o Benfica controlava as operações e que a qualquer momento poderia chegar ao golo.
Fernando Santos operou duas alterações na equipa encarnada aos 54 minutos e aos 62' com as entradas de Nuno Assis e Mantorras, para os lugares de Paulo Jorge e Kikin Fonseca respectivamente. Logo a seguir surgiu o primeiro golo encarnado. Canto apontado por Simão na direita e ao primeiro poste surgiu Katsouranis que desviou a bola para o fudo das redes de Helton. Tantas vezes o cântaro ia a fonte, que alguma vez teria que partir. O Benfica já merecia este golo pela excelente reacção que teve no fim da primeira parte.
E se o meio campo portista estava nervoso, a partir deste momento ainda ficou mais. É que ainda faltava cerca de meia hora para jogar e o Benfica dominava a partida. A um quarto de hora do fim, Jesualdo lançou Tarik no lugar de Quaresma, que tinha desaparecido com a saida de Anderson. Mas era o Benfica que continuava a criar perigo, mas Helton e a defesa portista, com Pepe em destaque iam conseguindo resolver.
Mas aos 82 minutos, grande balde de agua fria no Dragão. Mantorras descobriu Nelson na direita, que fez um cruzamento mortifero para Nuno Gomes desviar no coração da area para o fundo das redes de Helton. Grande explosão de alegria no banco encarnado e nos adeptos benfiquistas presentes no Dragão que tinham chegado em algum número ainda no decorrer do primeiro tempo. Faltavam oito minutos para o fim do jogo e ficou a impressão que se o Benfica pressiona-se ainda mais o conjunto portista, poderiam chegar ao terceiro golo.
Jesualdo em desepero de causa tirou Paulo Assunção e fez entrar Bruno Moraes, passando a jogar os últimos minutos em 4x2x4 e teve bons resultados. Já nos descontos e depois de um lancamento longo de Fucile, grande confusão na área encarnada, que não conseguiu afastar a bola e esta foi parar à cabeça de Moraes que bateu Quim. Era a explosão de alegria no Dragão. Segundos depois o jogo chegava ao fim com a grande festa a fazer-se nas bancadas e no centro do terreno.~

O Melhor em Campo
Helton e Quaresma. O primeiro porque com duas excelentes defesas conseguiu evitar que o Benfica fosse para o intervalo com esperanças em dar a volta ao resultado, e porque foi dele que saiu a bola que deu origem ao primeiro golo do FC Porto. Muito seguro nos cruzamentos e bastante atento nos remates de Petit logo a abrir o segundo tempo e no cruzamento-remate de Paulo Jorge minutos depois.
Quaresma, porque esteve endiabrado no primeiro tempo e deixou a cabeça em água a Nelson. Fez uma primeira tentativa ao quarto de hora do primeiro tempo, e cinco minutos minutos depois acertou mesmo nas redes de Quim. Um grande golo, de levantar o estádio.

O Positivo do Jogo
* A atitude dos jogadores do FC Porto na primeira meia hora, altura em que foram muito superiores ao conjunto benfiquista e depois já nos minutos finais em que encostaram os encarnados às cordas, conseguindo o prémio: o golo da vitória.
* A atitude dos jogadores do Benfica no fim do primeiro tempo e durante toda a segunda parte. Nunca desistiram e foram premiados com dois golos que poderiam ter dado o empate.
* O ambiente no Dragão. mais de 50 mil pessoas num ambiente e colorido fantastico.
* O facto de não ter havido nenhuma expulsão e de um FC Porto-Benfica ter terminado apenas com a amostragem de dois cartões amarelos.

O Negativo do Jogo
* Minuto 30, momento em que Anderson é substituido depois de uma entrada mais rispida de Katsouranis. Sem este jogador o FC Porto perdeu quase toda a magia e dinâmica de jogo ofensivo que vinha mostrando. Alias, é notorio que depois da saida do prodigio brasileiro o FC Porto não mais rematou com perigo, nem criou jogadas perigosas junto da area encarnada.
* A atitude de José Veiga depois de Nuno Gomes ter feito o golo do empate e mais tarde no túnel de acesso aos balnearios. Não era necessario provocar os adeptos do FC Porto daquela maneira.

O Árbitro
Deve ter sido o clássico mais fácil de dirigir para Lucílio Baptista. Apenas dois amarelos e passou despercebido durante practicamente todo o jogo. Errou apenas num ou dois lançamentos que eram a favor do FC Porto e esteve mal no lance que originou o segundo golo portista: Fucile faz mesmo falta sobre Petit. De resto uma arbitragem coerente e sem dualidade de critérios. Os amarelos foram bem mostrados, tendo ficado mostrar, por ventura, um ou dois a jogadores do Benfica, nomeadamente Kikin Fonseca e Petit.




A equipa do Futebol de Ataque (facção benfiquista) presente no Estádio do Dragão:

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