terça-feira, fevereiro 17, 2009

Ainda sobre os novos quadros competitivos!

O Futebol Português, após a última decisão (da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Futebol do passado fim-de-semana), de extinguir em 2010 / 2011 o actual modelo competitivo da III Divisão Nacional, levou definitivamente a maior machadada que alguma vez uma competição com seis décadas de existência podia levar. De facto, os” iluminados” deste novo modelo, deram a conhecer ao País desportivo uma decisão no mínimo bizarra. Pessoalmente, considero que a mesma faz regredir de forma irreversível o nosso futebol por diversos motivos. Entre os quais destaco os seguintes:

a) O enquadramento competitivo deste Campeonato actual e agora extinto, deixa forçosamente de existir, para passar a um outro de muito menor qualidade competitiva.


b) Este novo modelo, leva-nos a uma realidade completamente diferente, sobretudo num regresso ao passado, na justa medida em que irão reaparecer muitos mais campos de terra batida.


c) A III Divisão Nacional, tem sido por maioria de razão o enquadramento competitivo “preferido” de muitos jogadores de Clubes Profissionais que não tendo “espaço” para os enquadrar nos seus planteis, os colocam em equipas de III Divisão, com fundadas esperanças destes poderem melhorar as suas competências e posteriormente poderem regressar à “casa mãe”.


d) A III Divisão Nacional, é um dos cenários competitivos, onde o crescimento do Jovem Atleta se fez ao longo de anos de forma harmoniosa. Como? Através de uma competição completamente diferente (em intensidade competitiva) e fundamentalmente pela “mescla” de jogadores bastante mais experientes (alguns regressados de Ligas Profissionais), logo capazes de lhes transmitirem vivencias muito importantes para a continuidade do seu crescimento.


e) O novo modelo, leva o jovem, bem como outros jogadores, à completa falência da auto-estima e auto-motivação na medida em que vai reduzir drasticamente a qualidade das arbitragens, logo a qualidade da competição.


f) Este novo modelo foi APENAS pensado e executado na base do “aconchego económico” dos clubes amadores, na medida em que se partiu apenas do princípio que se jogarão mais derbys e por consequência haverá mais receitas e ao mesmo tempo menor despesas com a organização de jogos, já que o montante a pagar ás Associações Distritais referente à organização dos referidos jogos, é inferior ao montante que hoje se paga na III Divisão Nacional.


g) Nunca em nenhum momento uma modalidade colectiva como o Futebol pode crescer se, na base da pirâmide, não houver um enquadramento competitivo de qualidade a nível Nacional e nunca a nível Regional.


h) O actual modelo da III Divisão Nacional, é um espaço por onde passaram muitos dos nossos Jogadores Internacionais nas categorias de sub 19, sub 20 e alguns sub 21.


i) Com o novo modelo agora aprovado, a visibilidade da futura competição deixa de ser reduzida para passar a ser nula.


j) O Jogador de Elite só surge na sequência de uma visão competitiva muito mais abrangente (mais competições de topo) e não através de uma competição redutora, como aquela agora aprovada.


k) Será que a estas equipas, agora relegadas para uma competição “menor”, vão continuar a poder participar na Festa da Taça de Portugal?


l) Como vão motivar os treinadores os seus jogadores na próxima época, se quando iniciarmos a competição, sabemos à partida que 90% das equipas já têm o destino traçado (descida de divisão obrigatória)?


m) Como vão muitos clubes lidar com o problema dos Contratos Programa (que ao abrigo dos Regulamentos Desportivos Municipais), celebrados com as suas Autarquias e que através delas recebem milhares de euros por disputarem provas Nacionais e que agora vão passar a receber uma décima parte por se verem obrigados a competir a nível distrital?


n) O que andaram a fazer dezenas de treinadores, que durante anos tentaram melhorar os seus conhecimentos, participando em acções de formação, chegando inclusivamente ao IV Nível do Curso de Treinadores, se a partir de 2010, para orientar qualquer equipa de um Campeonato Distrital, basta apenas estar documentado com o I Nível?


o) Esta decisão, recentemente aprovada, demonstra uma total falta de respeito pelos treinadores, jogadores e dirigentes que durante décadas, lutaram por ver melhoradas as suas condições de trabalho e que através delas, viram também melhoradas as suas competências ao nível do treino e da competição.


p) A ser verdade que o vencedor de cada competição distrital, ascenderá directamente à II Divisão Nacional, como será possível (depois de nela inserido), ter argumentos para esgrimir com jogadores / equipas que têm uma dinâmica de jogo incomparavelmente superior?


q) Resta-me aguardar e ver se de facto, aqueles que “superiormente”engendraram esta “ilustre” decisão, ainda estarão disponíveis para emendar um erro que trará a curto prazo consequências verdadeiramente nefastas para o desenvolvimento do Futebol Português.

Os meus respeitosos cumprimentos,

José Viterbo

(actual treinador da U. D. da Tocha, série C da III Divisão Nacional)

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