sexta-feira, agosto 10, 2007

Referências estrangeiras do futebol luso: Paulo Autuori



A referência estrangeira desta semana foi um dos melhores profissionais brasileiros que já passou por Portugal. Falo-vos de Paulo Autuori, treinador que orientou o Nacional, Vitória de Guimarães, Marítimo e Benfica.

O futebol fez sempre parte da vida de Paulo Autuori, que se licenciou em Educação Física pela Universidade de Castelo Branco, no Brasil. Em 1986, Autuori tem a sua primeira experiência em Portugal, como de adjunto de Marinho Peres no Vitória de Guimarães. Nessa época, a equipa vimaranense fez uma das melhores épocas de sempre, alcançando o terceiro lugar e os quartos-de-final de Taça Uefa. Na época seguinte, Marinho Peres regressou ao Brasil, mas Autuori ficou por Portugal, pois um novo desafio estava no horizonte.

No Verão de 1987, é apresentado no Nacional da Madeira. Na sua primeira época na Pérola do Atlântico, Autuori fez história ao promover os alvi-negros há primeira divisão pela primeira vez. No ano seguinte, os nacionalistas, em estreia absoluta no escalão maior do futebol português, obtiveram um 10ºlugar, à frente do rival Marítimo que se classificou em 12º.
As duas épocas ao serviço dos alvi-negros chamaram à atenção de Pimenta Machado, que trouxe Autuori de volta à cidade berço. As primeiras jornadas da época 89/90 não foram de boa memória. No entanto, o treinador brasileiro conseguiu rectificar as coisas a tempo de levar o Vitória de Guimarães ao quarto lugar e consequente classificação para a Taça Uefa. Contudo, a temporada que se seguiu não foi para recordar, tendo os vimaranenses terminado no 11ºlugar.


O projecto que se seguia englobava um regresso à ilha da Madeira, porém, desta feita, para representar o arqui-rival do Nacional, o Marítimo. Aos verde-rubros, Autuori trouxe aos verde-rubros uma mentalidade mais vencedora e provou que os maritimistas poderiam ambicionar mais do que uma simples luta pela permanência. Isso ficou provado logo na primeira época ao serviço do clube do Almirante Reis: a equipa conseguiu a sua melhor classificação de sempre até então, um 7º lugar, ficando às portas da Europa.


Para o ano que viria, a direcção verde-rubra acreditava que era possível chegar à Taça Uefa e tomou todos os procedimentos para tal. Estagiou na Suécia e contratou jogadores de grande nível como Jorge Andrade e Paulo Alves. A jogar num estilo 4-3-3, com um ataque composto por Ademir, Jorge Andrade e Edmilson, o Marítimo alcançaria pela primeira vez a Taça Uefa. O jogo que qualificou os verde-rubros para a Taça Uefa, ante o Boavista, foi um jogo impróprio para cardíacos.
O Marítimo, que havia, duas jornadas antes, vencido o Sporting por 4-2, colocou-se em vantagem por intermédio de Edmilson. No entanto, os axadrezados viravam o resultado com dois golos de Ricky. Muitos já haviam perdido a esperança e a parcial vitória do Belenenses frente ao Sporting não ajudava às contas verde-rubras. Contudo, Ademir marcou dois golos que mudaram a história do jogo e qualificaram o Marítimo para Uefa.
Ainda antes de alcançar este feito histórico, Paulo Autuori tinha invocado motivos pessoais para regressar ao Brasil e abandonar o Marítimo, notícia que foi recebida com alguma tristeza pelos adeptos maritimistas.

Portanto, Autuori não esteve presente na primeira experiência verde-rubra na Uefa, mas o futuro próximo trá-lo-ia de volta ao clube mais emblemático da ilha da Madeira. Edinho Filho, que havia iniciado o época como treinador do Marítimo, não foi capaz de incutir a mentalidade ganhadora da época anterior e, após uma derrota em casa frente ao Espinho, para a Taça de Portugal, foi demitido. Rui Fontes, o então Presidente do Marítimo, apenas tinha um nome em mente: Paulo Autuori. Assim, o treinador brasileiro voltou ao comando dos verde-rubros a tempo de incutir mais uma vez uma mentalidade vencedora e de manter o estatuto europeu do Marítimo.
A época seguinte, apesar de não ter conseguido o apuramento para Uefa, Autuori voltou a fazer história ao serviço da equipa verde-rubra. Primeiro, ao qualificar-se para a segunda eliminatória da Taça Uefa, onde foi eliminado pela Juventus – numa eliminatória em que Peruzzi foi a figura –, e depois ao conquistar um lugar, pela primeira vez na sua história, para a final da Taça de Portugal, que foi vencida pelo Sporting.

Os adeptos do Marítimo, já mal habituados, foram poucos pacientes com o treinador brasileiro e a sua saída foi inevitável. Em boa hora para Autuori, refira-se, pois voltou ao Brasil para se sagrar Campeão Brasileiro pelo Botafogo, o que levou ao interesse do Benfica. Foi contratado em Dezembro pelos encarnados, embora só tivesse se sentado no banco em Julho. Andou, juntamente com Toni, a preparar a época que viria.
O Benfica traz tudo menos boas recordações para o técnico brasileiro. Antes do final do ano já havia sido despedido e foi sob a sua égide que os encarnados sofreram uma goleada frente o Porto por 5-0, em pleno Estádio da Luz.

Da Luz partiu para o Cruzeiro de Belo Horizente, onde se sagrou campeão mineiro e venceu a Taça dos Libertadores. Depois foi para o Rio de Janeiro, para comandar o Flamengo, voltou ao Botafogo e ao Cruzeiro, passou pelo Santos e o Internacional, fazendo um trabalho meritório.
No Início do novo milénio volta a Portugal e à cidade berço. O Vitória de Guimarães, que havia ficado perto de uma classificação europeia no ano transacto, apostava forte para a nova época. Contudo, as coisas não saíram bem e, ainda antes do mês de Novembro, Autuori foi demitido.

Partiu para uma nova aventura, desta feita no Peru, ao serviço do Alianza Lima, onde voltou às grandes conquistas, vencendo o Torneio de Abertura. No ano seguinte, mudou-se para o Sporting Cristal, do mesmo país, onde venceu o Torneio de Encerramento.
Todo o bom trabalho desempenhado neste país da América do Sul não foi indiferente à Federação Peruana de Futebol e, portanto, pela primeira vez na sua carreira, Autuori comandava uma Selecção. Ao serviço da Selecção do Peru as coisas não correram particularmente, sendo que a equipa peruana classificou-se no penúltimo lugar da zona de apuramento sul-americana de qualficação.
Voltou para o Brasil, a tempo de se sagrar Campeão do Mundo de Clubes, ao serviço do São Paulo. Depois partiu para terras orientais, de modo a treinar o Kashima Antlers, do Japão.
Regressou ao Brasil e ao Cruzeiro, onde se sagrou vice-campeão mineiro. Demitiu-se a 5 de Dezembro de 2006, ano em que foi apontado como substituto de Carlos Alberto Parreira na selecção canarinha, algo que não se confirmou. De momento, treina Al-Rayyan, do Qatar.

Paulo Autuori é um treinador com um currículo invejável, com boas recordações de Portugal. Porém, quando treinou uma equipa grande, neste caso o Benfica, não conseguiu ser bem sucedido. No entanto, este é um treinador que muito admiro, pois foi aquele que, com a melhor equipa verde-rubra de sempre, impôs uma mentalidade vencedora pelos lados do Almirante Reis. Se o Marítimo é hoje uma equipa que disputa os primeiros lugar da Liga Portuguesa, deve-o muito a Paulo Autuori.

Ficha Técnica:
Nome: Paulo Autuori de Melo
Data de nascimento: 25/08/1956
Naturalidade: Rio de Janeiro
Nacionalidade: Brasileira
Clubes que treinou: Nacional, Vitória de Guimarães, Marítimo, Botafogo, Benfica, Cruzeiro, Flamengo, Internacional, Santos, Alianza Lima, Sporting Cristal, Selecção de Peru, Kashima Antlers, Al Rayyan

Palmarés:
Um Campeonato Brasileiro
Um Campeonato Mineiro
Duas Taça dos Libertadores
Um Campeonato do Mundo de Clubes
Um Torneio de Abertura Peruano
Um Torneio de Encerramento Peruano

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