domingo, maio 20, 2007

Histórias dos Mundiais de Sub-20: Arábia Saudita 89


O Mundial de Sub-20 de 1989, realizado na Arábia Saudita, é daquelas competições que ficará para sempre no coração dos portugueses. Pela primeira vez, mostramos ao Mundo que poderíamos vir a ser uma das grandes selecções do futuro. Nesta competição despontaram grandes jogadores, como João Vieira Pinto, Salenko, Sonny Anderson e Simeone.

Na primeira fase da competição houve algumas grandes surpresas:

No Grupo A, a selecção da anfitriã, a Arábia Saudita, foi logo eliminada, embora tivesse vencido a nossa selecção, que já tinha garantido o apuramento nos primeiros dois jogos, por concludentes 3-0, na última jornada. As duas outras equipas do grupo, Nigéria e Checoslováquia, discutiram a outra vaga que estava em aberto. O empate a uma bola acabou por beneficiar os africanos que, assim, se qualificaram para a fase seguinte. Refira-se que os checoslovacos estiveram a vencer até o minuto 72, altura em que NWOSU empatou para a Nigéria.

No Grupo B, os soviéticos qualificaram-se sem muita dificuldade e os colombianos levaram a melhor sobre Síria e Costa Rica, respectivamente, mas graças ao golo avarage.

No Grupo C, os brasileiros venceram os três jogos do grupo, enquanto que os americanos tiveram que suar para estarem presentes nos quartos-de-final.

Por último, no Grupo D, os Iraquianos foram a grande surpresa levarem a melhor sobre argentinos, noruegueses e espanhóis. Os argentinos, à semelhança do que aconteceu no Grupo B, garantiram a qualificação para a fase seguinte graças ao golo avarage.

As classificações da primeira fase proporcionaram os seguintes encontros nos quartos-de-final: Portugal – Colômbia; URSS – Nigéria; Brasil – Argentina; Iraque – EUA. O jogo mais interessante desta fase foi, sem réstia de dúvida, o que envolveu soviéticos e nigerianos. Quando Kiriakov, aos 58 minutos, marcou 4-0 para a equipa da União Soviética, poucos eram que pensaram que o jogo não estava acabado. Enganaram-se, contudo … pois os africanos, ao minuto 84, chegaram surpreendentemente ao 4-4! Na lotaria dos penalties, a Nigéria levou a melhor.
Nos restantes jogos, portugueses, brasileiros e americanos, levaram a mulher sobre os seus adversários, todos pela margem mínima. Destaque para o jogo Iraque 1-2 EUA, dois anos antes do começo da Guerra do Golfo.

Restavam quatro equipas: Portugal, Brasil, Nigéria e Estados Unidos. Os portugueses venceram os brasileiros, por 1-0, e cumpriram o sonho de estar na final. Os nigerianos, por outro lado, só no prolongamento garantiram o acesso à final da competição.

Uma final esperada por poucos. Portugal e Nigéria voltavam-se a encontrar, depois de a selecção lusa ter levado a melhor na fase de grupos. Será que desta vez a história seria diferente?


No mesmo dia da final, os brasileiros garantiram o bronze, ao vencer os Estados Unidos, por 2-0. Na tão esperada final, a história da primeira fase voltou a repetir-se, só que com uma pequena modificação, visto que, desta feita, os heróis lusos venceram a Nigéria, por 2-0.




Melhor jogador do torneio:
O brasileiro Bismarck foi eleito o melhor do torneio. Com três golos e outras tantas assistências, dava gosto ver jogar este jogador. O jogador jogou ao lado de Bebeto no Vasco da Gama e estaria presente na canarinha que esteve no Campeonato do Mundo de 1990, em Itáia. No Japão, ao serviço do Yomiuri Verdy, onde foi eleito o melhor jogador da J-League, em 1993.

Estrelas em ascensão:

Roberto Bonano (ARG), Diego Simeone (ARG), Sonny Anderson (BRA), Bismarck (BRA), Leonardo (BRA), Steffen Freund (GER), Mutiu Adepoju (NGA), Roar Strand (NOR), Fernando Couto (POR), Joao Pinto (POR), Paulo Sousa (POR), Santiago Canizares (ESP), Alberto Ferrer (ESP), Ismael Urzaiz (ESP), Kasey Keller (USA), Youri Nikiforov (URS), Oleg Salenko (URS), Victor Onopko (URS),…
Golos marcados:
81 (2,53 de média)

Melhor ataque:
Brasil,14 golos

Melhor marcador:
Oleg Salenko. 5 golos

Cidades que receberam o evento:
Riade, Dammam, Jidá, Taif

Espectadores:
643,815 (Final: 65,000)

Assistência média:
20, 119


Participação portuguesa:

Nunca o futebol português vai esquecer epopeia de Riade. Dezoito jovens, escolhidos por Carlos Queirós, levaram o nome de Portugal bem altos em terras sauditas. Desde torneio, viria a sair uma grande geração de jogadores, entre os quais João Vieira Pinto, Fernando Couto e Paulo Sousa.

O primeiro jogo dos comandados de Carlos Queirós foi contra a selecção da Checoslováquia. Os lusos suaram para vencer o encontro, só conseguindo o tento da vitória aos 88 minutos, por intermédio Paulo Alves.

As equipas alinharam com os seguintes jogadores:

Portugal: Bizzarro, Abel Silva, Paulo Madeira, Fernando Couto, Morgado; Hélio, Tozé, Filipe (João V Pinto aos 45); Jorge Couto (Paulo Sousa, 7), Paulo Alves, Resende

Checoslováquia: Petrous, Novotny, Vencel, Smeijkal; Majores, Kotulek, Necas, Malatinsky (Ryzek, 45); Lata, Novak (Obsitnik, 89)

No segundo encontro, a nossa selecção garantiu a passagem aos quartos-de-final, com um triunfo sobre uma das favoritas, a Nigéria, por 1-0. Com um jogo inteligente, os lusos garantiram a vitória através de um golo de João Pinto, aos 80 minutos.

As equipas alinharam com os seguintes jogadores:

Portugal: Bizarro, Valido, Paulo Madeira, Fernando Couto, Morgado; Hélio, Tozé, Abel Silva (Folha, aos 45), Xavier; Paulo Alves, João V Pinto

Nigéria: Ikeji, Chinedu, Onvemachara, Charity, Abdullahi; Oladimeji (Bologun, 83), Ugbade, Adepoju, Nwoau; Osondo, Ohenhen

No último jogo da primeira fase, Portugal, já a pensar nos quartos-de-final, deu-se ao luxo de perder por concludentes 3-0, com a anfitriã Arábia Saudita, que, já eliminada, apenas tinha a honra em jogo.


Portugal: Bizarro, Valido, Paulo Madeira, Fernando Couto, Morgado; Paulo Sousa (Folha, 54), Hélio, Tozé, Xavier; Resende (Paulo Alves, 45); João V Pinto

Arábia Saudita: Al Otabi; Al Room; Madani, Al Haribi, Al Muwaine; Al Hammali, Al Haaza, Medawah (Al Debaiki, 81); Al Shamrani (Al Anoud, 81), Al Suraiti, Al Raohi

Os resultados da primeira fase ditaram que a selecção das quinas jogaria com a Colômbia. Vencemos, mais uma vez por um solitário – apontado por Jorge Couto, ao 40 minutos –, e a partir daí acreditou-se que o ceptro poderia vir para Portugal.

As equipas alinharam com os seguintes jogadores:

Portugal: Bizarro; Abel Sousa, Valido, Fernando Couto, Morgado; Tozé, Filipe, Amaral (Paulo Madeira, 83); João V Pinto, Jorge Couto (Folha, 68)

Colômbia: Calero; Velez, Bermudez, Cassiani, Moreno (Castro, 45); Santa (Jimenez, 34), Torres, Restrepo; Osório, Calanche, Munoz

O jogo que seguia, nas meias-finais, era um verdadeiro teste à jovem equipa portuguesa. O adversário era, nada mais, nada menos, o super favorito Brasil. Num jogo em que Bizarro brilhou, os lusos garantiram, com um golo de Amaral, a presença na final e a conquista do troféu estava lá ao pé.

As equipas alinharam com os seguintes jogadores:

Portugal: Bizarro; Abel Sousa, Valido, Fernando Couto, Morgado; Hélio, Tozé, Filipe, Amaral (Xavier, 79); João V Pinto, Jorge Couto (Paulo Madeira, 75)
Brasil: Carlos; Cássio, Moacir, Edson, Rogério, Marcelo Henrique (Assis, 72), França, Leonardo, Bisrmark, Anderson, Sérgio Gil (Gustavo 72)

Chegou o dia da tão ansiada o final e o adversário era Nigéria, que até não era desconhecido dos portugueses, pois, recorde-se, a nossa selecção haviam vencido os africanos por 1-0, na primeira fase do torneio. Na final, os lusos não desiludiram e voltaram vencer a Nigéria, desta feito por 2-0, com golos de Abel Silva e Jorge Couto.

As equipas alinharam com os seguintes jogadores:

Portugal: Bizarro; Abel Sousa, Valido, Paulo Madeira, Morgado; Hélio, Tozé, Filipe, Amaral (Paulo Alves, 87); João V Pinto (Folha, 88) e Jorge Couto

Nigéria; Amadi (Ikeji, 80), Chinedu, Onvemachara, Charity, Elijah; Oladimeji, Obaga, Adepogu, Nwoau; Bologun (Osundo, 48), Ohenhen

Assim, foi a epopeia portuguesa por terras sauditas. Em 1989, nasceu a melhor geração que o futebol português alguma vez conheceu, que nos fez sonhar em tantos momentos.

Por onde andam os heróis de reais?

Foram verdadeiros os heróis os seleccionados de Carlos Queirós. Uns, como João Pinto, Paulo Sousa e Fernando Couto, tiveram carreiras de sonho. Outros, por outro lado, estiveram perto do céu, mas nunca lá chegaram. Recorde-se que nove destes jogadores foram internacionais A: Paulo Alves, Paulo Sousa, Jorge Couto, Hélio, Paulo Madeira, Filipe, João V Pinto, Fernando Couto e Folha.

Brassard – O único convocado para o Mundial de 89, que não foi utilizado. Na altura tinha apenas 17 anos. Foi herói, dois anos mais tarde, em Lisboa, aquando dos penalties na final contra o Brasil. Foi um dos grandes guarda-redes portugueses da década de 90, mas nunca chegou ao topo. Acabou carreira prematuramente devido a lesão, quando jogava no Vitória de Setúbal.

Abel Silva – Abdicou de uma carreira de jogador para se dedicar a uma como treinador. Já teve uma experiência na Arábia Saudita, onde foi adjunto de Mariano Barreto e de Artur Jorge.

Paulo Alves – Um dos grandes pontas-de-lança da década de 90. O seu momento mais alto foi quando representou o Sporting. No ano passado, estreou-se como treinador, ao serviço do Gil Vicente, salvando a equipa de Barcelos da descida … nas quatro linhas, pois, devido ao caso Mateus, os gilistas acabaram por ser relegados para a Liga de Honra.

Paulo Sousa – É um jogador que dispensa apresentações. Teve uma carreira de sonho, representando Sporting, Benfica, Juventus, Borússia de Dortmund, Inter de Milão, Parma, entre outros. Actualmente é o treinador da Selecção de Sub-16.




Morgado – Muitos apostavam nele para lateral-esquerdo do FC Porto. No entanto, nunca vincou nos dragões. Hoje gere uma empresa de construção civil e uma mediadora de seguros.

Jorge Couto – Extremo de grande qualidade, foi uma das grandes promessas do FC Porto. Foi para o Boavista, onde fez parte do plantel axadrezado que se sagrou campeão nacional em 2001. Hoje mantém um conflito com o clube do Bessa, devido a verbas em atraso.

Tozé – Foi o homem que levantou a Taça do Mundo em Riade. Começou e acabou a carreira no Leixões. Ainda passou pelo Tirsense e Alverca.



Hélio- Fez toda a carreira ao serviço do Vitória de Setúbal. Substituiu Norton de Matos como treinador dos sadinos, de onde foi despedido depois da derrota na primeira eliminatória da Taça Uefa.

Xavier – Uma lesão atirou-o prematuramente para a “reforma”. Hoje vive na Marinha Grande, onde gere um armazém.

Paulo Madeira – Defesa central bastante possante e polivalente. Teve o seu ponto alto da carreira ao serviço do Benfica. Em 2000, teve um litígio com os encarnados e foi relegado para a equipa B. Hoje, continua ligado ao futebol, como empresário.

Filipe – Jogou durante vários anos no Sporting, porém nunca se conseguiu afirmar nos leões. Terminou a carreira no Mafra, onde é hoje treinador. Esta época, recorde-se, eliminou o Vitória de Guimarães da Taça de Portugal.

Bizarro – Assumiu a baliza dos sub-20, depois de os serviços de Vítor Baía terem sido solicitados no FC Porto. Esteve durante vários ligados ao Benfica, mas nunca impôs na Luz. Durante cinco anos representou o Marítimo e depois partiu para Espanha. Hoje é treinador do Amares, da III Divisão.

Resende – Dono de um pé esquerdo fortíssimo, as lesões afastaram-no de uma grande carreira. Hoje é treinador de iniciados do Quarteirense.

João Vieira Pinto – Dispensa apresentações. Menino de ouro na Luz, herói em Alvalade, regressou ao Boavista em 2004 e hoje joga ao serviço do Sp. Braga.




Valido – Defesa de grande qualidade, que nunca conseguiu atingir a ribalta. Passou pelo Marítimo e pelo Alverca.




Fernando Couto – Uma das figuras da geração de ouro. Provavelmente o melhor defesa central português da década de 90. Ainda joga, ao serviço do Parma.

Folha – Um ala esquerdo explosivo, que fez grande da carreira ao serviço do FC Porto. Hoje é director desportivo do emblema penafidelense.

Amaral – Passou por clubes de menor dimensão no final da carreira. Neste momento é treinador adjunto de Estoril


Curiosidades:• Criou-se muitas suspeitas em relação à verdadeira idade dos jogadores nigerianos. O seu seleccionador, Olatundo Disu, tratou logo de afastar as dúvidas: “Você já os viu comer? São uns elefantes! Comem, comem e estão sempre cheios de fome. O seu desenvolvimento físico tem a ver com o que eles comem. Pensa que eles comem saladas, arroz? Nada disse. Engolem, em grande quantidade, carne, farinha, muita farinha. E, para além disso, fazem quatro horas de Ginásio por dia”.
• Ao sagrar-se campeão em Riade, Queirós foi convidado para treinador na Arábia Saudita a troco de 5000 dólares por mês. Não aceitou, pois o seu futuro seria outro.

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