sábado, junho 16, 2007

Euro Sub-21: Israel 0 x 4 Portugal


Israel 0 x 4 Portugal

Estádio: Euroborg, Groningen (Holanda)
Assistência: Desconhecida
Árbitro: Zsolt Zsabo (Hungria)


Portugal está de fora do Euro Sub-21! A equipa das Quinas entrou hoje em campo sem certezas quanto à presença ou ausência nas meias-finais da competição. Era necessário vencer por mais do que um golo e esperar que os anfitriões do torneio, Holanda, conquistassem três pontos, com uma vitória frente à Bélgica. Conseguimos massacrar os israelitas mas o empate em Heerenveen carimbou o passaporte a belgas e holandeses, deixando Portugal de fora.

Ainda antes do apito inicial, houve alguma polémica em torno deste jogo. O húngaro Zsolt Zsabo, que apitou o jogo entre Portugal e Bélgica e foi quarto árbitro no Holanda contra Portugal, foi o responsável pela expulsão de José Couceiro diante da Holanda e questionava-se o grau de imparcialidade do senhor de preto de hoje. A arbitragem não foi positiva, contudo, e felizmente, acabou por não ter consequências nefastas, nomeadamente ao nível do resultado final.
Groningen foi o palco de um jogo interessante, absolutamente dominado pelos portugueses. Só a vitória interessava a Portugal e foi com esse espírito guerreiro, batalhador e com clara tendência para controlar que o onze escalonado pela dupla José Couceiro/Rui Caçador entrou em campo.
Quando, aos 9 minutos, Mirallas inaugurou o marcador no desafio que opunha a Bélgica à Holanda, todos ficámos com o coração nas mãos e a réstia de esperança que nos invadia – a nós, portugueses – diminuiu a uma migalha. Porém, três minutos mais tarde, o possante avançado Rigters (holandês) voltou a conceder-nos alguma esperança, ao empatar. Portugal, ao quarto de hora de jogo, tinha qualquer coisa como 70% de posse de bola e estava a actuar de forma avassaladora. Com Paulo Ribeiro na baliza a ter que intervir poucas vezes, os centrais (Semedo e da Costa) apresentaram-se em bom plano, mas é justo oferecer especial destaque ao impressionante luso-francês, Manuel da Costa, perfeito nos cortes e desarmes, no posicionamento e a sair a jogar, cheio de classe (no fim do jogo, chegou a ter um lance individual no lado direito do ataque, passando por três jogadores para ganhar falta). Os laterais, João Pereira e Antunes, emprestaram sempre uma grande força ao ataque já que Ben Sahar, 17 de Israel, era o único “plantado” no meio-campo português. No meio-campo, notou-se uma enorme mobilidade e, desta vez (ao contrário do jogo anterior), os futebolistas sabiam o que tinham que fazer, quais as suas missões. Miguel Veloso apresentou-se mesmo à frente dos centrais, procurando sempre a bola para iniciar as transições, assim como Manuel Fernandes, o segundo homem a contar de trás. João Moutinho foi o nº10, tentando investir pelo meio e flanquear o jogo quando necessário, distribuindo o jogo o melhor que pode. Hugo Almeida, fixo na área de Al Madon, era auxiliado pelos inspirados Nani e Ricardo Vaz Tê que, entre trocas de flancos e diagonais, foram fazendo a cabeça em água aos adversários.
Israel ia encostando o autocarro à baliza, até que o placard se alterou. Depois de Manuel da Costa ameaçar num livre de longe e de Nani fazer um espectacular mas inconsequente pontapé acrobático, foi Manuel Fernandes que inaugurou o marcador: num remate estrondoso, a bola bate na barra e acaba por entrar, estava feito o mais difícil. Mas como uma boa notícia nunca vem só (ou vem?), chegou a Groningen a notícia de que a Holanda acabara de passar para a liderança do marcador por intermédio de Drethe, a Promessa Atacante desta Semana. O médio esquerdo holandês obteve o golo através da cobrança de um livre directo.
Ao cair do pano, eis que o jogador do Bolton, Vaz Tê, mergulha para marcar o segundo. Um cruzamento magnifico do lateral João Pereira e sozinho, “na cara do golo”, Vaz Tê não perdoa e marca de cabeça, com um mergulho a fazer lembrar os melhores pontas-de-lança.
Nani, na primeira parte, acabou por ser o melhor jogador em campo – jogou como melhor sabe, cheio de alegria contagiante, fantasia, pormenores técnicos fantásticos e jogadas individuais e colectivas perigosas.


Veio o intervalo e parece que o técnico português, Rui Caçador (como já referido, José Couceiro foi para a bancada por ter sido expulso no jogo contra a selecção holandesa) deve ter tido um discurso moralizador no balneário pois Portugal entrou ainda com mais garra e pujança, se é que era possível. Logo aos 48 minutos, Miguel Veloso cobra um pontapé livre na extrema direita do campo e faz um cruzamento/remate que acaba por trair o guardião israelita por não tocar em ninguém. A bola descreveu um arco perfeito, a pedir a cabeça de alguém. Isso acabou por não acontecer e foi Portugal que ficou beneficiado. Miguel Veloso fez então o seu segundo golo no torneio, figurando agora no topo da lista de melhores marcadores da competição e tornando-se o melhor da equipa ao nível da finalização.
Mas se o jogo já estava mais ou menos decidido, Nani decidiu sentenciar a partida. Um remate de longe, mesmo à entrada da área, indefensável. O 4-0 estava feito e restava esperar pelos desenvolvimentos do jogo que decorria em paralelo, entre Holanda e Bélgica.
Entretanto, Paulo Machado, melhor marcador do apuramento para o Euro Sub-21 e um dos mais influentes durante essa Fase, acabou por entrar, substituindo João Moutinho estreando-se apenas no terceiro encontro e jogando escassos 30 minutos. Enganei-me ao pensar que Manuel Fernandes iria subir no terreno para permitir ao recém-entrado ocupar o seu lugar. Na verdade, Paulo Machado entrou bem, cheio de fulgor, decidido e chegou a criar perigo com um ou dois remates. Ocupou o lugar de distribuidor e organizador de jogo muito bem, uma faceta que, pessoalmente, desconhecia.
Empolgados pelos golos marcados e pelo que se ia passando em Heerenveen, os jovens lusos iam dando tudo o que tinham para aumentar a diferença e chegar à mão cheia de golos. Hugo Almeida por diversas vezes recebeu cruzamentos mas nunca conseguiu marcar e alguns remates longínquos dos médios tomaram o mesmo fim. O capitão português, presença constante na área adversária, levou um amarelo na primeira parte e, com vista a ir preparando rotinas ofensivas sem o gigante de Bremen, foi feita a substituição: saiu Hugo Almeida, cedendo o seu lugar ao jovem do Valência, João Moreira.
Pouco tempo depois, teve que se proceder à última substituição, esta sem ser premeditada visto ter sido provocada por uma lesão. Bondarv, que entrara pouco tempo antes, entrou de forma duríssima sobre uma das novas coqueluches do Manchester United, Nani, magoando-o com alguma gravidade. Confirma-se somente que é um traumatismo no tornozelo esquerdo. Assim, foi o avançado Silvestre Varela a entrar. Porquê um avançado? Porque se uma boa notícia nunca vem só, uma má notícia também não. No preciso momento em que Nani recebia assistência médica, a Bélgica empatou, com um golo do defesa esquerdo Pocognoli. Foi a notícia do 2-2 em Heerenven, o desgaste físico, a perda da capacidade mágica de improvisação de Nani e a perda de um jogador importante no meio-campo em detrimento de mais um avançado (desligando as ligações entre os três sectores) que ditaram um notório abrandamento do ritmo de jogo. Com a inclusão de mais um jogador para a linha da frente por um jogador de meio-campo, Manuel Fernandes viu-se obrigado a tomar ainda mais a iniciativa, trazendo sucessivamente a bola do sector mais recuado para o sector mais avançado. Sempre com mestria. O jogo estava ganho, por margem mais do que suficiente, e roíam-se as unhas, no banco de suplentes, nas bancadas e nos nossos sofás, ansiando-se por um golo holandês que acabou por nunca suceder. A perto de 20 minutos do fim, Portugal tinha 24 remates feitos contra 2 de Israel. Estes são números que patenteiam a tão já mencionada superioridade sufocante protagonizada por Portugal durante os 90 minutos. A partir da quebra de ritmo, o jogo endureceu, proporcionando cartões. Ainda houve tempo para um cabeceamento de Vaz Tê que bateu no jogador que estava junto do poste, depois de um pontapé de canto, e para uma pequena zaragata entre o nº5 israelita, Keinan e Manuel da Costa que resultou na amostragem de amarelo para cada um dos dois.
Neste jogo, Portugal foi quase perfeito – jogou como uma verdadeira equipa, denotando grande envolvência colectiva e claros progressos no funcionamento da engrenagem. Muito melhores posicionalmente, os centro-campistas portugueses conseguiram definir o jogo com muito mais clareza e não se atabalhoaram como no jogo diante da Holanda. Vários factores podem estar relacionados com a boa prestação “tuga”: os índices de motivação, a inclusão de Vaz Tê e, claro, a menor capacidade da selecção de Israel. Estou, todavia, convicto de que, a este nível nos outros dois jogos, poderíamos ter atingido as meias-finais com relativa facilidade. É pena que a categoria e também a humildade tenham vindo ao de cima tão tarde. Tarde demais, diga-se. Portugal, neste jogo, conseguiu demonstrar o seu real valor. Portugal, neste jogo, conseguiu apagar parcialmente a má imagem que deixou neste Europeu. É triste que não consigamos atingir as meias-finais mas há que erguer a cabeça e tentar perceber o que se passou de negativo. Mesmo assim, com um 4-0 a fechar, parece inglório ficar por aqui. Para a próxima, há que delinear estratégias e um onze base mais cedo e há que saber manter a cabeça no lugar e apresentar mais humildade. Muitos craques não fazem uma equipa e há inúmeras provas disso. Hoje, sim, hoje jogaram como uma equipa. Hoje jogaram como deveriam ter sempre jogado… Mesmo assim, os meus parabéns.
Mais uma vez, foi o médio defensivo de Portugal o melhor jogador no Europeu – se o ano passado tinha sido Raúl Meireles, este ano coube a Miguel Veloso o destaque. Mesmo assim, há que salientar outros nomes como Manuel Fernandes, Manuel da Costa e o trabalhador João Moutinho, além de Nani (se bem que este só tenha aparecido verdadeiramente neste jogo). Já agora, as melhoras para Nani.
Deste modo, Portugal despede-se do Euro Sub-21, ainda sem saber se terá garantida ou não uma presença nos Jogos Olímpicos de Pequim (se Inglaterra se apurar para as meias-finais, o apuramento será feito através de um Play-Off entre os dois terceiros classificados).


Melhor Jogador

Miguel Veloso. Não só ele, mas um dos melhores. Manuel da Costa e Nani estiveram também muito bem, mas a minha grande dúvida prendia-se com a selecção de Veloso ou Manuel Fernandes. O jogador do Benfica fez um jogo soberbo mas acabei por seleccionar o leonino face à prestação global no Europeu e ao facto de Veloso não ter sido sujeito a nenhuma acção disciplinar. Na minha opinião foram os dois melhores jogadores lusos nesta campanha em terras neerlandesas. Quanto à exibição de Miguel Veloso, foi irrepreensível, tanto no aspecto defensivo como ofensivo. Apareceu como “pivot” defensivo na equipa portuguesa mas, com o passar do tempo, Israel começou a retrair-se cada vez mais e não raras vezes o vimos em investidas atacantes, ora em busca de um grande passe, ora do remate de longe. Acabou por ter a felicidade de marcar um golo e tornar-se no melhor marcador português neste Europeu. Mais um jogo pautado por classe, maturidade, técnica, inteligência e uma capacidade posicional muito acima da média.



Arbitragem

O árbitro da partida, Zsolt Zsabo, não esteve propriamente bem, mas não influiu no resultado. O amarelo mostrado a Manuel da Costa é algo incompreensível, mas ridículo foi mesmo o cartão mostrado a Manuel Fernandes, por pretenso jogo perigoso sobre o pobre Al Madon, guarda-redes de Israel. Revelou-se um pouco exagerado na amostragem de cartolinas amarelas. De resto, com uma falha aqui e outra ali, foi mostrando que não é muito mais do que medíocre. Num jogo sem grandes casos também não havia margem para grandes invenções, por isso… uma arbitragem razoável, sem grandes casos e sem possibilidades para ter importância no resultado.


Positivo do Jogo

• Os 4 golos obtidos.
• As belas exibições de Manuel da Costa, Miguel Veloso, Manuel Fernandes, Nani e de outros jogadores portugueses.
• A forma como Portugal mostrou o seu carácter e grande capacidade de dominar o adversário (tarde demais…).
• O jogo colectivo e qualidade ao nível do posicionamento, compensações e passe.
• Os rasgos individuais de alguns dos intervenientes e as excelentes trocas de bola no ataque.
• A atitude dos jogadores (só neste jogo…).
• A forma como Vaz Tê se apresentou após uma lesão – muito bem.
• O facto de Paulo Machado, vital no apuramento, ter participado no jogo.
• A clara supremacia portuguesa no que à estatística diz respeito – posse de bola, número de remates, etc. – tudo dominado por Portugal.


Negativo do Jogo

Resultado insuficiente para cumprir do objectivo primordial que era alcançar as meias-finais da competição.
Apatia e insuficiência qualitativa demonstrada pela selecção de Israel.
• O jogo duro que se começou a praticar a determinada altura por parte dos israelitas.
Lesão de Nani (se bem que o médico da selecção já tenha vindo a público referir que, em princípio, Nani estará apto a um possível jogo de Play-Off).
• Lance, no término da partida, em que o capitão israelita Keinan atinge Manuel da Costa com um empurrão (escusado…).
• Grande número de cartões mostrados.

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