quinta-feira, junho 30, 2005

Defeso: Quadra do ano em que é proibido caçar

Pois bem, quem inventou este termo para a época do ano em que as competições de futebol param, estava totalmente equivocado ou alheado da realidade. Senão vejamos, o defeso, ou a proibição de caçar, é um termo que não se coaduna com todas as movimentações efectuadas até ao do final das competições por parte dos clubes, dos empresários, dos próprios jogadores e acima de tudo dos jornais. Pelo contrário, a época de eleição para “caçar” talentos, contratos, comissões e acima de tudo vendas, é esta, em que os estádios estão vazios, a arbitragem operacional não é polémica, não há jogadores castigados, não há métodos de treino, conferências de imprensa e empolamento de tudo o que mexe, ao invés, está o público mais relaxado e os jornais têm de conseguir atrair a atenção dos adeptos e leitores, nem que seja para isso a venda da banha da cobra, gato por lebre ou mosquitos por cordas. Obviamente que as movimentações dos clubes para tentarem negociar a contratação de jogadores com vista à preparação da época que se avizinha, tendo em linha de conta os objectivos traçados por cada um, é legitima, ao mesmo tempo que deverá ser privada, secreta e muitas vezes dissimulada com o intuito de fazer os melhores negócios, pois o seu sucesso dependerá muito disso, tal como diz o ditado. Não é o segredo nas negociações que fazem com que os jogadores rendam mais ou venham a verificar-se fundamentais para as equipas, mas do envolvimento criado e pretendido pelas partes interessadas no negócio depende o sucesso do mesmo. Todos os dias assistimos a uma panóplia de acontecimentos. Todos os dias assistimos a um trabalho árduo por parte de dirigentes a esticar orçamentos, a esticar as viagens de prospecção de mercado, a esticar os laços de amizade para ganhar reforços para as suas equipas (oriundos das dispensas dos adversários de toda a época), a prometerem mundos e fundos aos sócios, a pedirem mundos e fundos pelos seus jogadores, enfim, ao mesmo tempo que estão no mercado à procura do melhor ao melhor preço, estão no mercado para tentar vender o pior ou o dispensável ao melhor preço também. Para além dos dirigentes temos outro tipo de caçadores, os empresários ou fundos de investimentos. Ora, estas entidades são aquelas que representam e negoceiam os passes dos jogadores, e com as desculpas de que os andam a representar e só querem o melhor para eles, enchem os bolsos da maneira mais fácil possível. Lançam nomes para os jornais, especulam sobre ofertas pelos jogadores, aumentam ou tentam aumentar a concorrência e a especulação à volta dos mesmos e intrometem-se no negócio de outros empresários iniciando guerras impróprias e que em nada beneficia o futebol. Em suma, andam de lado em lado a tentar impingir os jogadores que representam, ou inclusive outros, para dessa forma arrecadar os milhões que os permitem andar de carros de luxo e até de avião particular, embora sendo os menos produtivos no seio do fenómeno futebol. Para além deste tipo de vendedores (profissão com mais procura no “Portugal – país de serviços s.g.p.s” dos últimos anos, e que a meu ver são responsáveis por muito do mal do futebol contemporâneo) existem os jogadores, responsáveis pela parte produtiva do jogo, dos quais dependem os resultados e êxitos do clube que representam, e sem os quais o jogo, os treinadores, as direcções, os clubes, as cidades e os países não podem ser noticia pelos seus feitos futebolísticos. Ora, este tipo de interveniente neste fenómeno “defeso” é cada vez menos importante, havendo sempre excepções: O jogador nunca descarta a possibilidade de ingressar noutro clube e está sempre aberto a uma nova proposta desde que “seja vantajoso para ele e para o clube” (e já agora para o empresário, para o fundo de investimento, para o treinador que não prescinde que e o acompanhe, para o cão, para o gato, etc.). A diferença entre estes jogadores e os jogadores, é que os últimos não precisam de fazer campanha, nem utilizar operações de charme para conseguir contratos adequados e muito menos vir para o jornal dizer que gostava imenso de representar este ou aquele clube, e que o conhece muito bem, que seria um orgulho vestir a sua camisola, entre outras barbaridades tão “escovadas” que até chegam a ser desprestigiantes para quem as profere. Felizmente é o caso só de alguns. Por fim, chega a vez dos jornais da especialidade, ou não. Estes, a par dos empresários, vivem das aventuras e desventuras de todos os outros, subsistem à custa de notícias claras, obscuras, falsas, verdadeiras, inventadas e escalpelizadas de terceiros. Têm só o trabalho de escrevê-las, fazer a impressão, distribuir, esperar que outros as vendam e recolher os lucros. Este agente futebolístico pactua com todos, ao mesmo tempo que não se preocupa se desmente hoje uma notícia que publicou como verdadeira no dia anterior, já que o lucro advém de tiragens diárias. Têm é de vender as suas notícias e escolher as manchetes de forma a provocar o maior impacto no leitor para, atingido o lucro em pouco mais dos 10-15 segundos que demora a venda do jornal, defraudar o leitor com repetidas crónicas de enviados especiais, julgados sabedores de tudo o que se passa nos bastidores das negociações e das movimentações nas frentes de negócio. Pois bem, poderão dizer-me que disso vive a imprensa desportiva em Portugal e no resto do mundo, e que eu sou descrente relativamente a ela, o que não é verdade. Os jornais muitas vezes trazem muitas coisas de bom ao conhecimento público, mas equacionando todos os factores, eu não sei para onde pende a balança. O que eu acho realmente grave no que diz respeito à imprensa, é que não se limitem a publicar notícias, mas sim, a tomar partido de alguém e a tentar denegrir outros.
Posto isto, vou dar alguns exemplos sumários do que estive a escrever. Começando pelos dirigentes, e no que concerne a compras e vendas, o FCP estica a corda para valores nunca antes vistos no clube, para tentar trazer um lateral direito a pedido do treinador e comprar um jogador de 17 anos é um risco muito grande, quase tão grande quanto o valor da transferência. O mesmo acontece com os clubes de menor capacidade de negociação. Não acontece, ou não tem acontecido com o Sporting, que até agora pautou o seu “defeso” por alguma contenção nas compras, apelando sempre para a aposta nas camadas jovens, para a troca de jogadores e maioritariamente a actuar em Portugal. Vamos ver as próximas movimentações. O Benfica, que contratou poucos jogadores, aposta mais em comprar os passes de jogadores que estavam no clube e por mantê-los no seu plantel. Embora as garantias de pagamento ao fisco tenham sido feitas com acções da SAD benfiquista, o que é certo é que ninguém sabe dos valores das transferências de nenhum jogador benfiquista: Simão, Luisão, Nuno Assis, Geovanni, Karyaka, etc. etc. etc.
Relativamente aos empresários, estes tentam fazer o seu trabalho fácil, e só precisam de apanhar uma direcção mais distraída para ter sucesso. Aquilo que se passou com anderson foi de bradar aos céus! Até agora ninguém falava do jogador e de um momento para o outro já havia interesse dos três grande clubes portugueses. Até que ponto isto é verdade eu não sei, e longe de mim pensar em fazer considerações sobre o valor do jogador, mas a pressa com que foi publicada a transferência do passe do jogador para o empresário, seguida da viagem relâmpago para o negociar em Portugal, faz-me pensar que o empresário soube do interesse de algum clube, e sem tempo a perder, foi lá com dinheiro necessário para poder ser ele a negociá-lo e ganhar a sua parte. Ainda com o mesmo empresário, têm vindo notícias publicadas sobre a tentativa de pressionar o clube que Cristiano Ronaldo representa actualmente, com a oferta a outro clube. O fundo de investimento que quer levar o Liedson para o Brasil…Recorde-se que, a maior projecção deste tipo de movimentação teve o seu apogeu com a transferência de Luís Figo para o Real Madrid. Isto é corrente acontecer, Hugo Viana para o Newcastle é outro exemplo, enfim, é um sem número de situações similares que só prejudicam os clubes e em muitos casos os jogadores.
Passando agora para os jogadores, muitos são aqueles que dão entrevistas a falarem das suas situações actuais, em situações futuras, sempre com a calma e com o sol e as férias em pano de fundo, e não é para esse a minha critica. A minha critica é para jogadores como Cicinho, Dédé, Ewerthon, Kléberson e tantos outros que tentam “lançar o barro à parede” dizendo que seria um orgulho em representar este ou aquele clube, para tentar que as direcções dos clubes se enterneçam à volta desta devoção desde pequenos. São tantos os jogadores que dizem que querem ficar nos clubes, como aqueles que só querem mudar de ares quase à força. Eu sei que a carreira de um jogador é mais efémera do que a maior parte das outras, mas em alguns casos é gritante a falta de senso, a desonestidade e o descrédito de alguns jogadores.
Finalmente os jornais. Transporte de toda a informação disponível, falam de tudo sem saber de nada na maioria das vezes nesta época do ano. O que hoje é verdade amanhã é mentira seja qual for o assunto tratado. As novelas que estes órgãos de comunicação social encetam fazem corar qualquer dramaturgo. Assim sendo, e não olhando eu nem sequer para as manchetes do jornal “record”, argumento com as novelas de “a bola” relativamente aos três grandes. Este jornal estabeleceu a novela McCarthy para o FCP, Liedson para o Sporting e o jogador-mundialmente-conhecido-de-fino-recorte-técnico-e-qualidade-inigualável-que-esperava-ansiosamente-um-convite-do-Benfica, para este clube, obviamente. Se no primeiro caso, ao que eu penso, não há condições para o jogador continuar no FCP, pelo que o objectivo, a ser esse, foi plenamente conseguido, e através das notícias do empresário e do jogador, até me pareceu que a divisão do valor da transferência, falada em 6 milhões de euros a dividir por vários elementos, tinha subitamente ganho mais um pretendente. Este caso explica bem tudo o que disse atrás, com a excepção aos dirigentes. Outra novela, desta vez para o Sporting, foi a de Liedson e Enarkahire. Houve até um dia em que disseram que o defesa já tinha assinado pelo Dínamo de Moscovo. O avançado Liedson até já tinha tudo acertado com o Corinthians e já se falava em compensações de jogadores para o plantel leonino. È certo que estas notícias para já são mentira até porque os jogadores já se apresentaram e já trabalham em Alvalade, mas tenho de realçar também que a primeira notícia do defeso, foi uma que já é crónica, e que é a transferência de Beto para Espanha. Sem dúvida, isto dá que pensar. Para o Sporting também, foi reatada a novela Ricardo, que logo após o término do campeonato era dado como certo em Inglaterra e logo a seguir em Espanha. Até fico a pensar que os jornais têm percentagens nos passes dos jogadores. Para acabar com o ataque aos jornais, só falta o Benfica, em que o clube merece destaque em tudo quanto é sitio, até reportagens e fotografias alongadas desmesuradamente do seu presidente em Cabo Verde. Mas isso até nem chateia muito, o que chateia mais é a necessidade que o jornal tem em pôr jogadores com créditos provados no plantel do Benfica, assim como tirar outros jogadores do plantel a preços impraticáveis, atendendo ao valor real dos jogadores. Ricardo Rocha, Luisão, Fyssas e principalmente Karadas são a prova disso, a que se junta Kezman nas tentativas de contratações. Não sei se é prejudicar ou beneficiar os clubes em questão, mas no mínimo, mesmo no mínimo, há uma dualidade de critérios no tratamento.
Aproveito para deixar aqui um comentário sobre a última entrevista do seleccionador nacional, em que disse que assistiu a mais de 10 jogos no estádio do Dragão e que quem começou a “guerra” com o FCP foi o clube. Pois bem, se esteve do estádio do Dragão tantas vezes, nunca nenhum jornal o referenciou ou quem quer que seja, pois presumo que a única vez que lá esteve foi no jogo inaugural do Euro 2004. Ou então esteve lá sem bigode. A guerra com o FCP foi a federação que começou, e sendo ele pago principescamente por ela, é natural que defenda o seu tacho. Quem é que convocou o Bruno Vale quando a celeuma era o Vítor Baía? Quem é que não chamava o Ricardo Carvalho e depois o utilizou como titular até à final a partir do 1º jogo do Euro? Quem é que preteriu do Nuno Valente para retomar o Rui Jorge, voltando depois a desfazer a tentativa? Quem é que teve dúvidas em inserir Deco e Maniche na equipa e que depois não pôde retirá-los? Estas coincidências deixam de o ser a partir do momento em que foi assumida uma colisão com o clube, e não foi assumida só nesta entrevista.

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