Mais uma passagem por Itália e mais uma derrota.
Não queria deixar passar em claro duas coisas que marcam este encontro, antes mesmo de me pronunciar sobre ele. A primeira, a ausência de público afecto ao clube da casa, o que deixou as bancadas para alguns afortunados que tiveram a oportunidade de ver in loco o jogo. Sobre isto, queria dizer que até para quem viu na televisão foi estranho, quanto mais para os jogadores. Não sei se influenciou algum jogador, o árbitro, um treinador, só eles poderão testemunhar, mas que foi singular, isso ninguém tem dúvida, assim como tornou o espectáculo mais pobre.
A segunda, a relva lastimável do campo, inadmissível para um jogo da liga dos campeões, do campeonato italiano ou qualquer outra competição. Se no primeiro caso só os intervenientes directos do jogo podem opinar sobre a influência daquele facto, neste segundo caso todos os que viram o jogo puderam constatar sobre a dificuldade de jogar futebol, num campo que parecia semi-pelado. Mais uma vez digo que é inadmissível e que os clubes que apresentam estas condições tinham de ter um castigo, como por exemplo em Inglaterra.
Passando ao jogo propriamente dito, tenho dois sentimentos distintos: Como é possível o FCP perder com uma equipa que joga muito pouco futebol, apresenta pouco virtuosismo em todos os sectores e tem uns defesas tão banais quanto experientes? O meu segundo sentimento mistura-se com a resposta a esta pergunta: Só é possível porque ninguém explicou aos jogadores do FCP, e muito menos ao seu treinador que defender o resultado não é para ser interpretado no sentido literal do termo.
O jogo começou dividido, com as investidas mais sólidas a serem por parte do FCP, mas sem ocasiões flagrantes. Nem para o FCP, nem para o Inter. Chega o momento do jogo, o golo dos visitantes. Este golo teve tanto de inesperado como de futebol que o sustentasse, mas ao mesmo tempo teve tanto de espectacular como de mérito para um jogador de 21 anos, forte, rápido, possante e que espero que esteja a dar os primeiros passos numa longa caminhada ao serviço do clube. Não me recordo de todos, mas se disser que este foi o melhor golo até agora na liga dos campeões, não devo andar longe. A partir desse momento o FCP entregou a iniciativas de jogo ao Inter para nunca mais o discutir, Inter que teve o momento mais perigoso, até final da primeira parte, num remate de cabeça de Martins à figura de Vítor Baía.
A alteração da estratégia de Mancini foi bem notória, não deixando créditos por mãos alheias com a presença na equipa inicial de Adriano e Martins. As surpresas foram as ausências de Cambiasso e Córdoba de início, e em todo o jogo de Recoba. Por parte do FCP, Adriaanse fez alinhar os onze do fim-de-semana, frente ao Setúbal.Chegada a segunda parte foi ver mais do mesmo. O Inter a ganhar muitos cantos, a ter muita posse de bola, e o FCP a ver, a defender, a atirar bolas para os defesas adversários, como que a dizer: “Tomem lá a bola outra vez, pode ser que desta façam golo”. Pode dizer-se o seguinte, o Inter, apesar de ter muitos e bons jogadores apresenta-se apático, sem ideias e sem ninguém que se mostre inspirado para resolver o jogo. Mais uns cantos, mais posse de bola, mais ataques, mas nada de jeito, até à entrada de Mihailovic, quem diria. Um defesa central, de 3 dúzias de idade que, a par de Recoba, tem o pé esquerdo mais temível de toda a liga italiana. De uma bola sobrante à entrada da área surge o pénalti, cometido por Pedro Emanuel, numa entrada completamente fora de tempo. O segundo golo surge de um canto, em que Júlio Cruz, sim…esse mesmo que deveria ter sido expulso no jogo do Dragão, consegue ganhar de cabeça a Pedro Emanuel, bisando no jogo.
Só há uma conclusão a tirar deste jogo, que deita por terra qualquer dúvida que ainda restasse a alguém, o treinador do FCP sabe o que é a defesa, mas não sabe o que é defender. A ganhar por um a zero e no início da segunda parte tira um extremo para fazer entrar um trinco. Jorginho ia segurando a bola, fazia alguma contenção à espera que chegassem reforços ao ataque e, quanto mais não fosse, prendia sempre um trinco com ele. Ao passar para a ala deixou essa função para Raul Meireles, e então a contenção de bola, a prisão de um trinco adversário e a técnica naquela posição deixou de existir. Não é por acaso que o pénalti foi cometido sobre um trinco adversário, digo eu. Segunda substituição, sai um trinco, Paulo Assunção e entra um defesa central, Bruno Alves. Se reforçou a defesa para a troca entre Adriano e Júlio Cruz, desabitou ainda mais o meio campo, permitindo ainda mais que o Inter pusesse mais contingente no ataque. Última substituição para trocar avançados. A bola chegou a McCarthy por três vezes, e nas mesmas vezes o que ele conseguiu fazer foram três faltas, 100% de eficácia nesse capítulo. Mudar de 4x3x3 para 4x2x1x3 com Lucho a ser o criativo, depois para 5x2x3 inserindo um defesa central para tirar um trinco, que tinha sido a inclusão anterior, é um pouco estranho, para não dizer mais. Em suma, as substituições cavaram um fosso no meio campo do FCP, que se demonstrou ser a razão de não conseguir segurar a vitória, ou até mesmo o empate.
Como criticar simplesmente é fácil, sinto-me obrigado a escrever as alternativas que eu preconizaria. Primeiro, teria jogado de início em 4x4x2, precisamente como há quinze dias. Segundo, no jogo de ontem até poderia ter saído o Alan, mas era para entrar o McCarthy, permitindo a Quaresma ajudar mais aquele que joga na posição de defesa direito, e manter o Inter mais afastado da baliza do FCP. A entrar Raul Meireles e saindo Alan a táctica deveria ter sido 4x5x1 e não 4x2x1x3. A partir desta substituição Jorginho não teve uma bola para jogar, Quaresma teve pouquíssimas e sempre desapoiado, e Hugo Almeida, se não fossem as bolas que eram pontapeadas por Vítor Baía nas reposições, não chegava sequer a tocar mais nela.
O problema não é colocar defesas a jogar, é desproteger outros sectores e deixar a tarefa de defender somente para os defesas. Alguém tinha de segurar a bola longe da baliza o FCP, alguém tinha de a fazer rodar, alguém tinha de fazer faltas no meio campo, alguém tinha de prender a defesa e o meio campo do Inter. Tudo isto faltou nas substituições.
Com três derrotas e uma vitória, faltando duas partidas para disputar, o FCP tem de conseguir 6 pontos, precisamente os que restam, para assim dizer presente nos oitavos de final da competição. Dia 23 do corrente há mais e como bons portugueses vamos estar a fazer contas até à última.
Destaque no FCP para Pepe e Vítor Baía, duas exibições sem mácula, este último a provar aquilo que já todos sabemos, tirando um brasileiro, um presidente de federação e alguns facciosos que por aqui passam. Destaque no Inter para Figo, o único verdadeiramente inconformado, a par do substituto Mihailovic.
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