Nem a propósito do artigo da semana passada e eis que descubro algo que decerto servirá para dar continuidade á questão da existência ou não da “verdade jornalística” no desporto.
O jornal desportivo “O Record” é o jornal desportivo mais lido em Portugal. Pelo menos segundo as estatísticas. Preocupado com a questão da ética, do rigor e da isenção foi o primeiro jornal português a ter um provedor de Leitores. Designada como a “Entidade independente da Redacção, da Direcção e da Administração, que tem por missão assegurar os direitos dos leitores e analisar os conteúdos do jornal nessa perspectiva”, o Provedor de Leitores tem como objectivo primordial atender as reclamações e eventuais críticas dos leitores, bem como receber sugestões, questionando os jornalistas e as chefias sobre eventuais desvios éticos, deontológicos ou técnicos, em suma, deverá ser um elo de ligação entre o jornal e os leitores.
A verdade é que o público ao contrário do repórter não tem nem deve esconder o seu verdadeiro ponto de vista em relação a um determinado acontecimento. Independentemente de ser correcto ou não uma opinião é sempre uma opinião. Já o relato de um facto jornalístico não. Porque “os factos são sagrados e a opinião é livre!”. Debatido que está este tema, só é importante realçar a importância de que “tal como não existe objectividade em estado puro, não existem nos textos jornalísticos fronteiras absolutas entre informação, interpretação e opinião. De qualquer modo, há três níveis essenciais na construção das peças: a apresentação dos factos, que podem ser a divulgação da opinião de terceiros — a informação; o relacionamento desses factos entre si — a interpretação; e o juízo de valor sobre esses factos — a opinião.”( in Livro de Estilo do Público). E porque a relação que o meio de comunicação pretende estabelecer com o leitor exige o respeito pela diferença de códigos entre informação, opinião e entre critérios editoriais que tendem cada vez mais a afastar-se dos seus elementares e autênticos objectivos, resta saber se o público tem real noção e sabe estabelecer a diferença entre o que lê e o que quer ler e entre o que acha ser informação e opinião. Quem lê imprensa desportiva que critérios projecta na escolha do jornal que lê diariamente? “O Record”? “A Bola”? “O Jogo?” que critérios? Pelo facto da sua abordagem incidir mais sobre o emblema que o afecta? Pelo facto da primeira capa ser mais atractiva? Por ser populista? Ou porque é o jornal que se encontra no café quando se lá vai beber a “biquinha”? Que critérios? O jornalismo desportivo envereda cada vez mais para o descrédito, porque o público não se faz ouvir. Pura e simplesmente não querem ter uma voz activa. Mas afinal escreve-se para quem? Com que objectivo? Se não se ouvem vozes, mas dia-a-dia as receitas não param de aumentar, podem ter a certeza que só se continuará a publicar com um só propósito: vender!
Sem comentários:
Enviar um comentário