sexta-feira, março 09, 2007

Referências estrangeiras do futebol luso: Rabah Madjer


A referência estrangeira desta semana é um jogador que ficará para sempre no coração dos adeptos do F.C. Porto, que nunca esquecerão aquele fantástico “calcanhar vagabundo” que lançou os dragões para a sua primeira conquista europeia. Um verdadeiro jogador das Arábias, com uma técnica que encantou portistas e não só.



Oriundo de uma família de 12 filhos, cujo pai era florista e mãe doméstica, cedo se apercebeu que só uma bola lhe poderia resgatar de uma vida à míngua de vento. Começou a jogar no Onalait, clube do seu bairro, como defesa direito. Contudo, devido a marcar muitos golos, o seu treinador fez de si um … avançado. Deu nas vistas e mudou-se para o MAHD. No MAHD, Rabah completou a sua formação, estreou-se como sénior e venceu uma Taça da Algéria.

Em 1982, representou o seu país no Mundial de Espanha, onde marcou o golo da vitória argelina frente à República Federal da Alemanha.

Em 1983, com 26 anos, mudou-se para a cidade luz, Paris, essa mesma, de modo a representar o Racing de Paris. Era, na altura, o jogador africano mais caro…Todavia, a vida por terras gaulesas não foi fácil: queixou-se de lesões e de chauvinismo de racismo. Ainda foi emprestado ao Tours, mas os problemas continuavam.



Em 1985, o seu passe foi oferecido a Pinto de Costa a preço de promoção. Foi em Portugal que a carreira de Madjer, jogador que nunca escondeu os seus ideais – nomeadamente a sua religião –, que a carreira de Madjer ganhou um outro rumo, embora nunca tivesse tido um bom relacionamento com o seu então treinador, Artur Jorge. Devido ao sistema utilizado por Artur Jorge, a fantasia que saía dos pés de Madjer era limitada. Mesmo assim, os adeptos do Porto foram presenteados com momentos de puro deleite, como o calcanhar de Viena e o golo na neve de Tóquio, este último que daria a primeira Taça Intercontinental quer para um clube português quer para o F.C. Porto.

Se Artur Jorge nunca lhe deu a liberdade para a fantasia, então Ivic “cortou-lhes as pernas por completo”.



Acabou emprestado ao Valência, numa altura em que Cruyff fez de tudo para levá-lo para o Ajax de Amesterdão. Em uma meia época na nossa vizinha Espanha, marcou 4 golos, em 14 jogos e regressou às Antas na época seguinte, onde fez uma época razoável. Após o regresso Artur Jorge, as fricções entre os dois continuaram e se nas épocas 88/89 e 89/90 Rabah marcou em 6 e 14 golos, respectivamente, já em 1990/1991 este argelino, que tanto deu ao Porto e à própria carreira de Artur Jorge, raramente era convocado. O treinador português dizia: “Quem teima jogar como quer e não como eu quero … não joga”. E devido a querer libertar a sua fantasia, o que chocava com o estilo de Artur Jorge, Madjer ficou de parte. Partiu, algo magoado, mas com o Porto no coração, e acabou a carreira no Qatar. Logo de seguida, fez-se treinador, começando como adjunto da selecção do seu país e sendo promovido a seleccionador em 1993.



Após treinar a sua selecção voltou a Portugal, para o seu F.C. Porto, onde foi técnico de Departamento de Futebol Juvenil. Ensinou com a mesma magia e paixão com que jogava e esboçou o desejo de um dia treinar a equipa principal do F.C. Porto.

Entretanto, sem concretizar o seu desejo, voltou ao Qatar, mais tarde à sua selecção e volta novamente para o Qatar, mas desta feita para iniciar uma carreira de comentador desportivo no canal Al-Jazeera Sports.



Madjer foi um poeta, cujas musas inspiradoras eram as simples bolas de futebol e todas aquelas pessoas que amam o desporto rei, e que consequentemente vibram com todos mágicos que dão encanto ao futebol. Rabah Madjer, como tantos poetas, no entanto, foi um incompreendido, a quem limitaram a inspiração e a quem, de certa forma, cortaram as asas que o faziam voar.



«De qualquer modo, poderia ter dado contribuição mais valiosa ao F. C. Porto se me tivessem deixado utilizar toda a minha intuição, toda a minha capacidade de improvisação. Só jogava... 65 por cento do futebol que tinha, os restantes 35 por cento eram o que eu gostaria de fazer e... não fazia. Era pena. Sentia que, de repente, poderia fazer um poema com a bola, uma finta, um passe, um golo, mas tinha de subordinar-se a certas indicações, era triste sentir a minha liberdade criativa coarctada. O golo de calcanhar foi fruto da minha intuição. O segundo golo, na final de Tóquio, contra o Penharol, no prolongamento, com que o F. C. Porto conquistou a Taça Intercontinental, também nasceu de um momento de inspiração.»

Rabah Madjer



Ficha Técnica:

Nome: Rabah Madjer (رابح ماجر)

Data de nascimento: 15/02/1958

Naturalidade: Rabat

Nacionalidade: Argelina

Clubes que representou como jogador: Na Hussein Dey, Racing de Paris, Tours, Futebol Clube do Porto, Valência e Qatar SC Doha

Clubes que treinou: Selecção da Argélia, Departamento Juvenil do F.C. Porto, Al Wakrah Club

Internacionalizações: 87 (40 golos)



Palmarés como jogador:

Uma Taça dos Campeões Europeus

Uma Taça Intercontinental

Uma Supertaça Europeia

Três Campeonatos Portugueses

Duas Supertaças de Portugal

Uma Taça da Argélia

Uma Taça das Nações Africanas



Palmarés como treinador:

Um Campeonato do Qatar

Uma Taça do Príncipe do Qatar



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