sábado, abril 16, 2005

ZICO - A HISTÓRIA

A INFÂNCIA

Arthur Antunes Coimbra nasceu às 7h do dia 3 de março de 1953, de parto normal, na casa 7 da rua Lucinda Barbosa, no subúrbio de Quintino Bocaiúva, zona norte do Rio de Janeiro. O caçula dos seis filhos do imigrante português de Tondela, José Antunes Coimbra, com a carioca, Matilde da Silva Coimbra.
O apelido Zico entrou na vida de Arthur ainda na infância. Pequeno e franzino, não foi difícil Arthur virar Arthurzinho e depois Arthurzico. Até que uma prima, Ermelinda, reduziu carinhosamente para Zico. O outro apelido, o de Galinho de Quintino, foi dado anos mais tarde pelo radialista Waldyr Amaral, que se inspirou na forma de andar de Zico.
Mas, características como criatividade e organização. já se destacavam no comportamento dele. O melhor exemplo disso é o facto de Zico ter anotado todos os gols de sua carreira num caderninho.
Por insistência da mãe, chegou a estudar piano e até participou de teatrinhos amadores no colégio. Mas o palco que o esperava era outro, futebol era sua arte.
O próprio Zico só pôde seguir no futebol com a promessa de continuar estudando. Para que isso fosse possível, encarava uma maratona diária da zona norte (Quintino) à zona sul (Gávea) passando pelo Centro, onde ficava seu colégio.

Com 14 anos, Zico era chamado para a disputa de torneios por outras equipes das proximidades, como o Inharé e o Maraviha. Foi quando Germano José Grilo - O Ximango -, criador e incentivador do Juventude, chamou o radialista Celso Garcia para ver Zico jogar num torneio no River Tênis Clube. A intenção era convencer Celso, um rubro-negro influente, a levar o menino para um teste no Flamengo, o que acabou acontecendo no dia 28 de setembro.

A ERA DO FLAMENGO
Zico já era um jovem talento, mas alguns duvidavam de seu sucesso por considerar o Galinho muito franzino aos 17 anos. O fato de ter se desenvolvido pouco fisicamente preocupava alguns dirigentes. Apostando no talento do Galinho, o vice-presidente George Helal convocou uma equipe de especialistas, que implantou um programa inédito de desenvolvimento físico para Zico adquirir massa muscular e aguentar o tranco dos zagueiros. O trabalho teve a coordenação de José Roberto Francalacci, Dr. José de Paula Chaves e José de Paula Chaves Filho. Nos quatro anos seguintes, o Galinho cresceu seis centímetros e ganhou nove quilos.

Zico é o maior artilheiro da história do Flamengo com 508 gols em 731 jogos, e ídolo de uma nação com mais de 35 milhões de torcedores espalhados pelo país. Deixou sua marca 333 vezes no Maracanã, um recorde que ainda não foi quebrado por nenhum outro jogador. Conquistou a Itália nas duas temporadas em que jogou pela Udinese, deixando um tempero de feijoada na tradicional ‘macarronada’.

SELEÇÃO BRASILEIRA
Paralelamente, Zico esteve na Seleção Brasileira em duas Copas do Mundo. Em 1978, o Brasil não foi capaz de superar a Argentina, que venceu na bola e no grito; em 1982, o time encantou o planeta com o futebol arte, sob a batuta de Telê Santana. Mas não ficou com a taça novamente, perdendo a chance de disputar numa inesquecível derrota para a Itália.


O RETORNO DO IDOLO
A volta para o Flamengo ocorreu duas temporadas depois de ter deixado a Gávea. Arthur já era Rei para a torcida Rubro-Negra e seus súbditos esperavam ansiosamente por um retorno triunfal. Mas, no dia 29 de agosto daquele mesmo ano, uma entrada criminosa do zagueiro banguense Márcio Nunes colocou a carreira do craque em risco. O Galinho teve múltiplas lesões nas pernas, principalmente no joelho esquerdo. Retorno aos campos e interrupções na carreira alternaram-se com freqüência, e seriam necessárias quatro cirurgias nos anos seguintes para que Zico continuasse jogando.
A ida à Copa do Mundo de 1986 viria a renovar a coragem e a superação do craque. Alguns duvidaram que ele voltasse a jogar depois da grave contusão. A resposta veio num Fla-Flu no ano da Copa,que mostrou a todos que estava pronto para a copa.

O técnico Telê Santana o levou e quis o destino que um pênalti decisivo contra a França, durante o tempo normal de jogo, acontecesse logo após sua entrada em campo. Ele bateu a penalidade e o goleiro francês defendeu. Vale destacar que a jogada que originou aquele pênalti sofrido por Branco começou pelos seus pés. Após empate no tempo normal, ele voltou a cobrar um pênalti e dessa vez converteu, mas o Brasil acabou eliminado.
Em 1988, Zico ainda participou de 25 jogos, que se somaram aos 32 de 1989. Numa homenagem aos italianos, despediu-se da Seleção com um jogo em Udine, em 27 de março de 89. O Brasil perdeu de 2 a 1 para uma seleção de estrangeiros. Dia 6 de fevereiro, no ano seguinte, com o Maracanã lotado, aconteceu o que a torcida do Flamengo não queria: a despedida com o Manto sagrado. Foi uma festa emocionante e Zico se preparou muito para esse dia. Mas era um até breve, pois o ídolo ainda voltaria aos gramados, do outro lado do mundo.

LEVANDO O FUTEBOL PARA O JAPÃO
Não demorou muito para Zico retornar aos gramados. Em maio de 1991, aceitou convite para a missão de desenvolver o futebol no Japão. Atuar no Sumitomo Metals, que depois mudaria de nome para Kashima Antlers, e montar a estrutura para a embrionária J-League. O Galinho voltou às origens, ou seja, aos campos de terra batida e futebol amador. Não demorou muito para que os japoneses se rendessem ao seu talento. E, assim como aconteceu no Brasil, o Galinho conquistou o povo. Recebeu o apelido de Jico San. Marcou lindos gols com a camisa 10 do time vermelho e azul, dois deles que estão entre os mais bonitos da sua carreira, ambos em 1993.

O futebol japonês e o Kashima rapidamente cresceram. Zico conquistou títulos e o reconhecimento pelos serviços prestados aconteceu na festa de despedida. Os japoneses transformaram sua despedida definitiva dos gramados em um carnaval (1994), construíram duas estátuas, e o imperador entregou a ele uma comenda pelos serviços prestados ao país.

A prova maior de confiança, no entanto, aconteceu no ano passado, quando lhe deram a árdua missão de assumir o comando da seleção nacional que busca a vaga na Copa de 2006. Dos tempos de jogador, vale ainda destacar a reverência dos países por onde Zico apenas passou, como a França e a Espanha.
As características de um empreendedor sempre estiveram presentes no comportamento do craque, ocultas pelas circunstâncias profissionais. Com chuteiras penduradas, aos poucos essa aptidão foi se revelando. O resultado são cinco empresas em que é o sócio majoritário: os clubes CFZ do Rio e o de Brasília; a Zico Participações; a boutique UDIFLA e a Lanchonete CFZ. Isso sem contar as incursões do Galinho pela política e por cargos de direção no futebol japonês.
Dessa forma, quando se despediu oficialmente do futebol como jogador, em 1994, outras portas estavam abertas. O primeiro passo foi dado em março de 1990, no momento em que deixou as chuteiras e a bola de para pôr terno, gravata e usar a caneta como instrumento na Secretaria Nacional de Esportes.


A passagem de Zico pela secretaria durou um ano e quarenta dias. Ao constatar que não avançaria mais na luta pelo esporte brasileiro e que seu trabalho poderia estar sendo explorado politicamente, o craque decidiu se afastar.No mês seguinte partiu para a Terra do Sol Nascente, convidado para um desafio dentro e fora de campo.
Depois de aposentar-se de vez nos campos, assumiu a função de coordenador-técnico do Kashima Antlers e diretor-técnico, sendo responsável por estruturar o planejamento do clube. Como dirigente ganhou quatro títulos nacionais. Em 1996, voltou a morar no Brasil com a obrigação de viajar pelo menos quatro vezes por ano para definir as diretrizes do Kashima. Nos anos que antecederam a última Copa do Mundo, realizada no Japão e na Coréia do Sul, Zico auxiliou informalmente os japoneses na organização do Mundial. Até o ano passado, ainda trabalhava para o clube, mas teve de abandonar o cargo para se dedicar à seleção japonesa.

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