quinta-feira, julho 06, 2006

O poder da cantera lusitana - I

Os talentos da Geração de Ouro


A primeira fornada de jovens a dar frutos surgiu nos finais da década de 80. Até então não era dada a devida importância à formação, e só esporadicamente sobressaíam jovens talentosos que despertassem a cobiça dos gigantes europeus. Chalana, Humberto Coelho ou Futre são alguns desses raros exemplos. Carlos Queiroz e Nelo Vingada foram os obreiros de um projecto que revolucionou o futebol português, levando a cabo uma profunda reestruturação no departamento do futebol jovem da Federação Portuguesa de futebol. A mentalidade que os dois técnicos incutiram no seio da selecção expandiu-se aos clubes, e passou a dar-se mais atenção à prata da casa.

Os primeiros resultados práticos do trabalho desenvolvido apareceram em 1988, quando a selecção sub-18 atingiu a final do Europeu da categoria, perdendo o título para a União Soviética. No ano seguinte, no mundial sub-20 realizado na Arábia Saudita, Fernando Couto, Paulo Sousa e João Vieira Pinto mostraram ao mundo o seu valor, ajudando Portugal a conquistar o seu primeiro título mundial. Para sublinhar o valor da turma das quinas, dois anos após o êxito de Riade, já com Rui Costa e Luís Figo nos eleitos, Portugal volta a sagrar-se campeão, derrotando o todo-poderoso Brasil, perante 120 mil gargantas entoando o hino nacional. A “Geração de Ouro” acabara de nascer, e dela se esperavam conquistas e mais conquistas.

A prospecção de jogadores passou a ter um papel determinante na estrutura das equipas, cabendo aos olheiros a descoberta de novos talentos, pelas terras mais distantes, pelos clubes mais desconhecidos. Curiosamente, Rui Costa, Figo e João Pinto não “nasceram” nas escolas dos clubes onde se deram a conhecer: o primeiro começou por jogar futebol salão no Damaia Ginásio Clube; o segundo num clube da margem sul do Tejo, o Pastilhas; enquanto que o último começou no Bairro do Falcão, passou pelo Águias da Areosa, tendo sido ainda rejeitado pelo Porto, antes de ingressar no Boavista. Todos eles se destacaram pelo seu virtuosismo e cedo chamaram a atenção dos clubes de primeira linha. A “Geração de Ouro” marcou, indubitavelmente, o início de uma nova era no capítulo da formação de jogadores.

Sem comentários: