sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Referências estrangeiras do futebol luso: Tomislav Ivic



Até agora, todas as referências que haviam passado por esta rubrica eram personalidades do qual eu admirava, digamos ídolos, como Benny McCarthy, Stan Valcx, Preud Homme e Alex Bunbury, ou então alguns que não tinha uma opinião formada, pois não os vi jogar, ou treinar, como Cubillas, Yazalde, ou Szabo. No entanto, a referência desta semana nunca me incutiu quer admiração quer simpatia. Falo-vos de Tomislav Ivic, o homem que, apesar de ter sido o primeiro treinador conquistar uma Taça Intercontinental e uma Supertaça Europeia – e única – para uma equipa portuguesa, hipotecou um tri-campeonato para o F.C. Porto, na época 93/94, e proferiu frases inacreditáveis ao serviço do Benfica.



Ivic havia sido um jogador mediano no Hadjuk Split, ao mesmo tempo que era mecânico. Aos 34 anos, retirou-se do futebol, como jogador, e foi para Belgrado tirar um curso de treinador. Terminou-o ao fim de um ano, com distinção. No ano em que o homem, supostamente, chegou à Lua, Ivic começou a sua carreira de treinador no NK Split.

Três anos depois, mudou-se para treinar o clube que representou, como jogador, o Hadjuk Split. Foi, literalmente, chegar, ver e vencer: em quatro anos, conquistou dois campeonatos jugoslavos e quatro Taças da Jugoslávia. A sua fama chegou a Amesterdão, onde, na sua primeira época ao serviço do Ajax, foi campeão holandês. Volta ao “seu” Hadjuk Split para encher a sala de troféus do clube com mais um campeonato jugoslavo.

Entre 1980 e 1987, onde conquistou apenas dois títulos, passou pelo Anderlecht, Galatasaray, Avelino, Panithinaikos, para mais um regresso à sua Croácia, na altura ainda pertencente à Jugoslávia, desta feita ao serviço do Dínamo de Zagreb.

Em 1987, Pinto da Costa viu em Ivic o homem ideal para substituir Artur Jorge, treinador que havia levado o F.C. Porto ao primeiro título europeu. Não defraudou expectativas, uma vez que venceu a Taça Intercontinental, a Supertaça Europeia, o Campeonato e Taça de Portugal. Porém, como era esperado, não foi capaz de igualar, nem de perto, nem de longe, o sucesso alcançado por Artur Jorge na época seguinte.



Em 1988, deixa o Porto, dizendo que “os portistas ainda iriam chorar muito por si”, como se ele fosse um “Special One”; parte para Paris, a fim de treinar o PSG. As suas conquistas de dragão ao peito, foram praticamente as últimas da sua carreira, só seguidas de uma Taça do Rei, ao serviço do Atlético de Madrid, onde jogava Paulo Futre.



Em 1990, o Sporting desejava Ivic, mas o treinador croata recusou, dizendo que tinha “de começar a pensar em descansar”.
Infelizmente, para os adeptos portistas e benfiquistas, Ivic não deixou o futebol e regressou a Portugal, em 1992/1993, aceitando um convite do Benfica. Era o princípio de um calvário… Menos de 5 meses depois de ter assumido o cargo de treinador dos encarnados, Ivic foi chicoteado. Além de deixar o Benfica a 10 pontos do F.C. Porto, proferiu frases inacreditáveis. Uma delas foi quando deu ordem para estreitar o relvado, porque assim, segundo este suposto sábio, teria mais eficácia a recuperar a bola. Acabou por lhe sair o tiro pela culatra, dado que facilitou a vida aos adversários, pois reduziu os espaços de penetração.



Ivic partiu, novamente, para Split, para mais uma vez descansar. Contudo, ainda não era desta que o futebol português se livraria de tal figura… Foi em Split que proferiu a seguinte frase sobre os encarnados: “ao Benfica falta uma liderança forte, um presidente como Pinto da Costa”. Conclusão, dois meses depois era o escolhido de Pinto da Costa para substituir Carlos Alberto Silva.

Foi nessa altura que ganhei a antipatia por este senhor. Nunca vi o Futebol Clube do Porto jogar tão mal. Recordo-me, particularmente, de um jogo em Alvalade, em que, por sorte, o F.C. Porto venceu por 1-0, golo de Domingos, provavelmente no único remate azul e branco ao longo do jogo, num jogo em que os dragões marcaram cedo e depois foi defender de todas as formas. Outro jogo foi na Madeira, num jogo em que Ivic saiu derrotado contra o Marítimo, por 1-0, em que só nos últimos minutos a equipa acordou e onde Fernando Couto, só com um defesa na baliza, remata para a linha lateral. O único aspecto que vale a pena recordar dessa época, com Ivic ao leme, foi a qualificação para a Liga dos Campeões. No seu estilo de jogo que apostava sobretudo no contra-ataque, Ivic hipotecou as hipóteses de o Dragão chegar ao Tri-campeonato. Pinto da Costa continuava a dar votos de confiança ao croata, até que, graças a Deus, Ivic recebe um convite da Fifa para reorganizar o futebol no seu país.



Partiu, para entrar Bobby Robson – esse, sim, um grande senhor –, e cumpriu a missão que lhe foi incutida pela Fifa, e afastando-se de vez, para o bem de todos nós, do futebol português.

Ainda não descansou, e voltou ao Dínamo de Zagreb e à Turquia, desta feita ao Fenerbache, antes de aventuras no Irão e nos Emirados Árabes Unidos.

Em Julho de 1999, regressa às Antas, mas não, felizmente, para voltar a treinar o F.C. Porto, mas sim ao serviço do Standard de Liege, no jogo de apresentação dos dragões aos adeptos, na época 1999/2000.



Depois de experiências, que não serão para mais tarde recordar, com certeza, no Standard de Liege e no Marselha, esta última um regresso, onde chegou a ter o português Agostinho à experiência, durante esse período, voltou definitivamente para Split, a fim de finalmente viver de rendimentos e deixar, de uma vez por todas, para o bem daqueles que gostam da modalidade, o futebol.

Não obstante todas as palavras menos simpáticas aqui proferidas, Tomislav Ivic é um senhor com um currículo impressionável, embora com o passar dos anos a sua estrelinha fosse desaparecendo. Por tudo aquilo que conquistou ao serviço do F.C. Porto, nomeadamente a Taça Intercontinental e a Supertaça Europeia, merece um lugar nesta rubrica.



«Fisicamente ainda tenho condições para continuar a trabalhar. Há muitos treinadores que são mais velhos que eu, mas não queria morrer no banco! Esta é a melhor hora para acabar como treinador, não preciso de morrer como treinador, quero morrer como toda a gente. O futebol, para mim, é como um santo e, no fundo, não vou deixá-lo... O stress do banco é muito difícil para um treinador. Quando se ganha, está tudo bem, mas quando se perde, fica-se triste, doente, e é difícil recuperar.
Estou cansado, porque o futebol está diferente, já não é como antigamente. Em determinada altura, o treinador era a personagem número um do clube, depois passou a ser o jogador e agora é o presidente! Neste momento, o treinador já nem aparece em terceiro, mas sim em 10.º plano. Muitas vezes já só serve para cobrir os erros do clube, não serve para nada. Se me sinto um pouco frustrado por terminar uma carreira de sucesso a meio de uma temporada, sem qualquer título, depois de já não ter sido muito feliz nas cinco épocas anteriores, de tal modo que, no Benfica, pouco antes sofrera a minha primeira chicotada? São situações que nada têm a ver uma com a outra. Esta minha saída do F. C. Porto não se deveu, sequer, a chicotada. Mas, mais importante que os títulos conquistados, um pouco por toda a Europa, foram os jogadores que ajudei a formar. E formei muitos. Esse é o meu orgulho. Muitos deles tratam-me como um pai. Inclusivamente, há famílias de alguns deles que vão à Igreja rezar por mim! Essa é a minha maior satisfação.»



Tomislav Ivic




Ficha Técnica:



Nome: Tomislav Ivic

Data de nascimento: 30/6/1933

Naturalidade: Split

Nacionalidade: Croata

Clubes que representou como treinador: NK Split, Hajduk Split, Ajax, Hajduk Split, Anderlecht, Galatasaray, Avelino, Panathinaikos, Dínamo Zagreb, F.C Porto, PSG, Atlético de Madrid, Marsellha, S.L. Benfica, F.C. Porto, Fenerbache, Al Wasl, Persepolis e Standard de Liege

Selecções: Croácia, Emirados Árabes Unidos e Irão



Palmarés:



1 Campeonato Português

1 Taça de Portugal

1 Taça Intercontinental

1 Supertaça Europeia

3 Campeonatos Jugoslavos

5 Taças da Jugoslávia

1 Campeonato Holandês

1 Campeonato Belga

1 Taça do Rei

1 Taça da Turquia

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