sexta-feira, agosto 26, 2005

O Ajuntador

Relativamente a este seleccionador, ninguém ouvirá de mim que ele não teve mérito em chegar onde chegou no passado, nem se por ventura ele chegar ainda mais longe, mas há que dizer umas coisas sobre isto. Que eu me lembre, nenhum outro seleccionador de Portugal teve à sua disposição um jogador que tivesse sido considerado como melhor do mundo, nenhum outro teve à sua disposição tantos jogadores que tivessem sido campeões europeus de clubes, ainda por cima jogando juntos, e nenhum outro teve tantos jogadores actuando com notoriedade em grandes equipas de outros campeonatos considerados mais competitivos do que o português. A única semelhança que posso encontrar, mesmo sem ter a certeza da sua veracidade, remonta à década de 60 com Eusébio e os jogadores do Benfica, principalmente. Mas, se isto for verdade, também tenho de dizer então que os bons resultados são cíclicos, dependendo da qualidade dos jogadores e nem tanto da qualidade da equipa técnica, já que, em termo de comparação, um terceiro lugar num mundial é melhor que um segundo lugar num europeu.

Se aquando da sua contratação eu fiquei um pouco renitente, já que se tratava de um estrangeiro a orientar portugueses e ainda por cima auferindo um ordenado principesco, isso foi-se atenuando com a esperança de que fosse imposta a imparcialidade de uma pessoa com aquelas características, acrescida pelo facto assinalável de ter comandado jogadores a serem campeões do mundo de selecções. Pois bem, as regras pareciam ser essas, acrescidas de outras que na altura pareciam-me um pouco restritivas, mas ao mesmo tempo coerentes, como seja a necessidade de um jogador estar a jogar no clube que representa para obter a condição de eleito.

Portugal não precisou de fazer o apuramento ao Europeu já que se encontrava na condição de organizador, logo, com acesso directo à fase final da competição, mas o seleccionador conseguiu contornar a incerteza do que seria esta equipa em alta competição com os jogos particulares e pelo apoio que motivou nos portugueses.

Se de início parecia tudo bem, a minha discordância com ele prendeu-se com o facto de que desde muito cedo deixou de fora jogadores de elevado nível, quando era consensual por todo este país que eles o tinham, como depois de dar a mão à palmatória o próprio seleccionador reconheceu. Estou a falar obviamente de Ricardo Carvalho. Outro facto relacionado com a mesma atitude é o afastamento de jogadores como João Pinto e Vítor Baía. Se no primeiro caso, a atitude no mundial de 2002 valeu-lhe uma suspensão, mas acima de tudo o repúdio da maior parte dos portugueses e pelos vistos do actual seleccionador, já no segundo caso a controvérsia é bem diferente, já que o jogador era testemunha de António Oliveira num processo contra a federação portuguesa de futebol, mas acima de tudo, o valor do jogador permitia deixar a luta pela baliza da selecção somente entre ele e Ricardo, coisa que com João Pinto era diferente, dado o elevado número de jogadores que lhe faziam concorrência.

Outro ponto de discórdia foi o facto de que Luís Boa Morte, único extremo esquerdo de raiz e que participou na maioria das convocatórias, foi preterido à última da hora por mais um jogador do meio campo, escusável, na minha opinião.

O caso do afastamento de Fernando Meira, Maniche e Sérgio Conceição foi, a meu ver, relativamente bem resolvido e sem efeitos negativos na selecção.

Chegado o Europeu, a equipa apresentada era a que rompia o menos possível com o passado, se bem que não apresentava os melhores jogadores, ou pelo menos os mais eficazes, e não tardou a revolução, nem que para isso tenhamos passado pelo vexame de termos a única equipa organizadora a perder no jogo de abertura de uma fase final de um europeu. Todo o clima criado à volta da selecção, todas as bandeiras nas janelas e todo o apoio obtido, deveram-se aos jogadores que fizeram os resultados, mas principalmente ao seleccionador deveu-se a proeza de tal mobilização.

Com espanto dessa Europa fora, Portugal ganhava os jogos e ia eliminando os adversários com clareza e com o sentimento de superioridade, que só foram travados na final com um golpe de sorte dos adversários.

Depois do Europeu, o caldo começou a entornar ainda mais e a contestação a aumentar. Desde logo a “vassalagem” prestada a Figo, se calhar em nome da parceria num anúncio publicitário, sei lá, pondo-o a jogar mal começou a ser encostado no Real Madrid, e numa fase em que se ele não regressasse era caricata demais, para não dizer absurda, a convocatória para a fase final do mundial de 2006, que só por acidente não se concretizará. A falta de senso em convocar jogadores do Sporting para um particular numa quarta-feira, sabendo que o primeiro jogo da equipa é na sexta-feira. O dispensar um jogador como Miguel depois da final da taça de Portugal por SMS e avisar primeiro o clube. As dispensas à última da hora envoltas em manha e dúvida. A falta de senso ao deixar jogadores jogarem o tempo todo em jogos particulares, favorecendo o desgaste físico só de alguns. Promover um jogador como Hugo Viana numa fase decisiva da sua carreira, em que terá vários clubes interessados a verem o jogo. O autismo quando é consensual que as suas escolhas são polémicas, justificando-se com razões que apregoava não serem possíveis no passado. A guerra e a polémica que continua a promover com o FCP. A confiança que mantém nos médicos da selecção, que em variadíssimos casos já deram provas de não conhecerem a realidade desportiva e fisiológica dos jogadores. Enfim, é um sem número de incongruências, de desrespeito e de idiotices que afasta pessoas da selecção, que levanta suspeições em torno dela e que não podem ser esquecidas, nem mesmo com vitórias.

Peço desculpa ao PRM por falar em alguns assuntos do seu post, mas como tinha muita coisa para dizer, não chegava um ataque para o fazer.

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