terça-feira, julho 24, 2007

Selecções Nacionais - Os Mais Recentes Fracassos

Pouco se tem falado sobre o estado das selecções jovens no nosso blog. Fora umas frases no Chat d’Ataque e uns parágrafos nos comentários aos posts, creio não ter visto ninguém dar a sua opinião concreta e formal acerca deste tema que, apraz-me dizer, é de extrema importância para nós – portugueses e amantes de futebol.

Parece-me extremamente grave o que se passou nos últimos dois meses com as selecções jovens. O primeiro resultado catastrófico veio da Holanda, onde os sub-21 não só não se apuraram para as meias-finais como perderam (ainda que injustamente, diga-se) o Play-Off de acesso aos Jogos Olímpicos de Pequim. O segundo resultado péssimo chegou do Canadá, palco de mais um desaire lusitano à luz do mundo: chegámos aos oitavos-de-final com sorte e ficámo-nos por aí. Como se não bastasse, demos uma péssima imagem, não só em relação ao futebol praticado e aos resultados, como ao tipo de jogadores que andamos a formar, com a cena dos últimos cinco minutos diante do Chile. Uma vergonha. O último dos desaires dos nossos jovens ocorreu na Áustria – não fomos capazes de superar a fase de grupos.

Não sei se chamar escândalo à fraca prestação de Portugal nestas três competições é exagero ou sensacionalismo mas se não é a palavra certa anda lá perto.

Como em tudo, é necessário reflectir, ponderar, apurar responsabilidades e perceber porque é que isto aconteceu e como podemos evitar que volte a acontecer.




Na minha opinião, houve uma série de factores que, conjugados, deram para o torto:

1. A Federação Portuguesa de Futebol tem que se mentalizar que o trabalho realizado pelos clubes não chega e é impossível juntar as estrelas dos grandes clubes para fazer uma selecção ganhadora. É vital que se crie um fio condutor entre os sub-16 e os sub-21, com uma filosofia igual em todos os escalões e todas as etapas da formação. Desde metodologias de treino, passando por modelos e sistemas tácticos, até chegar a uma mentalidade ganhadora e com objectivos mais ou menos idênticos, tudo tem que ser semelhante dos sub-16 aos sub-21. O trabalho na Federação tem que ser muito melhorado neste aspecto. Acima de tudo, tem que existir uma planificação rigorosa e um trabalho de base bem feito. Têm que se definir estratégias e pensamentos comuns a todas as selecções jovens nos campos do treino, táctico e estrutural. Parece-me ser este o primeiro passo a tomar.

2. A Federação Portuguesa de Futebol fez um mau trabalho na escolha do treinador. José Couceiro é um treinador perdedor e até agora não deu provas nenhumas de qualidade. É possível que daqui a vinte anos ele possa ter feito algo de positivo como técnico. Porém, e tendo como base os factos existentes até ao momento, só se pode concluir que Couceiro é um homem sem categoria para ser um treinador de elite ou de primeira linha. Não é treinador para as selecções nacionais de sub-21 e sub-20. Fala-se bastante no compadrio existente na Federação Portuguesa de Futebol. Eu não sei se ele existe ou não e não tenho provas de nada. Uma coisa é certa: um treinador que treina o Vitória de Setúbal e o Alverca (sem grandes resultados) e transita, com menos de três anos de carreira (!) para o FCPorto, voltando a não apresentar resultados, e logo a seguir é inserido nos quadros da Federação… Cheira a esturro. É certo que Couceiro foi jogador de futebol, foi dirigente, foi comentador, foi sindicalista e por isso conhece o meio e sabe movimentar-se dentro dele porque tem conhecimentos, mas daí a ter uma ascensão meteórica como a que teve até ao Porto e depois ficar como treinador da nossa Selecção de Esperanças… Cheira a esturro. É arrogante e presunçoso e não sabe impor-se. O trabalho da Federação ter que melhorar bastante e não me parece que José Couceiro seja a pessoa certa para por isso em prática. Como é possível Couceiro vir para a praça pública desculpar os maus resultados com terceiros (como aconteceu no Europeu sub-21)? Como é possível Couceiro vir para a praça pública advogar o bom trabalho que tem feito quando até agora ainda só fez asneiras? Como é possível Couceiro ir para uma competição como um Euro sub-21 e mudar o esquema táctico da equipa de jogo para jogo até encontrar a solução quando os jogadores já deveriam saber perfeitamente qual seria o esquema táctico adoptado (desde os sub-16, talvez. Lá está, o trabalho de base. A trabalhar do mesmo modo desde os sub-16, os sub-21 teriam muito mais probabilidades de sucesso)? Como é possível Couceiro por a equipa de sub-20 a jogar tão mal no Mundial? A culpa não é só de Couceiro? Não, mas também.

3. A falta de sorte. Faltou-nos a estrelinha que acompanha os vencedores. Mesmo assim, não esqueçamos o ditado: “a sorte protege os audazes”. É verdade que tivemos azar contra a Itália no Europeu Sub-21, é verdade que tivemos azar em jogos do Mundial Sub-20 (ainda que aqui não tenha sido tão flagrante a falta de sorte), é verdade que tivemos azar contra a Grécia no Europeu Sub-19. Sim, é verdade. Não podemos, todavia, desculpar-nos com o azar. Por vezes ele bate à porta, e bateu, mas quando há qualidade as probabilidades de o azar levar a melhor são menores.

4. A qualidade dos nossos adversários. Defendo que, enquanto portugueses, temos já obrigação de nos considerar das mais fortes selecções da Europa e do Mundo. É nosso dever abandonar a ideia de que somos os coitadinhos e que temos vitórias morais. Os bons resultados que já conseguimos elevam a fasquia e não podemos pensar que “já não foi mau chegarmos a tantas fases finais” porque, na actualidade, isso não passa da nossa obrigação. É verdade que tínhamos que fazer melhor em todas as competições de selecções jovens em que nos vimos envolvidos. Aceito isso e concordo. Agora, temos também de nos mentalizar que, como nós, há outras formações poderosas e com aspirações. Temos que reconhecer qualidade aos nossos adversários e pensar que isso também poderá estar na origem dos nossos fracassos. No Europeu Sub-21 devíamos ter derrotado a Bélgica e tínhamos passado. No Mundial Sub-20 devíamos ter ganho à Gâmbia. Mas nesse mesmo Mundial fomos eliminados pelo Chile. Muitos criticaram e disseram que o Chile era medíocre. O Chile ficou em 3º lugar. No Europeu Sub-19 devíamos ter ganho à Grécia. Mas isso não aconteceu. Estivemos perto. Enfim, são pormenores que beneficiam os outros e nos prejudicam a nós. Uma falha de atenção pode ser fatal, um segundo de distracção pode deitar tudo a perder. A qualidade dos adversários e a falta de sorte, quando conjugados, podem decidir tudo.

Antes de finalizar, queria aproveitar este post para dar as minhas alternativas a Couceiro. Não são muitas (3) e aceitam-se outras sugestões. É muito provável que me esteja a esquecer de alguém e peço-vos que, no caso de concordarem com a demissão de Couceiro, apresentem os vossos nomes para lhe suceder.

1ª Escolha – Domingos Paciência. Saiu da União de Leiria por desentendimentos com a direcção mas creio ser unânime o facto de ele ter feito um trabalho claramente positivo na sua primeira temporada de primeiro escalão do futebol português. Foi um dos bons jogadores do nosso campeonato durante anos e, agora como treinador, tem revelado categoria. Ao contrário de Couceiro, que apesar de ser treinador há pouco tempo, nunca conseguiu boas prestações, Domingos evidenciou as suas qualidades humanas e competência técnica para o cargo de treinador. Foi um jogador de selecção nacional, conhecendo os cantos à casa, e isso poderá ser um ponto a seu favor. Além disso, trabalhou com jovens na equipa B do FCPorto, no seu último ano de actividade. Sendo que a equipa B servia para integrar os jogadores nos seniores e a faixa etária dos futebolistas dessa equipa era precisamente 20/21 anos e as selecções de sub-20 e sub-21 têm a missão de integrar os jogadores no futebol profissional e, se possível, na selecção AA, então penso que estamos na presença de um elemento que poderá ser fulcral na decisão da Federação. É um homem com carácter e gabarito suficiente para assumir o cargo. Para mim, primeira escolha.



2ª Escolha – António Sousa. Foi também um jogador de futebol de alta competição e também ele foi jogador de selecção nacional. Fez um bom trabalho no Beira-Mar e penso que poderá ser uma escolha aceitável para o cargo. Está desempregado há algum tempo e é um bom treinador que, penso, não recusaria treinar as maiores esperanças do futebol português.

3ª Escolha – Luís Castro. Só é terceira escolha por estar empregado. Coordena o futebol de formação do Futebol Clube do Porto e acredito que, tendo abraçado esse projecto há tão pouco tempo, seja complicado inseri-lo nos quadros da Federação Portuguesa de Futebol. Porém, e tendo em conta o seu percurso em equipas mais fracas (ou seja, conhece mais profundamente o futebol português e dá destaque a jogadores de escalões mais baixos, ao contrário do que muitas vezes acontece em que só equipas dos primeiro e segundo escalões são observados com rigor) e o seu contacto frequente com jovens (a sua função actual, no Porto, não lhe foi atribuída por obra do acaso, com certeza) são indicadores que me levam a apontar o seu nome para suceder a José Couceiro.

Podem, ou não, ter reparado que todos os nomes que referi estão ligados ao Futebol Clube do Porto. Acreditem, só reparei nisso depois de me lembrar deles e não estou a querer ser tendencioso.

Esta é a minha análise a um problema que considero grave. As nossas selecções jovens têm necessariamente que ser mais competitivas e temos que nos mexer urgentemente para alterar o rumo actual dos acontecimentos. Necessitamos de vitórias. Desde o Europeu Sub-17, disputado em Viseu, que não ganhamos nada. E isso já foi em 2003, há 4 anos.

Não sei se estão cientes da dimensão das selecções jovens no futebol português. Não sei se sou eu que estou a dar demasiada importância a este caso. Mas acho que não. E, muito sinceramente, gostaria de escutar vozes que até agora estiveram caladas. Julgo que todos vocês, Atacantes Leitores e Atacantes Escritores, têm uma opinião sobre este tema. Parece-me fulcral que se fomente um debate em torno desta problemática e que todos os pontos de vista, sejam eles muito ou pouco esclarecidos e esclarecedores, sejam dados. Dou-vos a palavra.



Deverá José Couceiro continuar a assumir as funções de seleccionador nacional de Sub-20 e Sub-21? Se não, quem deverá suceder-lhe?

Está tudo bem na Federação Portuguesa de Futebol? Os maus resultados foram obra do acaso e não há nada a mudar? Se há, o quê?

Digam de vossa justiça o que têm para dizer sobre isto.

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