quinta-feira, setembro 14, 2006

Referências estrangeiras do nosso futebol: Hector Yazalde



Nas duas edições anteriores desta rubrica, falei de jogadores que ainda estão bem presentes e ainda continuam a dar, à sua maneira, um contributo para o futebol. Contudo, a referência estrangeira desta semana, diria até uma verdadeira referência atacante, foi um jogador bastante amado em Portugal, só que infelizmente já não se encontra entre nós. Falo-vos de Yazalde, aquele que estabeleceu um recorde de golos numa época na Europa, que ainda permanece até os dias de hoje.
Hector Casemiro Yazalde era filho de um empregado de um matadouro, descendente de franceses. Nasceu em um bairro de barracas de cintura em Buenos Aires, tal como Maradona. Cresceu na rua e desde cedo, tal como quase todos os rapazitos dos bairros pobres, juntou-se às brincadeira com pequenas bolas feitas de papel, porque as de borracha eram fruto proibido para as crianças do seu estatuto.
Hector sempre foi um aluno brilhante, embora o pai não tivesse dinheiro para comprar livros, o que levou Hector a pedi-los emprestados a um amigo. Com 13 anos, terminou a escolaridade obrigatória e tinha dentro de si o desejo de ser médico. No entanto, o pai explicou-lhe, com as lágrimas borbulhando-lhe pelas faces, que ele teria de trabalhar para ajudar no sustento da família. Assim foi: primeiro, foi vender jornais, depois bananas e, por último, puseram-lhe a partir........ gelo.
Por vezes, sonhava em ser como Valentim, Roma e Ratin, seus ídolos do Boca Juniores.
Em Agosto de 1965, Hector foi assistir a um treino do seu amigo Horácio Aguirre, o tal amigo que lhe emprestava os livros, que actuava no Piraña, clube de amadores de Buenos Aires. Pediu equipamento emprestado, treinou, deslumbrou, e no fim dessa tarde dessa tarde assinou pelo clube, recebendo 2000pesos, que era o equivalente a um mês de trabalho.
Hector sempre foi um fã incondicional do Boca Juniores, mas em 1967 ingressou Independiente.

Logo na primeira época foi campeão argentino e o melhor marcador do campeonato. Não muito tempo depois, estreou-se pela Selecção argentina, num jogo contra o Brasil. Aliás, fez parte do leque de jogadores que não conseguiu a qualificação para o Mundial de 70, no México.
Em 1970, depois de festejar mais um título de campeão argentinho, começaram a chover proposta de ínumeros clubes interessados nos seus serviços. Yazalde estava de férias em Mar de la Plata, quando recebeu um telefonema a dizer que um clube português estava interessado em contratá-lo. O telefonema era de Abraão Sorin, que o convenceu a assinar pelo Sporting.
No primeiro ano que esteve em Portugal, não deu muitas nas vistas, mas na época 73/74 foi o goleador mor do nosso campeonato. E, se isso só por si já é muito bom, bateu um recorde de golos que ainda persiste até os dias de hoje em toda a Europa: marcou 46 golos, em apenas 30 jornadas. Nessa época, o seu Sporting foi campeão e venceu, igualmente, a taça de Portugal.Quando venceu a bola de ouro, recebeu um Toyota como prémio, que mais tarde vendeu e dividiu o dinheiro da venda com todos os companheiros de equipa.
Nesse mesmo ano teve presente no Mundial de 74, na República Federal da Alemanha, onde, inclusivamente, marcou um golo.
Nesse verão, o Boavista revelou interesse pelo goleador, porém João Rocha, o então presidente do Sporting, não facilitou e manteve o jogador.
Na época 74/75, Hector voltou a ser o melhor marcador do campeonato, desta feita com 30 golos. No final dessa época transferiu-se para o Marselha, onde não conseguiu atingir o sucesso obtido nos leões.
Falhada a experiência em França, Hector Yazalde voltou para a Argentina e tornou-se num empresário, que de certa forma estava ligado ao futebol.
Em 1997, com 51 anos – ainda bastante novo, portanto -, faleceu vítima de uma hemorragia e de uma paragem cardíaca. Morreu, assim, um dos maiores goleadores de sempre do campeonato português. Ainda hoje, os adeptos leoninos elegem-no como o melhor ponta-de-lança que passou pelo clube de Alvalade.

“Não, eu não posso ver chover e a chuva cair sobre uma criança sem agasalho, sobre uma mulher humilde sem amparo, sobre uma família pobre que não tem onde se abrigar. Eu não posso ver chover e uma criança descalça, mal vestida, sofrer a interpérie difícil de suportar. Sabe, eu também vivi essa vida........”
Hector Yazalde


Ficha técnica:
Nome: Hector Casemiro Yazalde
Data de nascimento: 29/05/1946
Data da sua morte: 18/06/1997
Naturalidade: Buenos Aires
Nacionalidade: Argentina
Posição: Avançado
Clubes que representou: Piraña, Independiente, Sporting, Marselha
Internacionalizações: 29

Palmarés:
Dois campeontatos argentinos
Um campeonato português
Duas taças de Portugal
Uma taça de França
Melhor marcador do campeonato português em 73/74 e 74/75
Bola de Ouro em 73/74, ainda hoje é o jogador que marcou mais golos numa época em todos os campeonatos europeus

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