quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Memória Atacante XVI

A 21 de Fevereiro de 2005, a Dani iniciava uma entrevista que ficou famosa no nosso blog, principalmente pela qualidade apresentada. É essa mesma entrevista que hoje tem aqui a sua 1ª parte republicada.

"Entrevista a Jaclyn Raveia-1ª Parte"

Sem duvida foi um excelente momento de partilha de ideias, em que Jaclyn mostrou ser bastante acessível e com vontade de mostrar que as mulheres têm a capacidade de jogar futebol tão bem como os homens e como diria Jaclyn "Por alguma razão as nossas equipas estão ao mesmo nível das masculinas", assim sendo espero que vos agrade este trabalho que vai ser divido em algumas partes e assuntos, sendo esta dedicada ao nascimento do Futebol Feminino.

Como surgiu a tua paixão pelo futebol?
Bem Daniela, sinceramente acho que essa paixão já nasceu comigo, acho que nasce com qualquer rapariga que nasça aqui. A minha Mãe já começaava a gostar de futebol pois nos anos 70 a modalidade já agradava bastante, mas nessa altura ainda éra proibida nas escolas, e só quando em 85 foi feita a primeira Selecção Feminina é que as Mulheres abraçaram definitivamente essa modalidade. Ora eu nessa altura tinha 6 anos, acabava de entrar para a escola, e a modalidade estava a ser muito falada, foi fácil apaixonar-me por futebol.

Passas-te pelas dificuldades de uma modalidade para se afirmar, ou achas que quando entras-te no ensino o mais dificil já estava feito?
Sem duvida o facto de no ano em que entrei para a escola o futebol feminino ser decretado desporto escolar foi muito importante, mas não acho que as dificuldades tenham sucumbido. Foi óptimo ter sido construída uma Selecção, mas nessa altura ainda era algo muito cru, apenas as Universitárias tinham acesso a esse desporto, nós crianças continuavamos um pouco afastadas disso, até porque o Futebol Americano ainda tinha um grande peso e os rapazes descriminavam-nos muito.

Sentiste-te descriminada por gostares de Futebol e o quereres jogar?

Até aos meus 9 anos nunca senti muito isso, porque todos brincávamos juntos, e eu sempre fui um pouco maria-rapaz por isso agradava-me jogar com rapazes, mas quando passei para a preparatória, as raparigas que gostavam realmente de futebol começaram a reivindicar os seus direitos iguais aos dos rapazes,e ai fomos bastantes descriminadas não só por Rapazes como por Raparigas.

De que forma vos descriminavam?

De várias formas, as crianças quando querem conseguem ser crueis com as outras.
Os rapazes deixaram de jogar connosco, puseram-nos completamente á parte do núcleo deles, não aceitavam meninas a jogar, mais tarde quando já éramos mais velhitos até diziam que gostávamos umas das outras e por isso queriamos jogar futebol para nos sentirmos homens(risos), as Raparigas não entendiam porque preferiamos jogar futebol, a falar de rapazes, e por isso punham-nos de parte.

Até que decidiram dar o "Grito de Liberdade…”

Sim decidimos mostrar que não éramos nenhumas meninas ricas e mimadas que só queriamos chamar a atenção, falámos com as nossa professora de Desporto que tambem nos apoiava e assim aconteceu o primeiro campeonato naquela escola deFutebol Feminino, e que para a altura teve uma grande afluência.

Então concordas que o Futebol nasceu de Meninas Ricas?

Não acho que tenha nascido literalmente, as Raparigas procuravam outros desportos do mesmo estilo mas que não fosse tão violento como o Futebol Americano, é obvio que quem tinha dinheiro podia alugar espaços para que as filhas pudessem praticar, e além disso na altura essa modalidade só se praticava em ensinos privados.Mas o verdadeiro Futebol Feminino a ní­vel de Competição começou a ser jogado por raparigas de classe média/baixa a partir do momento em que foi implementado nas escolas publicas.

Achas que era a tentativa de mostrar que as Mulheres também são capazes das mesmas coisas que os Homens, que levou a que o Futebol Feminino fosse tão procurado?

Talvez um pouco...acho que ouve uma procura de um desporto que se indentificasse connosco, e que testasse as nossas capacidades como Mulheres. Acho que as Mulheres se fartaram de ouvir que futebol era só para Homens, além disso no nosso paí­s a tradição ditava que o Futebol era para homens másculos e rijos e ter mulheres a jogar não de forma tão violenta,e a conseguir bons resultados deu uma chapada sem mão a muita gente.

Então na tua opinião não existe desporto para Homens e Mulheres?

O que eu acho é que não existe uma lei que diga, isto é para homens e isto é para mulheres, cada um faz o que mais gostar, claro que depois existem coisas mais viradas para a constituiçãoo de cada sexo.
Não acho que mulheres consigam jogar tão bem Futebol Americano como os homens, não porque não o saibam mas porque a sua constituição fisica é mais frágil, como acho por exemplo que a Natação Sincronizada nos homens será, certamente mais dificil devido á constituição mais pesada que têm. Não é o facto de não se conseguir, acho que as coisas têm de ser adptadas e foi isso que fizemos aqui, adaptamos o Futebol ás nossas capacidades.

Uma ultima provocação para finalizar a conversa de hoje achas que a Mentalidade, que as mulheres que jogam futebol são lésbica e masculinas ainda perdura?

Risos.....Tu és má...Hummmmm....acho que hoje em dia não, que os homens já se habituaram a ver as mulheres jogar.
Já existiu muito isso, e não quer dizer que não exista, mas eu nunca senti que punham s minhas orientações sexuais em causa por jogar futebol.
Quanto ao sermos masculinas não noto nem eu nem as minhas colegas a fazer necessidades em pé ou a ter barba(risos).Agora a sério, somos mulheres e agimos como tal, se calhar temos um corpo mais trabalhado por praticarmos exercicio, mas isso qualquer mulher que se cuide o têm, de resto somos normais, temos maridos/namorados.
Jogar Futebol Feminino não é sinónimo de homossexualidade ou vontade de virar homem, ate porque eu adoro ser mulher, é simplesmente gostar da modalidade.

Nos proximos dias publicarei o resto da entrevista.
Boa Semana a todos."

[SpicedBlond]

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