sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Mundiais Atacantes: Itália 1934

O primeiro na Europa

Após a primeira edição do Mundial realizada no Uruguai, chegou a vez de se organizar o certame no Velho Continente, tendo sido escolhida a Itália para sede desta 2ª edição. Tratou-se também da primeira vez em que se jogou uma fase preliminar, uma vez que foram 32 as equipas inscritas inicialmente.



Entre as novidades, destaque para a 1ª participação portuguesa, não muito famosa diga-se, que se pautou por dois desaires frente à Espanha, primeiro em Madrid por 9-0 (!) e depois em Lisboa por 2-1.

Destaque também para a ausência da selecção campeã do mundo em título, o Uruguai, uma medida tomada como represália à ausência das principais selecções europeias do 1º mundial. Por outro lado, a Argentina enviou para o torneio uma equipa amadora, enquanto que o Brasil por seu turno também enviou uma delegação com jogadores de 2º plano. Tudo se conjugava para uma decisão entre selecções europeias.

Caminho para a final

Apuraram-se para a fase final em Itália, 16 equipas, que ao invés de jogarem organizadas por grupos, disputariam eliminatórias a uma só mão, começando nos oitavos de final.


Nos oitavos o poderio europeu ficou bem patente, tendo as 8 equipas vencedoras dos mesmos sido todas do Velho Continente (Itália, Checoslováquia, Alemanha, Áustria, Espanha, Suiça, Suécia e Hungria). Destaque para a goleada inflingida pela selecção anfitriã à sua congénere dos EUA, por 7-1…
Nos quartos de final a Itália teve imensas dificuldades em bater a selecção espanhola, e depois de num primeiro jogo se registar um empate a 1 bola após prolongamento, num segundo jogo a vitória sorriu à equipa da casa por 1-0, com um golo do mítico Meazza. Diga-se que no primeiro jogo, o golo do empate dos italianos foi obtido num lance de clara ilegalidade sobre o mítico guarda-redes espanhol Zamora.


A Alemanha, com Hohmann em destaque, eliminou os suecos por 2-1, enquanto que os austríacos batiam a Hungria pelo mesmo resultado. No jogo com outra das selecções favoritas, a Checoslováquia bateu a Suiça por 3-2, num dos melhores jogos do certame.
Chegávamos às meias finais e enquanto os checos batiam os germânicos por 3-1 (para desespero do novo Chanceler Adolf Hitler, digo eu…), a equipa transalpina vencia a Áustria por apenas 1-0. Conclusão: Os italianos chegavam à final sem grande brilho, mas acabavam por ser os grandes candidatos à vitória final, muito por força de jogarem em casa.

A Final

Foi perante um ambiente em que se respirava o início da ditadura fascista de Benito Mussolini que se disputou o jogo decisivo deste 2º Campeonato do Mundo. À técnica demonstrada pelos checos opunha-se a dureza utilizada pelos italianos nas marcações aos adversários. Registe-se que nesta altura ainda não havia nem cartões, nem substituições.


A primeira parte foi jogada sob uma toada muito cautelosa, com a equipa italiana a demonstrar algum receio e a acusar o peso da responsabilidade. Chegou-se dessa forma ao empate entre as duas equipas, sem golos.
Na segunda parte tudo foi diferente, com ambas as equipas a tentar resolver a contenda a seu favor, tendo os checos inaugurado o marcador aos 69 minutos por intermédio de Puc. O desespero começa a apoderar-se dos apoiantes da Squadra Azzurra, que respiraram com mais alívio quando os dois argentinos da equipa (sim, nesta altura já havia dupla nacionalidade…) fabricaram o golo do empate. Foi Orsi que salvou a Itália. Jogou-se depois o prolongamento, tendo os italianos aos 8 minutos do mesmo marcado aquele que seria o golo da vitória no Mundial, por intermédio de Schiavio. A selecção transalpina vencia assim a 2ª edição do Campeonato do Mundo de Futebol, para júbilo do Duce, e exaltação de um espírito que infelizmente marcaria os anos seguintes.


A Figura

A figura deste mundial foi Giuseppe Meazza. O mítico goleador italiano que inclusive dá o nome a um dos mais famosos palcos futebolísticos de Itália era o jogador que desequilibrava e trazia à Squadra Azzurra o toque de classe que lhe faltava. Foi ele o cérebro da selecção que se consagrou campeã do mundo em 1934 e 1938. "Pepino", como era chamado, começou a jogar com a camisa azzurra aos 20 anos de idade, e nas 53 partidas que disputou chegou a marcar 33 golos. Iniciou a carreira aos 17 anos no Ambrosiana (actual Inter de Milão), onde se consagrou campeão da Liga Italiana em 1930 e 1938, além de ser o artilheiro do torneio em três ocasiões. No final de 1939 passou ao Milan, onde jogou ocasionalmente até 1942.

O Goleador

Foram 3 os melhores marcadores do torneio, a saber: Conen da Alemanha, Nejedly da Checoslováquia e Schiavio da Itália, todos com 4 golos. O checo não era um primor de técnica mas compensava tal facto com a sua extrema capacidade de concretização que o fez ser um dos mais temíveis jogadores do seu tempo. O ítalo-argentino Schiavio foi uma das estrelas da selecção italiana neste Mundial tendo apontado golos decisivos para o sucesso transalpino. Quanto ao alemão, pouco conhecimento há do mesmo, apenas que marcou 4 golos neste mundial… :-)

A equipa ideal

Os jogadores italianos dominam o onze ideal do Mundial, embora se tenha de destacar também a presença de 3 jogadores espanhóis… Aqui está o melhor 11 do Mundial de Itália de 1934: Zamora (Espanha), Monzeglio (Itália) e Quincoces (Espanha); Monti (Itália), Wagner (Áustria), Cilaurren (Espanha), Orsi (Itália), Nejedly (Checoslováquia), Schiavio (Itália), Meazza (Itália) e Guaita (Itália).

Curiosidades:

- O Campeonato do Mundo de 1934 deveria ter sido disputado na Suécia. O país desistiu do evento por problemas financeiros conjunturais. A Itália organizou um campeonato com imenso sucesso e conseguiu valiosos lucros para o país. Serviu ainda mais para exponenciar o poderio fascista.

- O argentino Orsi jogou pela selecção de Itália depois de ter sido campeão Sul-americano pela Argentina.

- Anfilogino Guarisi foi o primeiro brasileiro que ganhou um Campeonato do Mundo. Este médio actuou no primeiro jogo da selecção transalpina e por isso mesmo poderá ser considerado como o primeiro brasileiro campeão… Mocinho com olho, né?... Eheheheh...

Para a semana prometo levar-vos na máquina do tempo até França, em 1938, às portas da II Grande Guerra…

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