sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Mundiais Atacantes: Uruguai 1930

Inicio hoje a rubrica de Mundiais Atacantes, que terá o seu término precisamente uma semana antes do início do Alemanha 2006. Pretendo com esta rubrica revisitar semanalmente todos os Mundiais de Futebol já jogados até hoje. Espero que gostem desta viagem no tempo que hoje nos levará até ao 1º Campeonato do Mundo de Futebol, em 1930, no Uruguai.



A criação do Campeonato Mundial

Desde 1904, no Congresso da fundação da FIFA que a ideia de efectuar um torneio disputado por selecções de várias nações ganhou forma. No entanto, as intenções do francês Robert Guérin e do holandês C. A. W. Hirschmann foram esbarrando na escassa dimensão do futebol europeu da época. Sendo assim, foi através da entrada do futebol nos Jogos Olímpicos (em 1908) que o futebol foi ganhando alguma notoriedade no que diz respeito a uma prova internacional desta envergadura.



Depois da I Grande Guerra, em 1921, Jules Rimet foi eleito presidente da FIFA, e desde a sua tomada de posse prosseguiu o sonho de realizar a maior competição do mundo de futebol. Foi com os Jogos Olímpicos de Paris, em 1924 e de Amesterdão em 1928, que decididamente se avançou para aquele que seria o I Campeonato do Mundo de Futebol.

Poucos Participantes

A decisão foi tomada em Barcelona, e a escolha do Uruguai como organizador, apesar de inicialmente parecer mais ou menos consensual, fez com que algumas das grandes equipas europeias não participassem neste 1º evento. Desta forma, selecções como a Alemanha, a Hungria, a Checoslováquia, a Itália e a Espanha, acabaram por desistir, alegando problemas com as viagens, desgaste dos seus jogadores, etc. Resumindo, ainda não assistíamos ao profissionalismo que hoje temos. A participação resumiu-se a 13 selecções, sem fase de qualificação, divididas em 3 grupos de 3 equipas e um de 4 equipas, que originariam os 4 semi-finalistas. A taça criada para o efeito foi a Taça Jules Rimet, em honra ao grande criador do Campeonato, e a regra ditaria que após 3 triunfos de uma qualquer selecção a Taça ficaria definitivamente na sua posse. Daí o Brasil ter conquistado a Taça Jules Rimet em 1970, Taça essa que foi anos mais tarde roubada no Brasil.



Caminho para a final

O primeiro jogo opôs a França ao México, tendo os gauleses batido os mexicanos por 4 bolas a uma, tendo o primeiro marcador de um golo na história dos mundiais sido o francês Lucien Laurent. Neste grupo I a selecção vencedora foi a forte equipa da Argentina, que no jogo decisivo bateu o Chile por 3-1.

No Grupo II, o grande favorito Brasil acabaria por ser eliminado por uma surpreendente Jugoslávia, que bateu os canarinhos por 2-1. A Bolívia foi uma carta fora do baralho, como aliás se previa.
No Grupo III, não houve surpresas, com o apuramento da selecção local, que bateu o Peru (1-0) e a Roménia (4-0). Esta selecção uruguaia era a grande favorita ao título, em conjunto com a selecção argentina, como se viria a comprovar.
No Grupo IV os Estados Unidos seriam apurados deixando pelo caminho Bélgica (3-0) e Paraguai (3-0).

Nas meias finais, tanto Argentina (frente aos EUA) como Uruguai (frente à Jugoslávia), passearam a sua classe e bateram os adversários por 6-1. E a final estava aí à porta…

A Final

Num ambiente simplesmente magnífico, e perante 100 mil espectadores, Argentina e Uruguai proporcionaram o primeiro grande jogo mundial entre selecções, com a selecção da casa a sair vitoriosa por 4 bolas a 2. A selecção das pampas ainda conseguiu ir para o intervalo com uma vantagem de 1-2, mas os locais com uma 2ª parte endiabrada acabariam por dar a volta, com uma grande exibição de Héctor Scarone, a primeira grande figura dos Mundiais de Futebol. Os uruguaios ficaram positivamente endiabrados no final do jogo e festejaram dias e dias esta vitória, tendo mesmo sido decretado o dia 30 de Junho (data da final) feriado nacional a partir desse ano…


A Figura

Tal como foi anteriormente dito, a figura do Mundial de 1930 foi o extremo-esquerdo uruguaio Héctor Scarone, era descrito como veloz, bom com os dois pés e tinha uma incrível precisão de passe e remate para um jogador da época. Em 1930 jogava no Nacional de Montevideu, mas com as exibições do campeonato do mundo gerou a cobiça de clubes europeus, tendo-se transferido posteriormente para a Fiorentina.




O Goleador

O melhor marcador da prova foi o argentino Guillermo Stábile, com 8 golos, mais três do que Cea do Uruguai. Este argentino era a grande figura da selecção azul-celeste, e era conhecido por “El Filtrador”. Foi o primeiro jogador do mundo a marcar um hat-trick numa fase final do Mundial, frente ao México. Também ele após o Campeonato se transferiu do clube onde jogava (Huracán) para uma equipa italiana – o Génova.


A Equipa Ideal

Na sua grande maioria os jogadores escolhidos foram argentinos e uruguaios, tendo apenas a excepção do guarda redes e de um defesa central que eram jugoslavos. Assim sendo, a equipa ideal do primeiro Mundial de Futebol foi: Yavovic (Jugoslávia); Nasazzi (Uruguai), Ivkovic (Jugoslávia), Andrade (Uruguai) e Monti (Argentina); Gestido (Uruguai), Scarone (Uruguai), Castro (Uruguai) e Ferreira (Argentina); Stábile (Argentina) e Cea (Uruguai).

Curiosidades

As principais curiosidades em torno deste mundial surgiram no início do mesmo e depois no dia da final:

- No início, todos os atletas das equipas europeias foram no mesmo transatlântico rumo ao Uruguai, e treinavam a bordo, num coberto elaborado para o efeito e num ginásio.
- No dia da Final, milhares de argentinos invadiram as ruas de Montevideu, após terem atravessado o rio em numerosas embarcações, gritando “Argentina, sim! Uruguai, não! Vitória ou Morte!”.
- O árbitro da final, o famoso belga John Langenus, acumulava as funções com as de jornalista do semanário alemão Kicker. Será que a sua auto-avaliação foi positiva?
- No jogo da final, e porque não havia regras estabelecidas à partida, ambas as equipas queriam jogar com a “sua” bola. Os uruguaios, alegando que jogavam em casa queriam ser eles a escolher a bola com que jogariam a final, mas não foi aceite, e o caso foi resolvido por bola ao ar, tendo sido escolhida como bola da final a da equipa argentina…



Com estas curiosidades termino esta primeira edição dos Mundiais Atacantes, prometendo voltar na próxima semana com o 2º Mundial, realizado em Itália, em 1934.

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