quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Memória Atacante XVII

Aqui temos a 2.ª parte de uma das grandes entrevistas realizadas no nosso Blog, reponsabilidade da "nossa" Dani como não podia deixar de ser.
Desfrutem da excelente entrevista que se segue...

Como prometido aqui fica a segunda parte da entrevista a Jaclyn, em que ela irá explicar o seu ingresso na faculdade e no futebol profissional, e o peso que as Universidades e o Futebol têm aqui nos Estados Unidos.
Jaclyn depois de termos terminado com uma provocaçãozinha nada como retomar o assunto onde terminámos. Estive a pesquisar e encontrei uma frase dita por Tracy Ducar Guarda-Redes da Selecção que dizia assim ” Nós somos as melhores do mundo porque somos também as mais feministas do mundo”, concordas que é por isso que vocês estão hoje em dia no topo da Modalidade?Hum....(risos) achas isso de nós? Concordo com o que ela diz sim, como sabes o nosso país defende as lutas contra o racismo ou qualquer outro tipo de descriminação, ora aqui é perfeitamente normal ver mulheres a jogar, porque nós impusemo-nos, mostrámos que não éramos nenhumas marias-rapazes só porque gostávamos de jogar futebol, ao contrário do pensamento que os Europeus têm em relação ás mulheres que apreciam essa modalidade. Acima de tudo afirmamos a nossa posição como mulheres.Bem mudando de assunto, para que quem lê não esteja a pensar que isto é uma entrevista feminista, conta-me um pouco como foi o teu ingresso no futebol profissional.Fiz o meu percurso escolar normal, terminei o ensino secundário, sempre a jogar futebol, com campeonatos inter-escolares, em que as raparigas tinham o maior orgulho em participar e em 98 ingressei na Universidade de Richmond, e ai a realidade era completamente diferente, o futebol feminino estava no auge, todas as Universitárias davam o máximo dos máximos para poderem entrar no Clube da Universidade, ser jogadora era um grande orgulho, não só para nós, como para as famílias, ai a minha paixão foi completamente realizada, quando ingressei na equipa Universitária.Então bastava entrar na Universidade para oficialmente te tornares Jogadora?Isso era fácil(risos), muito pelo contrário, quem queria e quem quer ser jogadora de futebol tinha de provar que o merecia, não só com vontade de o jogar mas acima de tudo com boas notas. Não é qualquer uma que entra para a equipa, tens de estudar, tens de te aplicar se queres ser apoiada e se queres jogar, eles dão bolsas de estudo e financiam muita coisa mas tu tens que mostrar que mereces isso, durante os 5 anos que estás a estudar com boas notas.Sentis-te que a Universidade que escolhes-te estava bem preparada para poder desenvolver essa Modalidade?Sim claro, a Universidade de Richmond é das melhores nesse aspecto, não é por acaso que anualmente saem mais de 400 atletas-estudantes a participar em campeonatos em 19 modalidades diferentes.Somos extremamente apoiados não só no desporto como no ensino, e temos mesmo que se,r porque só os melhores é que continuam a treinar e a competir, só os melhores têm sucesso nas várias ligas desportivas. Não é por acaso que a nossa Universidade tem o grau de sucesso de 85% de graduações, e os seus atletas considerados dos melhores, tens de estudar bastante para lá estares.O que me estás a dizer é que o Ensino Americano mata “dois coelhos numa cajadada só”, patrocina o Futebol Feminino de uma forma espectacular, como também proporciona ás raparigas continuarem a estudar e tirarem bons resultados para que possam lutar por um Futuro melhor com boas bases educativas?Sim basicamente é isso, e acho que a esse nível foi um excelente empreendimento, pois todos sabemos que o mundo laboral está cada vez mais competitivo, e só quem têm boas bases é que se safa, ora entrar na Faculdade qualquer um entra, acabá-la com sucesso é que é mais difícil, assim sendo o que os EUA fizeram foi aliar a modalidade que mais adeptas têm conseguido angariar nos últimos anos, aos bons resultados escolares, acho que é mesmo naquele sentido “Queres fazer parte da melhor liga do Mundo, Estuda”, é um bom incentivo e o mercado de trabalho agradece porque saem pessoas mais competentes das Universidades, nisso acho que fomos bastante inteligentes.Pois eu também acho(risos)…..continuando, achas que essa maneira de empreender o desporto nas escolas, dá frutos nas crianças e adolescentes mais carenciadas? Pergunto isso porque em Portugal por exemplo existem bairros carenciados que até têm o seu clube mas que pouco ou nada contribuem para o desenvolvimento escolar das crianças.Sem dúvida que sim, como já vis-te, aqui também existem bairros carenciados e pessoas que passam por muitas necessidades, e haver uma modalidade que é praticada em ensinos públicos, que têm um peso enorme na população, dá um incentivo para que os miúdos se mantenham nas escolas, pois vêm que aquilo que gostam até tem futuro, e que é bastante apoiado.A pobreza existe em todo o mundo, não acredito que aja forma de a extinguir, mas existem sempre formas de a contornar e de a tornar menos sofredora, acho que as pessoas que vivem carenciadas não querem sonhos, mas sim coisas reais, que as ajudem a esquecer um pouco a sua própria realidade e que possam dar ás crianças um futuro mais risonho, o mal que vemos em muitos países é que se queres praticar um desporto e até te tornares federado, tens que pagar para isso, e quando são de borla nunca têm bases que te permitam pensar no futuro, ora os mais carenciados não podem pagar, muitas vezes andam nas escolas com apoios das assistentes sociais e por isso teres na escola algo que te motive e veres em plano prático que esse desporto é bem recebido e apoiado pelo país faz com que as crianças queiram ir para as escolasestudar.Confesso que estou estupefacta com a tua resposta, é sem dúvida a realidade, falo por mim que a vejo diariamente no meu país….Prosseguindo. Temos equipas femininas de grande nível, escolas que apoiam e certamente boas profissionais no curso que tiraram, mas com tanta ocupação, onde fica a vida privada?Sabes Daniela, nós somos da mesma idade certamente não temos vidas assim tão diferentes e eu vejo que ao longo destes quase meus 26 anos a vida já me ensinou algumas coisinhas, entre elas é o que quer que nós façamos a pensar num futuro melhor a nossa vida pessoal é sempre afectada, mas é uma escolha que fazemos e uma coisa por que toda agente passa a partir do momento que decide dedicar-se a sério a algo.É obvio que estudar, tirar boas notas e ter um curso na mão não é fácil despende muito tempo, aliado a isso praticar um desporto que gostamos e que faz parte da nossa vida, rouba muito tempo, e as pessoas que nos rodeiam são prejudicadas, mas isso é como tudo, tu mesmo estás aqui nos Estados Unidos, e certamente deves ter deixado muitas coisas boas em Portugal, mas foi uma opção que fizes-te, estar aqui durante um tempo a trabalhar no que gostas, são opções em que a vida privada acaba por ser sempre a mais prejudicada, mas quem gosta verdadeiramente de nós entende.Mais uma vez uma excelente resposta assim fico sem palavras….E afinal depois de tanta coisa sobre estudar, ter boas notas e tirar um curso com aproveitamento, em que te licenciaste tu?Será que me licenciei? (risos) Pois é, licenciei-me comunicações do discurso em Richmond, e hoje em dia para além do Futebol trabalho em congressos, eu sei que se calhar as pessoas estariam a espera que me licenciasse em desporto, mas à parte do Futebol tenho muitas outras coisas que gosto, como comunicar e línguas.Vou finalizar com mais uma provocaçãozinha, já é hábito(risos), mas esta vai ser directa para o meu país, Jaclyn qual foi a tua média de fim de curso e qual é a média dos estudantes finalistas?És mesmo mazinha….(risos) a minha média foi de 19, e geralmente um estudante-atleta não sai da faculdade com menos de 17, aliás isso é muito mal aceite pelos próprios estudantes que não querem ter menos que isso.

Ok. Tudo a ver com o Ensino Português…Nos próximos dias publicarei o resto da entrevista.Boa Semana a todos

[Spicedblond]

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