sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Mundiais Atacantes: França 1938



Guerra à porta

A II Grande Guerra Mundial e o clima de tensão latente na Europa no final dos anos 30 marcaram este 3º Campeonato do Mundo de Futebol. Depois de uns Jogos Olímpicos de Berlim em 1936 em que o fascismo tentaria mostrar a “supremacia” da raça ariana (sem grandes efeitos, diga-se), neste Mundial tentar-se-ia de alguma forma ultrapassar esse aspecto menos positivo de uma organização desportiva, esquecendo a política, e tentando fazer do campeonato uma festa.



A França candidatou-se à organização deste mundial, obtendo grande oposição por parte dos países sul-americanos, em especial a Federação Argentina. No entanto a força da federação francesa na FIFA conseguiu que se jogasse no país natal de Jules Rimet o 3º campeonato mundial.
Inscreveram-se na competição 36 nações (mais 3 do que no ano anterior), embora tenha ocorrido a desistência de 6 equipas, o que fez com que tivesse menos adesão do que o Mundial italiano.
A selecção portuguesa mais uma vez marcou presença na fase de apuramento, tendo perdido na Suiça, num jogo apenas, por 2-1, ficando arredada da fase decisiva.

Caminho para a final

Mais uma vez o sistema escolhido para esta fase final foi o de eliminação directa (sem grupos), e não houve cabeças de série, sendo o sorteio dos 16 finalistas directo.



Nos oitavos de final caíram logo dois gigantes à época do futebol mundial, Alemanha (2-4 no jogo de desempate contra os suíços) e Roménia (1-2 contra Cuba também em jogo de desempate). Nos restantes jogos a Hungria goleou a estreante equipa das Antilhas Holandesas por 6-0, a selecção da casa venceu a Bélgica por 3-1, a Checoslováquia bateu a Holanda por 3-0, a campeã do mundo Itália venceu a Noruega por 2-1, após prolongamento, e o Brasil naquele que foi um dos melhores jogos do Mundial venceu a Polónia por 6-5, com 4 golos de Leónidas. Entretanto num dos casos do Mundial, a Suécia foi apurada automaticamente devido à desistência da Áustria. Porquê?... Porque o país havia sido recentemente invadido por Hitler e suas tropas...

Nos quartos de final os suecos bateram Cuba por 8-0 (!), a Hungria venceu a Suiça por 2-0 e o Brasil venceu a Checoslováquia, em jogo de desempate, por 2-1. Este desgaste todo dos brasileiros havia de lhes sair caro no jogo das meias-finais frente aos italianos. Estes, nos quartos de final, no jogo mais aguardado, bateram a França por 3-1, num jogo em que dominaram completamente os acontecimentos.



Nas meias-finais a Hungria facilmente despachou a Suécia por 5-1, enquanto no 1º grande jogo entre duas das selecções com melhor palmarés mundial actualmente, a Itália venceu o Brasil por 2-1, num jogo em que os brasileiros não estiveram ao mesmo nível dos jogos anteriores, notando-se o desgaste das outras partidas.

A Final

O jogo da final foi rodeado dum clima de crispação devido ao momento político que se atravessava. Os italianos eram considerados a selecção maldita e quase todo o mundo torcia para a sua derrota. Depois da facilidade com que os húngaros bateram a Suécia nas meias-finais, todos os especialistas pensavam ser possível bater a forte Squadra Azzurra. Puro engano. Os italianos com Meazza e Ferrari endiabrados bateram a selecção magiar por 4-2, numa final fantástica, com emoção até bem perto do fim. A selecção transalpina cedo mostrou ser superior, conseguindo colocar-se em vantagem ao intervalo por 3-1. Os italianos dominavam o jogo e apenas em alguns contra-ataques os húngaros tentavam equilibrar a contenda.



Na 2ª parte, aos 65 minutos, os húngaros ainda fizeram renascer a esperança do público francês que tanto os apoiava, reduzindo para 3-2, mas mais tarde Piola daria o pontapé final nas esperanças magiares, marcando o 4-2, resultado final deste jogo. Um resultado justíssimo, diga-se.

O Goleador


O goleador deste Mundial, com 8 tentos apontados foi Leónidas, do Brasil. Foi o primeiro jogador brasileiro a vencer o troféu. Era conhecido como “Diamante Negro”, “Homem Borracha” e “Bonde de 200 Contos”. Jogou nos mais diversos clubes como Peñarol (Uruguai), Vasco, Botafogo, Flamengo e São Paulo.
Foi ele que criou o famoso pontapé de bicicleta, pontapé esse utilizado neste Mundial, como a foto o pode demonstrar...

A Figura


E a figura escolhida foi... Leónidas... Apesar de não ter sido o Brasil a selecção campeã do mundo, foi o brasileiro a figura mais proeminente deste Mundial, marcando golos e levando o Brasil à sua primeira grande presença internacional. Era conhecido pela sua velocidade, excelente técnica, impulsão e elasticidade fantástica. Outras figuras em destaque foram também o inevitável Meazza e Ferrari, ambos italianos.

A equipa ideal

A equipa escolhida foi Planicka (Checoslováquia); Domingos (Brasil), Rava (Itália), Serantoni (Itália) e Andreolo (Itália); Locatelli (Itália), Biavati (Hungria), Meazza (Itália) e Titkos (Hungria); Leónidas (Brasil) e Sarosi (Hungria).

Curiosidades:

- Pela primeira vez em mundiais o país organizador e o campeão do mundo em título ficaram isentos da fase preliminar e foram admitidos directamente para a fase final.

- No jogo entre Brasil e Polónia, Leónidas entrou para a história ao marcar, no prolongamento, um golo com o pé descalço, que deu a vitória ao Brasil por 6-5... Se fosse agora levava um amarelo…

- No jogo das meias finais, entre Brasil e Itália, na marcação de um penalty, Giuseppe Meazza repara que tem um problema: o elástico que segurava os calções não tinha “força”, o que fazia com que lhe caíssem. No entanto, Meazza segura com a mão esquerda o calção e com a direita coloca a bola na marca de penalty, concretiza sem hipóteses de defesa, e a Itália voa para a final do Mundial...

- Para terminar, no final do jogo decisivo entre Hungria e Itália, o guarda-redes magiar Szabo, declarava a sorrir e para espanto de todos: “Salvei a vida a onze seres humanos. Antes de principiar o encontro disseram-me que os italianos tinha recebido um telegrama de Mussolini com a advertência “Vencer ou Morrer”. Venceram!”

Na próxima semana cá estarei para vos falar do Mundial do choro e lágrima dos nossos “irmãos” brasileiros, em 1950...

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