Nas duas últimas épocas temos sido, meu caros, confrontados com a recorrente crítica perpretada por vários analistas e jornalistas, nos mais variados orgãos de comunicação social, ao nivelamento competitívo do nosso campeonato nacional.
Toda essa massa crítica aponta tão somente para a redutora realidade de que o nosso campeonato se está a nivelar por baixo. Ou seja, não são os pequenos clubes que estão a progredir, mas sim os grandes que estão a perder influência...
Não podia ser mais contra tal coisa. Vamos por partes. Benfica, Porto e Sporting têm vindo, progressivamente a perder pontos e a sagrar-se campeões cada vez mais tarde, com menos pontos e de uma forma cada vez menos inequívoca. Mas a causa disto está longe de ser a menor capacidade dos 'grandes', cuja organização directiva é cada vez mais profissionalizante e a estrutura económica, comercial e financeira atinge de dia para dia proporções cada vez mais abrangentes.
O cerne da questão está, isso sim, na maior mediatização do futebol a nível mundial. A maior visibilidade (em claro crescendo) veio tornar o desporto mais transparente, desencadear o debate, a troca de ideias, gerar o diálogo... Os métodos outrora secretos, e as fórmulas de sucesso tabu dos grandes, já o não são e hoje os pequenos clubes, mesmo sem orçamentos capazes podem hoje rivalizar a nível desportivo com os grandes pois os métodos de trabalho são cada vez mais aproximados. As tácticas, a preparação, o trabalho físico rigoroso, são hoje realidades e métodos triviais e quotidianos para os pequenos clubes.
Lembro-me nos tempos de Bobby Robson no comando técnico do Porto, a contratação mais sonante da época ter sido o preparador físico Roger Spry. Soltem-se as gargalhadas... mas na altura estas coisas valiam títulos, hoje não passam disso, gargalhadas perante este mítico obscurantismo.
Longe vão estes tempos e ainda mais longínquos vão os tempos dos célebres almoços de dirigentes de futebol com árbitros nessa tambem mítica localidade de Canal Caveira... Como o futebol era obscuro e como era diminuta a arbitrariedade dos resultados nessa altura. Hoje, como disse, tudo é mais transparente. Há mais informação. Os processos de trabalho, desportivos, mentais, físicos e tácticos são de realidade comcomitante entre grandes e pequenos, daí o nívelar por CIMA... são os pequenos que se começam a chegar aos grandes e a construir estruturas que os sustentem e permitam toda esta competitividade no nosso campeonato.
A Europa. As carreiras europeias dos nossos clubes têm vindo progressivamente a melhorar e a ganhar notoriedade. As finais e conquistas europeias vão-se sucedendo, prestigiando o nosso futebol.
A selecção. O futebol português está bom e recomenda-se. Está de facto um rapaz forte e saudável. Quem não se lembras das vergonhas do passado em que muitas vezes nem ao Europeu nem ao Mundial se ia? ...pois é...hoje a equipa das quinas deu um salto qualitativo enorme. Ser adversário da equipa da cauda da Europa já não é fácil para nenhum adversário. Portugal tem já percursos sólidos, um método e um projecto consistente, capaz de rivalizar com qualquer adversário e de chegar, como de resto o fez, à final de um Europeu, tento sido como se sabe a melhor equipa do torneio, como foi reconhecido por toda a imprensa estrangeira.
O jogador Português. No outro dia via na RTP Memória uns jogos olímpicos... que não foram há tanto tempo quanto isso, e disputava-se uma eliminatória da prova dos 100 metros. Na imagem iam desfilando, como que numa parada os atletas. Impressionava a envergadura dos corredores Norte-Americanos, o porte físico dos africanos e, eis que aparece na imagem o representante português. A risota foi geral no estádio... Na imagem estava um respeitável senhor, com a orgulhosa bandeira nacional na barriga, por baixo do número. Era uma espécime lusitano magríssimo, cabelo de risco ao lado com uma substância brilhante e meticulosamente penteado, óculos escuros e um farto bigode que lhe ocupava grande parte da magra cara. Do peito saía uma bela colecção de pelos. Foi dada a partida e, como seria de esperar o bravo atleta português terminou em último, mas de cabeça erguida e com aquela dignidade e atitude que só o português consegue.
Bem, serve este episódio real do corredor português para ilustrar que o jogador português tipo já não é o mesmo de há 20 anos. Já não há Jaime Pacheco, Jaime Magalhães, Nelo, Bandeirinha, Veloso, Leal, etc, etc... Os talentos emergentes da bola de hoje em nada se podem comparar quer tecnicamente, sequer fisicamente com aqueles virtusos raçudos dos relvados de há 15 anos. Alguem quer comparar o Cristiano Ronaldo, o Quaresma, o Hugo Almeida, o Ruben Amorim, o Zé Castro a algum dos outro senhores supra-mencionados? Claro...fiquemos-nos pelas gargalhadas, mais uma vez.
Hoje há uma escola, um método de trabalho, um caminho...uma autêntica fábrica de talentos que antes não havia e que mais nenhum país tem assim. O jogador português médio é superior ao jogador médio Inglês, francês, alemão...e por aí fora. Tivéssemos nós os números sociais do Brasil e seriamos campeões do mundo 30 vezes seguidas...e os nossos clubes vencedores de todas as competições Europeias.
Numa aldeia cada vez mais global, os clubes pequenos põem-se em bicos dos pés para se chegar aos grandes. A fórmula de sucesso é conhecida de todos. Na europa portugal brilha na UEFA e na Champions. Os jogadores Portugueses não poucas vezes são nomeados para melhor jogador do ano ou do mundo. Até o melhor treinador do mundo é português, e acreditem que se vê cada vez mais em Portugal outros treinadores a usarem e a imitarem os métodos de Mourinho...
Por isso, senhor crítico jornalista, acha mesmo que o nosso campeonato está nívelado por baixo?
...mais uma gargalhada
Ricardo Martins
nota: esta crónica, Verdades Desportivas, está calendarizada semanalmente para as quinta-feiras não tendo sido possivel a sua apresentação na semana passada nem no dia de ontem por razoes universitárias, peço por isso imensas desculpas aos leitores e colegas.
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