terça-feira, janeiro 24, 2006

Fazer birra... ou fazer pela vida

Um dos artigos que preparámos para a edição de Fevereiro da revista não me sai da cabeça.

Tem a ver com o período de adaptação que qualquer jogador tem de enfrentar quando, no mercado de Inverno, muda de clube, ingressando numa equipa que já leva meia época, pelo menos, a trabalhar junta e onde todos já se conhecem mais ou menos bem. Nele, vários técnicos exploram os cuidados a ter pelos responsáveis da nova equipa para conseguir a plena integração do recém-chegado. E foca-se o plano físico-atlético, o plano táctico e de treino... e, claro, o psicológico, analisando os cuidados que o recém-chegado, os jogadores já existentes e o treinador devem ter na sua conduta, sublinhando que a aceitação total do novo elemento na equipa serve os interesses de todos.

Este plano psicológico é e será sempre, para mim (pelo menos até alguém me convencer do contrário...) o aspecto mais essencial do sucesso de um jogador de futebol — ou de qualquer outro profissional que leve a sua profissão a sério. O futebolista de sucesso não se distingue (apenas) pelo talento ou pelos dotes técnicos, mas pela sua força mental: o desejo de triunfar, a resistência às adversidades e o prazer em competir com os outros e, acima de tudo, consigo próprio.

Por gosto e por dever de ofício, acompanho de perto as movimentações do mercado de transferências do futebol. E dou com notícias que, sinceramente, me espantam — as relativas ao desejo de alguns jogadores de abandonarem a sua equipa depois de esta se ter reforçado com novos jogadores.

Foram casos recentes, em Portugal, de Mantorras e Quim, no Benfica, de Beto, no Sporting, ou de Dudek, no Liverpool. Mas há muitos, muitos mais. Esses jogadores não verão que ao mostrarem o desejo de sair estão a ‘dizer’ ao treinador que lhes falta a força mental e a capacidade de resistir às adversidades? A achar logo à partida que o recém-chegado é melhor do que eles? A vir, cedo demais, pôr limites às suas capacidades como futebolistas e como profissionais? A esperar que os respectivos clubes, por simpatia, se esquivem a reforçar o plantel, só para não os obrigar a subir um nível e afastar mais um obstáculo, ou pelo menos ter mais um objectivo? Em suma, a basear a sua condição de titulares não no espírito de conquista e no seu desempenho nos treinos, mas sim na simples «exclusão de partes»? A ter uma titularidade concedida pelo treinador («Joga este, mas só porque as alternativas são desaconselháveis») em vez de uma conquistada pelo jogador («Joga este, porque o lugar é dele»)?

E cada um de nós, como treinador, quereria ter no plantel jogadores que não nos dessem estas garantias? Não terá estado muito bem Ronald Koeman quando explicou a Quim que não era seleccionador? E não terá Paulo Bento ficado com razões para se dar por feliz pela saída de um central que, afinal, estava sem ânimo para lutar pelo ‘seu’ espaço?

O tom interrogativo destes dois parágrafos é propositado: gostava de ouvir as opiniões dos outros.

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