terça-feira, janeiro 31, 2006

Memória Atacante XVI

Cabe-nos hoje apresentar um fantástico post da SpicedBlond sobre a questão do investimento em educação. Brilhante análise e comparação com a realidade americana. Uma análise que apesar de ter um ano continua extremamente actual.

15 de Fevereiro de 2005

"Educação X Investimento - Debate de fim de semana "

"Estive á conversa este fim de semana com uma jogadora do clube feminino New York Power de seu nome Jaclyn Raveia, que me elucidou sobre a forma como o futebol feminino é encarado aqui nos EUA, e a maneira como se conseguiu transformar um desporto apenas praticado por algumas meninas num estrondoso bum, que catapultou esta modalidade para nº1 em todo mundo.

Confesso que quando comecei a conversa foi no intuito de poder conseguir material para escrever no blog, aliás até a informei de tal e não estava nada à espera que este assunto se fosse tornar tão bem discutido não só por nós as duas, como para meu espanto pelos senhores que nos rodeavam e que falavam tão orgulhosos desta modalidade que por momentos pensei que a realidade vivida no meu país era fictícia, mas rapidamente o meu empolgamento caiu por terra quando um colega me perguntou: E em Portugal como é o futebol feminino? Aí sem dúvida voltei á realidade... aquela que defendo e sempre defendi...

Mas voltando à conversa, perguntei à Jaclyn como é que uma modalidade jogada apenas por algumas raparigas e sem grande interesse e divulgação (exactamente como em Portugal) se transformou na grandiosidade dos dias de hoje, ao qual ela me respondeu e cito as suas palavras “foi muito difícil conseguirmos chegar onde estamos hoje, não só porque o futebol sempre foi visto como desporto masculino, principalmente aqui que temos uma grande força nesse desporto com o futebol americano. Tivemos de suar bastante e fazer ver que valia a pena, mas sem dúvida nenhuma se não fosse o sistema educacional a apostar numa nova modalidade os EUA não estariam onde estão hoje... é bom saber que as escolas apoiam as raparigas no desporto principalmente porque estamos num país cada vez mais violento e todas as iniciativas para ocupar os jovens são bem vindas, nesse aspecto tenho orgulho do meu país”.

Terminada esta explicação começámos todos a debater o que se pode fazer para o desenvolvimento de uma modalidade, e todos achámos que para se desenvolver algo têm de existir o mínimo de qualidade, mas que também, e cito o que um amigo Peter Wilson disse “claro que é preciso haver qualidade, mas tambem não se pode esperar qualidade se não existirem condições para que tal aconteça, não se pode esperar boa fruta se não cuidarmos como deve ser da árvore e lhe dermos as condições para que cresça... Acredito que o EUA não fizeram nada de mais nem gastaram assim tanto para rentabilizar a modalidade, somente apostaram no futuro - os jovens e a sua educação”

Depois desta argumentação sinceramente calei-me... não sei talvez por ter consciência de que aquilo que defendo, os ideais que podem tornar o futebol feminino praticável e de boa qualidade são defendidos fora da minha pátria... e que no meu paí as pessoas desculpam-se dizendo que não é rentável... COMO SABEM QUE NÃO É RENTÁVEL SE SIMPLESMENTE NÃO DÃO O MINIMO DE CONDIÇÕES PARA QUE SE PROVE O CONTRÁRIO? É OBVIO QUE SE NÃO HÁ CONDIÇÕES, SE NÃO SE VÊ UMA LUZ AO FUNDO DO TÚNEL, A DESMOTIVAÇÃO TOMA CONTA DAS PESSOAS, E SE CALHAR POR ISSO, POR VEREM QUE NINGUÉM LIGA PATAVINA PARA O QUE FAZEM É QUE AS NOSSAS JOGADORAS E AS MULHERES QUE GOSTAM DE FUTEBOL NÃO SE EMPENHAM, PORQUE SIMPLESMENTE NINGUÉM LIGA!

Foi uma conversa agradável, muitas mais coisas foram debatidas e que terei o prazer de ir colocando aqui no blog para elucidar um pouco mais sobre o que por aqui se passa, e apesar de não ir revolucionar a mentalidade em relação à modalidade, tenho a certeza que a diferença já é marcada e os ideais defendidos.
Boa Semana a Todos"

[SpicedBlond]

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