quinta-feira, março 23, 2006

Análise Táctica ao Fc Porto-Sporting

Ontem realizou-se o FC Porto versus Sporting para a Taça.

Acabou por ser um jogo emocionante, muito competitivo, polémico e com um fim dramático.Baía acabou por ser o herói ao garantir a presença no Jamor, por parte do FC Porto, após defender uma das 5 grandes penalidades leoninas.
Mais do que analisar as ocorrências do jogo, penso que é fundamental analisar o grande duelo táctico disputado por 2 treinadores com filosofias e modelos de jogo completamente diferentes, mas que ontem se foram anulando 1 ao outro.

Eis os esquemas iniciais apresentados:




FC Porto

Adriaanse, ao contrário do que fez na Luz, abandonou o 3-3-4, abdicando de um extremo, para criar mais consistência no meio campo, não correndo o risco de ficar em inferioridade numérica na zona onde se iria decidir o jogo.
Assim, avançou para a titularidade Cech, não como defesa, mas sim como médio interior esquerdo.
Outra alteração efectuada por Adriaanse foi colocar, R Meireles um pouco mais á direita (médio interior direito), dando ordens a Lucho para jogar mais á frente, quase como vértice ofensivo do meio campo…sempre descaindo um pouco á direita para apoiar Adriano.
Adriano abandonou a sua posição entre-linhas, actuando descaído no flanco direito do ataque Portista, actuando Benni como ponta de lança mais fixo, e Quaresma na esquerda procurando os desequilíbrios.

Adriaanse explorou um 3-4-3, com cautelas defensivas e marcações zonais bastante rígidas e intensas.

Sporting CP

Paulo Bento não mexeu na dinâmica habitual da equipa.
Trocou Abel por Miguel Garcia, para segurar Quaresma, pois Miguel Garcia é substancialmente mais forte na marcação. Perdeu ,no entanto, pendor ofensivo pela faixa direita.
No meio campo, o esquema de sempre, actuando Sá Pinto como vértice ofensivo, abrindo uma vaga para Deivid na frente.

Um 4-4-2 em losango, com constantes movimentações e trocas posicionais de alguns dos seus jogadores.


Dinâmicas e encaixes Tácticos:

No duelo entre defensiva Portista e ataque Leonino, Adriaanse optou por marcações zonais. Ou seja, Liedson e Deivid não foram marcados individualmente. Esta opção de marcação á zona é facilmente explicável, pela forma como os elementos do ataque Leonino se iam movimentando. Deivid e Liedson nunca ocuparam uma posição estática no terreno, procurando sempre movimentações para as faixas, tentando fugir ás marcações e ao mesmo tempo conseguir espaços para a penetração central dos elementos do meio campo Leonino, que no entanto, nunca surgiram.

No meio campo, o Sporting optou por actuar com 4 elementos, 3 dos quais mais volantes e ofensivos. Custódio ocupou a posição de trinco, Moutinho e C Martins como interiores, tentando trocar de posições frequentemente de forma a baralhar as marcações e Sá Pinto jogou como vértice ofensivo, no apoio aos atacantes.
Adivinhando uma possível superioridade número Leonina, e analisando que o ponto forte dos Leões é mesmo o meio campo, Adriaanse colocou Cech, R Meireles e P Assunção em marcações zonais rígidas aos 3 elementos do meio campo. Assim, Cech ocupou-se na maioria do tempo com C. Martins; R Meireles com Moutinho e Assunção com Sá Pinto. Custódio foi incumbido de policiar Lucho.
Percebemos assim, um encaixe entre os 2 esquemas tácticos, acabando ambas as equipas por se anular, levando a que o jogo fosse fechado, com poucos espaços e calculista. Daí também se explica a opção do futebol directo do Porto nos últimos minutos da 2ª parte, tentando queimar etapas..fazendo a bola sobrevoar o meio campo (muito preenchido) para chegar mais rapidamente aos avançados (opção essa também explicada pelo desgaste físico).

No duelo, entre a defesa do Sporting e ataque do Porto, Adriaanse optou por colocar Quaresma mais á esquerda, explorando a menor qualidade de M Garcia (comparativamente com Caneira). Fixou Benni McCarthy entre os centrais e Adriano foi tentando ocupar a faixa direita sem nunca se fixar, procurando uma grande mobilidade para surpreender através de diagonais, as marcações Leoninas. Durante uma fase do jogo, Benni foi mesmo trocando de posição com Adriano…pois a marcação dos centrais Leoninos era extremamente forte.


Conclusão: Apesar de apresentarem 2 figurinos diferentes, ambas as equipas encaixaram uma na outra, e anularam completamente a zona nevrálgica de jogo (meio campo). Os laterais do Sporting nunca arriscaram ofensivamente, e do lado do Porto Bosingwa foi tentando aparecer alguns metros mais á frente, mas sempre de forma calculada (Bosingwa esteve muito trapalhão durante o jogo todo).
Com todo este “equilíbrio de forças” só um golpe individual ou uma falha clamorosa…faria uma das equipas se superiorizar (tal como aconteceu no 1º golo leonino).

Guerra de Bancos:

Do banco de suplentes, P Bento já na 2ºa parte, decidiu retirar do campo Carlos Martins (que nunca conseguiu impor o seu jogo ofensivo), fazendo entrar Nani, como forma de explorar a velocidade e repentismo do miúdo para se soltar da marcação de Raul Meireles. No entanto, até final da partida foi algo que nunca aconteceu (R Meireles teve fabuloso em termos defensivos).
Com o amarelo de Miguel Garcia, Bento decidiu colocar Abel, aproveitando até o desgaste de Quaresma para explorar mais a lateral direita, esperando que Nani desde o meio campo o fizesse do lado esquerdo. Foi uma substituição bem conseguida, pois Abel conseguiu “trazer” maior pendor atacante para o Sporting pela banda direita.

Por último, e já no prolongamento Bento fez entrar Tello retirando o fatigado Sá Pinto. Esta substituição fez alterar o figurino do meio campo.
Nani passou para o lado direito, depois de nunca se conseguir libertar de Meireles. Moutinho ocupou a posição de playmaker mas nunca conseguiu aparecer. E Tello ocupou a posição do meio campo do lado esquerdo, jogando um pouco mais colado á linha..em relação ao que Carlos Martins vinha fazendo.

Adriaanse por seu lado, mostrou-se muito mais espectante e menos activo no banco de suplentes. Durante os 90 minutos nada alterou, talvez por sentir que seria difícil mudar o que quer que fosse, sem correr riscos.
Decidiu-se por Lisandro, aos 85m, mas cancelou a substituição talvez pensando que seria melhor esperar pelo prolongamento onde teria 30 minutos para vencer, do que arriscar alterar alguma coisa, e sofrer um golo sem tempo para depois recuperar.
Penso no entanto, que foi excessivamente cauteloso, pois Adriano a partir dos 70m mostrou claro desgaste físico, e a troca do Brasileiro pelo Argentino não acarretaria qualquer risco adicional.

De qualquer forma no início do prolongamento lá fez a substituição programada ainda durante os 90 minutos. Substituição essa que pouco trouxe de novo, muito por culpa de Lisandro que não entrou bem no jogo.

Foi com o golo do Sporting, que Adriaanse se viu obrigado a arriscar, retirando P Emanuel (o central mais lento dos 2 que estavam a jogar), fazendo recuar Cech para a defesa, e colocando Hugo Almeida ao lado de Benni McCarthy regressando ao seu tradicional 3-3-4. A aposta no futebol directo, foi uma opção previsível e natural.
Foi ironicamente, com o seu esquema habitual que o Porto chegou ao golo, onde Quaresma aproveita a falta de marcação, do já expulso Caneira, servindo Benni para o golo.

Poucos momentos depois Bosingwa foi expulso, e sem arriscar, Adriaanse colocou Ricardo Costa no lugar do sub 21 português, fazendo sair Quaresma completamente estourado.

Em jeito de conclusão, podemos afirmar que Paulo Bento “utilizou” o banco, para incrementar futebol mais flanqueado e repentista, colocando jogadores mais velozes, ao contrário de Adriaanse que utilizou o banco sobretudo para responder aos problemas que as contingências do jogo levantaram.



Tal como no jogo jogado, assistimos a um duelo entre treinadores muito renhido e equilibrado. Não creio que um dos 2 se tenha superiorizado ao outro, muito embora, Adriaanse tenha operado alterações no sistema inicial, que acabaram por ser eficazes e inteligentes.
FC Porto e Sporting são sem dúvida as 2 equipas que melhor jogam em Portugal, ficando também após este derby a sensação que ambas as equipas se encontram completamente familiarizadas ao modelo de jogo de cada um dos técnicos.

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