sábado, março 11, 2006

Mundiais Atacantes: Suiça 1954


Antes de mais um pedido de desculpas pela rubrica não ter sido colocada como seria de esperar na passada 6ª feira, por motivos profissionais e de saúde só me foi possível acabar a mesma hoje. Espero que compreendam.

Novamente na Europa

Seguindo o regime de alternância entre a Europa e a América do Sul, em 1954 decidiu-se que o Mundial seria disputado na Suiça. A decisão deveu-se à não participação do país no conflito mundial da década anterior, sendo a Suiça um país próspero, com boas infra estruturas desportivas.


Inscreveram-se 36 países, que disputaram uma primeira fase preliminar para apurar os 16 finalistas. A selecção portuguesa mais uma vez esteve presente e foi eliminado pela congénere da Áustria, com uma derrota histórica por 9-1 em Viena e um empate a uma bola em casa. Ainda não era desta que os portugueses estavam presentes no seu primeiro grande evento internacional.

Nesta fase preliminar assistiu-se à eliminação prematura da selecção da Espanha, às mãos da quase desconhecida Turquia. Inglória eliminação diga-se, uma vez que a mesma foi por sorteio, após uma vitória de cada uma das equipas e um empate no jogo decisivo.

Caminho para a Final

O sistema escolhido na fase final deste Mundial foi aquele que ainda perdura nos dias de hoje. Uma primeira fase de grupos, em que se apuram equipas para as fases a eliminar seguintes. Neste caso foram apuradas 16 equipas que se distribuíram por 4 grupos. A única curiosidade é que as equipas não jogavam todas contra todas nos grupos, só efectuando 2 partidas. Em caso de empate faziam-se jogos de desempate entre as selecções empatadas. Um sistema bastante estranho como podem imaginar.

No Grupo I, apuraram-se Brasil e Jugoslávia, que venceram na primeira ronda respectivamente México (5-0) e França (1-0), e que empataram entre si a uma bola, apurando-se as duas equipas então para os quartos de final da competição.


No Grupo II, a super-Hungria de Puskas, Kocsis e Czibor venceu facilmente a Coreia do Sul (9-0) e a Alemanha (RFA), por 8-3, demonstrando porque motivo era uma das selecções favoritas à conquista da vitória final. A Alemanha ao vencer a Turquia por 4-1 conseguiu também o respectivo apuramento.

Passando para o Grupo III, os apurados foram o campeão do mundo Uruguai (2-0 à Checoslováquia e 7-0 à Escócia), e a Áustria (1-0 à Escócia e 5-0 à Checoslováquia).

No grupo IV apuraram-se a Inglaterra e a anfitriã Suiça. Os ingleses empataram a 4 bolas com a Bélgica e venceram a Suiça por 2-0, enquanto que os anfitriões depois de baterem a Itália por 2-1 e dos transalpinos terem batido por 4-1 a Bélgica tiveram as duas selecções de disputar um encontro de desempate. Neste jogo a Suiça viria a golear a Itália por 4-1, apurando-se para os quartos de final.

Nos quartos de final a Alemanha batia a Jugoslávia por duas bolas a zero, enquanto os campeões do mundo se afirmavam também como candidatos ao título, batendo os ingleses por 4-2. A Hungria continuava a demonstrar o melhor futebol do torneio e batia por 4-2 a selecção dos nossos amigos brasileiros, num verdadeiro festival magiar. No jogo com mais golos da edição, a Áustria iria bater a selecção anfitriã da Suiça por 7-5 (!). Deixo uma pergunta no ar: será que havia defesas em 1954???...


Nas meias finais, por capricho do sorteio, pensava-se estar perante a verdadeira final antecipada entre Hungria e os campeões do mundo, Uruguai. Num grande jogo de futebol, os húngaros iriam sofrer para eliminar os sul americanos, batendo-os apenas no prolongamento, por 4-2, depois de no tempo regulamentar se verificar uma igualdade a duas bolas. Pensava-se que se tinha assistido a passagem de testemunho e que nada tiraria o título à selecção magiar.
Na outra meia final a Alemanha goleava a Áustria por 6-1, apurando-se para o derradeiro jogo frente à selecção com quem tinha sido goleada na primeira fase (3-8!!).

A Final



Todos os prognósticos davam como certa a vitória húngara para esta final. Os magiares tinham vencido os germânicos por 8-3 na primeira fase, eram uma selecção fantástica, com um futebol apaixonante e irresistível, e não se via na Alemanha argumentos à altura para baterem a equipa de leste. Além de tudo isto a Hungria já não perdia um jogo desde Maio de 1950, ou seja, quatro anos invicta. Nesse período tinham conquistado 27 vitórias e 4 empates. Vida difícil para os alemães, pensava-se.

O jogo iniciou-se com uma forte pressão da Hungria, tal como era esperado, o que fez com que nos primeiros vinte minutos os alemães já estivessem a perder por 2-0. A maioria das pessoas pensavam que se estava perante o mesmo cenário da primeira fase. Uma goleada fácil dos húngaros. Puro engano!... Ainda antes do intervalo os alemães conseguiam inesperadamente chegar à igualdade.


Na segunda parte, um verdadeiro vendaval atacante da Hungria contribuiu para a grande surpresa final. Os húngaros atacavam, atacavam, atacavam, falhavam golos, o guarda-redes alemão defendia tudo, três bolas foram aos ferros, dois jogadores alemães salvaram golos sobre a linha. Os alemães limitavam-se a defender e a usar a sua dureza, a sua força física. E a seis minutos do final do jogo o impensável aconteceu: Schaefer conquista a bola a um defesa magiar, faz um passe fantástico em profundidade para uma zona de ninguém, e aparece em alta velocidade Fritz Walter, cruzando a bola de primeira para o pé direito de Rahn, o herói da partida, que bateu o guarda redes Grosics. E assim terminou de forma inglória a história de uma das melhores selecções de futebol de sempre, a da Hungria, que ficou sem direito a um lugar na história.


O Goleador

Sándor Kocsis foi o melhor marcador do campeonato mundial helvético, com 11 golos apontados. Este jogador que foi considerado o 2º melhor jogador húngaro que todos os tempos era um ponta de lança temível e foi contratado pelo Barcelona para uma fantástica a quem só faltou o título da Taça dos Campeões Europeus, perdida para o Benfica em 1961. Mesmo assim ainda ficou no seu palmarés com 2 títulos de campeão de Espanha e com uma Taça das Cidades com Feira em 1960.

A Figura

O grande jogador deste campeonato foi aquele que era considerado um dos melhores jogadores da época, de seu nome Ferenc Puskas. Entre os húngaros, este oficial do exército era tratado por major galopante. Era um jogador baixo e aparentemente gordo, era um jogador de grande classe com um pé esquerdo fabuloso que era conhecido como o "canhão", visto que foi considerado como um dos jogadores com maior potência de remate de sempre. Depois da invasão soviética à Hungria, exilou-se em Espanha, jogando no Real Madrid, naquela que foi considerada uma das melhores equipas da história do futebol, ao lado de Di Stefano, Gento e Kopa. Conquistou 3 Taças dos Campeoões Europeus e campeonatos de Espanha. Depois da retirada dos relvados, com quase 40 anos, foi treinador de várias equipas até ao início da década de 90.

A equipa ideal

A equipa perfeita desta selecção é maioritariamente húngara, com 6 jogadores. Na baliza temos Grosics (Hungria); Depois na defensiva Santamaria (Uruguai), Varela (Uruguai), Liebrich (Alemanha) e Andrade (Uruguai); no meio campo Boszik (Hungria), Rahn (Alemanha), e Hidegkuti (Hungria); na frente o trio maravilha magiar, constituído por Kocsis (Hungria), Puskas (Hungria) e Czibor (Hungria).

Curiosidades:

- O guarda redes da Hungria foi o primeiro da história a alterar a concepção de guarda-redes como a tínhamos. Foi um jogador que não raras vezes saía da grande área, jogava com os pés, funcionando na maioria dos casos como líbero.

- A média de golos marcada neste Mundial foi a maior de sempre até hoje, com 5.36 golos por jogo. Era o verdadeiro futebol espectáculo.

- Dois anos depois da final, ainda se comentava a derrota histórica da super-favorita Hungria, alimentando-se o boato de que os alemães jogaram dopados no jogo decisivo.

- O relvado onde se jogou a final foi o mesmo em que anos mais tarde o Benfica de Coluna e José Águas bateu o Barcelona de Kocsis por 3-2. No final desse encontro Kocsis afirmaria: “Compreendi finalmente hoje o que aconteceu frente à Alemanha. Pesa uma maldição estranha neste relvado contra todo e qualquer jogador húngaro que o pisa”

- Este foi o primeiro campeonato mundial a contar com transmissões televisivas, facto que a partir desta data contribuiu significativamente para a expansão que o desporto-rei teve em todo o mundo.

Na próxima 6ª feira cá estarei com o próximo Mundial: o primeiro conquistado pelo Brasil, o Suécia 1958.

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