sexta-feira, março 17, 2006
Mundiais Atacantes: Suécia 1958
Na Europa novamente
A VI edição do Campeonato do Mundo jogou-se novamente no continente europeu, embora com os protestos das federações sul-americanas que pretendiam que mais uma vez o mesmo alternasse de continente e se jogasse no continente americano. No entanto, e face ao fortalecimento da economia sueca, este país apresentava excelentes condições para albergar a organização deste Mundial.
Talvez em parte devido ao falecimento de Jules Rimet (o pai do campeonato do mundo) em 1956, a fase preliminar deste campeonato apresentou um record de participações, com um total de 53 selecções a disputar o apuramento para a fase final. Esta fase preliminar foi bastante competitiva com várias equipas fortes a serem afastadas do caminho, com destaque para as eliminações da Espanha e da Itália.
A selecção portuguesa esteve presente no grupo precisamente da fortíssima selecção transalpina, mas a selecção apurada foi a da Irlanda do Norte, surpreendentemente. A nossa selecção começou por empatar em casa frente aos irlandeses a uma bola, depois deslocou-se a Belfast e foi copiosamente derrotado por 3-0. Na recepção à selecção italiana talvez o primeiro grande brilharete internacional da selecção portuguesa, com uma vitória por 3-0, um triunfo que ainda fazia acalentar algumas esperanças de apuramento. No entanto a squadra azurra em Roma não deu chances à nossa equipa e perdemos por 3-0. Porém no jogo decisivo os italianos foram perder 2-1 a Belfast e a surpreendente Irlanda do Norte obteve o passaporte para o Mundial sueco.
A caminho da final
Foi o primeiro campeonato com alguma “inteligência” como a que temos hoje em dia, ou seja, as equipas agruparam-se em 4 grupos de 4, apuraram-se duas equipas por grupo para depois uns quartos de final e por aí adiante.
No grupo I, tínhamos a selecção campeã do mundo, Alemanha (RFA), surgindo como grande favorita, a Checoslováquia, a surpreendente Irlanda do Norte e a Argentina (que já não participava em mundiais desde 1938). Os alemães apuraram-se batendo a Argentina (3-1) e empatando os outros dois jogos frente a Checoslováquia (2-2) e Irlanda do Norte (2-2). Quanto aos checos ainda conseguiram bater a Argentina por 6-1, mas perderam com os irlandeses por 1-0. No jogo ainda que faltava os irlandeses perderam 3-1 com a Argentina. Como nesta época ainda não havia aquilo a que se chama goal-average, procedeu-se a um jogo de desempate entre Irlanda do Norte e Checoslováquia, com os irlandeses a vencerem surpreendentemente por 2-1. Continuava a surpresa…
No Grupo II, a França e a Jugoslávia foram os apurados, com os gauleses a bater Paraguai (7-3) e Escócia (2-1), enquanto os jugoslavos terminavam a fase de grupos sem derrotas ao empatar com Escócia (1-1) e Paraguai (3-3) e a vencerem precisamente os franceses por 3-2.
No Grupo III encontrava-se a equipa anfitriã que bateu o México (3-0) e a Hungria (2-1) empatando o último jogo com o País de Gales (0-0). A Hungria, estrelas do anterior mundial, além do desaire frente aos anfitriões, empatou com os galeses (1-1) e venceu o México por 4-0. Mais um grupo com necessidade de jogo de desempate, tendo os magiares caído aos pés dos galeses, de forma algo surpreendente por 2-1.
No Grupo IV, apresentava-se a grande selecção deste mundial – o Brasil. Com Vává, Didi, Garricha, Altafini e Pélé, era uma máquina de jogar futebol. Na primeira fase bateu facilmente Áustria (3-0) e URSS (2-0), empatando a zero bolas com os ingleses. A URSS de Yashin além de perder com a selecção canarinha viria a empatar com os ingleses a 2 bolas e a bater a Áustria por 2-0. Os ingleses no último jogo não conseguiriam vencer os austríacos (2-2), sendo obrigado por isso a um jogo de desempate com os soviéticos, que com um fantástico guarda redes venceriam por 1-0.
Nos quartos de final apurar-se-iam a França de Just Fontaine (4-0 à Irlanda do Norte), RFA (1-0 à Jugoslávia), Suécia (2-0 à URSS) e a inevitável selecção brasileira (1-0 ao País de Gales).
Chegávamos às meias finais com um grande jogo em perspectiva. A França de Fontaine defrontava a constelação brasileira que ainda não tinha sofrido um único golo até então. Mas Fontaine haveria de bater Gilmar, mas de nada valendo tal feito visto que os brasileiros bateriam a França por 5-2, com um hat-trick de Pélé.
Na outra meia final uma grande surpresa também. A equipa da casa, a Suécia, bateria a campeã mundial, Alemanha (RFA), por 3-1. No entanto o caseirismo da arbitragem ditou leis e foi uma injustiça tremenda, segundo rezam as crónicas. Afinal já nessa altura havia casos… .-)
A Final
Foi uma final com resultado mais do que esperado. Apesar de jogarem em casa os suecos não podiam fazer nada perante uma selecção brasileira que dava show!... Neste jogo Garricha, segundo as crónicas, lembrou-se de dar um autêntico recital de futebol, fintando tudo e todos, para delícia de quem gosta de futebol. No entanto, o jogo iniciou-se com um golo dos suecos logo aos 5 minutos, para surpresa de muitos. No entanto Vavá, ainda antes dos 30 minutos colocaria o Brasil a vencer por 2-1.
Na segunda parte, na continuação de festival de futebol, Pelé por duas vezes e Zagallo aumentariam o placar que se iria cifrar em 5-2 para os brasileiros.
O Brasil finalmente era campeão, e o fantasma do Maracanazo já podia morrer em Paz. Pela primeira e única vez até aos nossos dias uma selecção não europeia, era campeã do mundo em solo europeu. Até hoje o inverso, ou seja uma equipa europeia vencer fora da Europa, nunca aconteceu.
O Goleador
Just Fontaine foi o melhor marcador do torneio. Marcou 13!... Mas não conseguiu trazer o título para França, e dedicá-lo ao criador da Taça do Mundo, Jules Rimet. Fontaine notabilizou-se ao serviço do Stade Reims, entre 1956 a 1961. Conquistou duas vezes o Campeonato Francês (1958 e 1960), além de uma Taça nacional. A enorme capacidade goleadora de Fontaine completava-se com a sua velocidade para se infiltrar na área, o seu remate forte e o excelente jogo de cabeça. Era um ponta de lança quase perfeito!. Com todas estas qualidades, este jogador marcou 27 golos nas suas escassas 20 aparições em partidas internacionais. Apesar de acabar precocemente a sua carreira, aos 29 anos, por causa de uma fractura dupla de tíbia e perónio, Fontaine marcou 163 golos na carreira e foi o melhor marcador do Campeonato Francês em 1958 e 1960.
A figura
Pelé. Simplesmente Pelé. Um jovem de 17 anos que começou a encantar logo nesta sua primeira aparição internacional. Como ainda vou ter várias oportunidades para falar do rei Pelé em futuras edições do campeonato, não me vou alongar muito nesta análise. Apenas que a sua velocidade e capacidade de remate foi desde logo a primeira característica apreciada. Mas neste campeonato não foi só Pelé a figura: Garrincha com as suas pernas arqueadas deu um verdadeiro recital pelos campos da Suécia, e Didi era também um jogador brilhante. Mas Pelé foi concerteza o expoente máximo que se continuaria a afirmar nos anos seguintes.
A equipa ideal
A equipa deste campeonato era constituída na sua marioria por brasileiros, e era a seguinte: Yashin (U.R.S.S.), Djalma Santos (Brasil), Gustavsson (Suécia), Bellini (Brasil), Nilton Santos (Brasil), Didi (Brasil), Kopa (França), Garrincha (Brasil), Vavá (Brasil), Fontaine (França) e Pelé (Brasil)
Curiosidades
- Este foi o Mundial da técnica. Foi neste mundial que começou a aparecer o jogador tecnicista, o chamado brinca na areia, que pode ser personificado na sua plenitude em Garricha, um jogador que se fosse preciso fintava os 11 jogadores da equipa contrária e não marcava golo. Porque o que lhe dava prazer era fintar e não marcar...
- Os suecos no jogo da final e perante o recital de futebol dos brasileiros, começaram a aplaudir a equipa canarinha ainda bem antes do final do jogo.
Na próxima semana cá estaremos para vos elucidar sobre a conquista do bi-campeonato...
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