Quinta-feira. 22 de Março de 2006.
O dia amanhece chuvoso. Antevê-se chuva. Nada propicio a uma partida de futebol. A uma partida de futebol entre raparigas. “Está a chover? Nem pensem que jogo!”, ou “eu até jogava mas com este tempo…”
Sempre defendi a igualdade entre homens e mulheres. Gosto de futebol e por conseguinte, também sempre defendi e acreditei que as raparigas devem ter as mesmas oportunidades no acesso e na prática da modalidade, tal e qual como os rapazes.
O ano passado consegui reunir um grupo de raparigas para participarmos no torneio de futebol organizado anualmente pela Associação de Estudantes da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (onde estudo) e apesar de umas gostarem mais do que outras e de umas terem mais toque de bola que outras, assistiu-se áquele que considero um dos fenómenos do desporto: o futebol como demais modalidades UNE AS PESSOAS! Independentemente do tempo que passam juntas, as pessoas estreitam laços, descobrem afinidades e intensificam laços de união. É fantástico o ambiente de balneário. Nas alegrias e nas tristezas. Nas vitórias e nas derrotas.
Apesar do empenho deste grupo de raparigas, ao qual demos o nome de “Artilheiras”, não sentimos o apoio da parte de ninguém no sentido de haver a aposta numa possível equipa de futebol. Este ano, novamente decidimos inscrever-nos no Torneio. Á procura de raparigas que preenchessem o plantel, descobri algumas meninas que nutrem um especial gosto pelo futebol. Mas porque não praticam, perguntava eu?
Pelas razoes de sempre. Pelos preconceitos de sempre. Pelo estúpido e repreensível machismo de sempre!
Olhando para o tempo que fazia e para os rapazes que no relvado jogavam contra o mau tempo, pensei para comigo que nós também éramos capazes de entrar no campo e jogar! Nem que nevasse. Nem que caíssem pedras. Mas as adversárias não queriam aparecer. Segundo elas o tempo não era propício. Provavelmente deviam estar a pensar que futebol joga-se apenas quando faz sol. A minha equipa estava completa. Um pouco receosa, mas a união notava-se!
Na noite anterior as “outras” já nos haviam lançado o repto: “vão levar uma abada!” – ameaçaram elas. Ao fim de algumas insistências elas lá apareceram. Cinco delas.
Mal o jogo começou a tempestade que se adivinhava desabou sobre as nossas cabeças. Os rapazes que assistiam á partida, faziam-no atentamente. Nada de bocas. Nada de comentários grosseiros e estúpidos. Apesar de não sermos umas “craques” eles respeitavam-nos. As únicas vozes que se ouviam eram as nossas. Palavras de incentivo. De força. Estávamos todas juntas e parecíamos uma só!
Acabámos por ganhar. Mas acabámos sobretudo por nos tornar uma equipa!
Um dia excelente! Um grupo fantástico! Só me resta dizer: Obrigado Artilheiras!
Por me fazerem sentir que apesar do meu fantasia de ser jogadora de futebol ser impossível de alcançar, nada me impede todavia de sonhar!
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