Benfica e Barcelona jogaram ontem à noite a primeira mão da eliminatória que levará um deles às meias-finais da Liga dos Campeões, com o resultado a ser um surpreendente empate a zero. Surpreendente porque, considerando a qualidade dos jogadores em campo e a instabilidade do guarda-redes do Benfica, seria de esperar que houvesse golos.
Os órgãos de comunicação social de hoje são unânimes: agora a eliminatória será decidida em Barcelona. «Agora», porquê? Alguém esperava que o Benfica decidisse a eliminatória ontem, com uma goleada bastante para desmotivar já os homens de Frank Rijkaard?
O Barcelona tem tido sorte. Na temporada passada teve uma ‘final antecipada’ com o Chelsea e jogou a primeira mão em casa, indo depois a Londres ser eliminado a seguir a uma exibição fantástica — o jogo do ano. Nesta época a ‘final antecipada’ teve a ordem inversa, mas, mais uma vez, foi a equipa que jogou a segunda mão em casa a passar em frente (apesar de o Barça ter feito mais um jogão em Stamford Bridge). Ou seja: como ensinavam os mais velhos, jogar a segunda mão em casa é uma vantagem considerável nesta fase da prova.
Ronald Koeman sabia disso? Parece que não. Apresentou mais uma vez um esquema bastante conservador, com três centrais (embora um deles a lateral) e três trincos. Um esquema que, antes, nos jogos com o Liverpool, em que o Benfica também tinha a primeira mão em casa e a segunda fora, deu resultados. O que Koeman não percebeu foi que o golo de Luisão, quase ao cair do pano, não é coisa de todos os dias. Em Anfield, o Liverpool tinha de avançar para desfazer o avanço do Benfica, expondo-se atrás como qualquer equipa inglesa e acabando por sofrer mais dois golos quando as pernas começaram a falhar. Mas ontem, mesmo com o Barcelona a apresentar uma defesa remendada, as coisas foram diferentes — ter Geovanni não é o mesmo que ter Nuno Gomes. E o Benfica não marcou golos. Vai a Nou Camp numa posição bem diferente da da última eliminatória.
De hoje a oito dias, o Barça não tem de cavalgar para a frente, loucamente, à procura de um golo. Pode soltar o seu futebol num dos relvados mais largos da Europa e aplicar o fantástico esquema de passes e desmarcações que mais ninguém na Europa tem — muito menos o Liverpool. O Benfica jogou ontem como se estivesse a jogar a primeira mão fora, a querer trazer a eliminatória para a Luz. Bastava a Koeman ter-se virado para trás, para as bancadas repletas, para perceber onde estava. Hoje ‘A Bola’ brinca na capa, a respeito de um penalty: «Eu vi, tu viste, ele não viu». Ironicamente, não é ao árbitro que esta manchete mais se aplica.
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