quinta-feira, junho 15, 2006

Grupo B: Inglaterra Vs Trinidad & Tobago




A Inglaterra, líder isolada do grupo B à partida para este encontro, era claramente favorita. Trinidad & Tobago, país estreante em Mundiais, surpreendeu tudo e todos ao pontuar frente à selecção sueca na jornada anterior e era uma incógnita a forma como a equipa do holandês Leo Beenhakker se ia apresentar hoje, se levava uma goleada ou se voltava a fazer uma gracinha. Contudo, uma vitória alcançada pelos britânicos era o resultado mais do que esperado, fosse esta conseguida com maior ou menor dificuldade.
A primeira parte foi absolutamente aborrecida, secante e monótona. Se viram os primeiros quarenta e cinco minutos gabo-vos a paciência. Se não quiseram ou não puderam assistir a esta metade do jogo garanto-vos que não perderam nada de mais e certamente que o que fizeram durante esse tempo foi bem mais interessante e produtivo. A Inglaterra, apesar da vitória e consequente apuramento para os oitavos de final, continua a não convencer e a fraca exibição apresentada pelos pupilos de Eriksson é o melhor espelho disso mesmo. Logicamente que a selecção nacional de Trinidad & Tobago não tem tantos argumentos técnicos como a de Inglaterra, mas, aproveitando bem as suas armas, lançaram-se à guerra, apostando num futebol em contra-ataque, opção muito pouco surpreendente para uma equipa da qualidade dos americanos. A lentidão com que os ingleses jogavam metia dó, a falta de objectividade, de criatividade e de motivação eram outras das características de uma selecção que, tendo obrigação de dominar completamente o jogo, não o fez, permitindo até aos naturais de Tobago chegar com relativa frequência à baliza de Robinson que, diga-se de passagem, esteve francamente mal, hoje.



Os britânicos estiveram muito apáticos defensivamente, e nas manobras ofensivas, a equipa procurava constantemente a altura de Peter Crouch ou os remates de longa distância, quase sempre protagonizados por Frank Lampard, que ainda assim iam sendo algo perigosos. Os ataques bravos de Trinidad & Tobago eram quase todos pouco perigosos e esta equipa procurava sempre fazer passes curtos de forma a manter a posse de bola o mais tempo possível. O jogo teve uma ligeira evolução positiva já no fim da primeira metade, quando ocorreram as mais flagrantes oportunidades de jogo. Do lado de Inglaterra, Lampard fez um excelente remate a passar a menos de um metro do poste da baliza de Shaka Hislop, hoje com menos trabalho do que contra a Suécia, e Peter Crouch falhou escandalosamente um remate, isolado na grande área, após um excelente cruzamento do capitão Beckham, eleito pela FIFA como o melhor em campo neste desafio. Para o lado oposto, Stern John, após um canto curto de Dwight Yorke cujo passe lhe foi devolvido, centra para a cabeça do melhor marcador da equipa durante a fase de qualificação e a bola passa a milímetros do poste. Culpas para o guarda-redes inglês que permitiu que a bola chegasse ao avançado do Coventry. Já no fim da primeira parte John cabeceia, mais uma vez tendo Robinson permitido que tal acontecesse, e Terry tira a bola precisamente sobre a linha. Talvez o jogo fosse diferente caso esta bola tivesse entrado.


Veio o intervalo e depois das palestras dos técnicos no balneário, o espectáculo mudou um bocadinho. A selecção inglesa mostrou mais querer, raça e vontade, mas nada de muito significativo. Trinidad & Tobago ia sendo encostada no seu meio-campo mas a defesa à zona bem organizada do conjunto americano preenchendo bem os espaços ia mantendo o perigo longe da sua baliza. Crouch, muito trapalhão, lá foi conseguindo alguns remates inconsequentes e Joe Cole ia-se mostrando o mais descontente com os números apresentados pelo placard, tentando constantemente empurrar a formação anglo saxónica para a frente. Foi ao quinquagésimo sétimo minuto que o jogo mudou. Owen, com um jogo fraquinho, e Carragher, estreante neste Mundial, abandonaram o relvado para serem substituídos por Lennon e Wayne Rooney, que finalmente pode jogar na grande competição do futebol a nível de selecções nacionais. Finalmente havia movimentações, jogo sem bola, desmarcações (!) na equipa britânica. Lennon, um jovem jogador de apenas 19 anos que veste as cores do Tottenham, teve uma entrada fulgurante e foi graças ao “puto” que a Inglaterra se começou a mexer devidamente. Criou lances perigosos, usou o poder de finta e velocidade para ganhar no um para um e dinamizou todo o ataque pela direita, deixando Beckham como lateral direito. E se de um lado estava Lennon, do outro estava Joe Cole que procurava constantemente fazer diagonais ou cruzamentos com sucesso. Foi precisamente Cole quem teve uma enorme chance de marcar quando, sozinho, cabeceou ao lado, após um livre cobrado por David Beckham na direita.
O jogo ia abrindo, os espaços iam sendo criados e Joe Cole, esgotado, dá lugar a Dowing, que entrou com o intuito de emprestar velocidade ao corredor esquerdo do ataque inglês. Trinidad & Tobago ia defendendo como podia, com todos os homens exceptuando Glenn que teve algumas investidas pelo meio-campo adversário, mas a falta de companhia no ataque foi a causa do fracasso dessas mesmas investidas.
Quando o desespero se apoderava dos jogadores e adeptos de Inglaterra e se começava a adivinhar uma repetição do feito histórico de Trinidad & Tobago diante dos nórdicos na jornada transacta, eis que surge o golo inglês. Não que não estivessem a jogar melhor, porque estavam, claro, mas porque a equipa denotou durante os noventa minutos uma falta de empenho tremenda, acabei por dar por mim a barafustar com a sorte dos ingleses, eu que até sou fã desta selecção. David Beckham cruza na direita e perante a surpresa, Grand Sancho não consegue impedir que, muito próximo da baliza, o gigante Crouch conseguisse cabecear para o fundo das redes de Hislop, marcava o cronómetro oitenta e dois minutos de jogo.
Trinidad começava a lançar-se no ataque, tentando um milagre mas Steven Gerrard acabaria por sentenciar a partida ao rematar mesmo à entrada da área para, introduzindo o esférico na baliza do guardião do West Ham, que nada pode fazer.
Ainda foi anulado um golo de calcanhar ao conjunto americano, já nos minutos de compensação, e fica para a história a fica a digna exibição de Trinidad & Tobago e o suor na camisola dos ingleses, que arrancaram os três pontos a custo. Inglaterra segue em frente no Mundial 2006 e a vida fica muito difícil para os trinitário-tobagenses, que ainda assim já conseguiram pontuar no torneio, o que é óptimo. Falta um golo e isso fica para o próximo jogo frente ao Paraguai.


Não há um jogador que mereça incontestavelmente o “prémio” de melhor em campo. Houve alguns jogadores que estiveram menos mal, como Frank Lampard nos seus remates fortes; Joe Cole, tentando fazer uso da sua técnica demonstrando o seu descontentamento perante o 0-0; David Beckham, escolhido pela FIFA como o melhor do jogo de hoje e os autores dos golos Gerrard e Crouch que, ainda que trapalhão, ainda conseguiu finalizar da melhor maneira por uma vez. Há, porém, um jogador que eu julgo merecer o destaque: Aaron Lennon, pela metamorfose que originou no ataque inglês. O jogo tinha pouco dinamismo, pouca velocidade e pouca criatividade e foi este jovem de 19 anos que, cumprindo a sua terceira internacionalização, conseguiu “acordar” a equipa e encaminhá-la para a vitória revelando grande capacidade técnica, rapidez de execução e poder de arranque e aceleração.


Fora um lance aos 51 minutos em que assinalou falta de Joe Cole quando esta não existia, Toru Kamikawa e os seus assistentes estiveram muito bem, não tendo praticamente trabalho nenhum, o que já vem sendo hábito neste Campeonato do Mundo.


• O modo como a selecção de Trinidad & Tobago se bateu, dignificando o seu país e o seu futebol e quase pontuando, novamente frente a uma equipa muito superior;
• A excelente entrada de Aaron Lennon, que veio a espevitar o adormecido ataque de Inglaterra;
• O ambiente vivido no estádio em Nuremberga, com cânticos constantes dos ingleses;
• A boa arbitragem do trio asiático.
• O fair-play vivido dentro e fora das quatro linhas.


• A falta de atitude de quase todos os elementos da selecção do Reino Unido;
• O fraco espectáculo dado por ambas equipas. Se a selecção trinitina não tinha obrigação de jogar ao ataque, a verdade é que Inglaterra podia ter pegado no jogo mais cedo, proporcionando um jogo mais bonito e apelativo.

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