quarta-feira, junho 21, 2006

Grupo B: Suécia Vs Inglaterra




À Inglaterra, com a qualificação já assegurada, bastava um empate para conseguir o primeiro lugar. Por seu turno, a Suécia necessitava de ganhar este jogo de forma a evitar defrontar os anfitriões da Alemanha nos oitavos de final. Contudo, os nórdicos ainda não estavam matematicamente apurados, havendo uma improvável possibilidade de Trinidad & Tobago passar à fase seguinte. Isto se os americanos vencessem por dois golos e os suecos fossem derrotado pelos ingleses, algo que dificilmente aconteceria.

Em relação à constituição das equipas, os britânicos deixariam Steven Gerrard no banco dado que o médio do Liverpool tem um cartão amarelo e ao ver um novo cartão neste encontro poderia ver-se impedido de actuar nos oitavos de final. Assim sendo, e talvez de modo a libertar um pouco mais Lampard, Eriksson (sueco), apostou em Hargreaves, do Bayern, para o onze inicial. Peter Crouch, também ele na mesma situação, permitiria que Wayne Rooney se estreasse a titular. Esta última alteração acabaria por sair furada visto que Michael Owen torceu o pé, sozinho, logo no primeiro minuto e teve que abandonar o campo, dando oportunidade a Peter Crouch para entrar na partida. Do lado da Suécia, Allback substituía o lesionado Zlatan Ibrahimovic e Wilhelmsson também não jogaria a titular, dando a possibilidade ao seu companheiro Jonson de actuar de início.

O jogo, como já disse, começou com a lesão de Owen que veio piorar ainda mais a falta de avançados dos ingleses que contam com o “trapalhão” Crouch, o ainda ressentido da lesão Rooney e o jovem do Arsenal Walcott. Acabou por ser o amarelado do Liverpool a substituir o ponta-de-lança do Newcastle.
Logo aos dois minutos, Frank Lampard começa a sua sucessão de remates perigosos que perdurou durante os 90 minutos. Este chuto passou muito perto do poste direito da baliza de Isaksson e quase que a selecção de Inglaterra inaugurava o marcador no segundo minuto de jogo, tal como fez contra o Paraguai. Aos seis minutos, Lampard volta a rematar, desta vez sem tanto perigo. De frisar um fora-de-jogo algo duvidoso assinalado a Rooney que partia sozinho para o cara a cara com o guardião sueco.
Lampard, novamente, remata à baliza, desta feita com a cabeça mas sem consequências de maior.

Tenho estado a falar em Frank Lampard mas até nem era este futebolista aquele que mais se estava a destacar. O seu companheiro do Chelsea, Joe Cole, estava a protagonizar uma magnífica exibição, efectuando sucessivas fintas e pormenores técnicos absolutamente deliciosos. Talvez seja com este “brasileiro” de Inglaterra que o “nosso” Cristiano Ronaldo tem que aprender. Em 90 minutos, Cole perdeu duas bolas mas não deixou de bailar com o esférico nem deixou de ser exibicionista e criativo, fê-lo foi com eficiência e em prol do colectivo, algo que Ronaldo tende a esquecer-se. Foi precisamente o extremo “blue” que rematou com imenso perigo. Era um prenúncio do que viria a acontecer no minuto 34.
A Inglaterra ia cada vez mais cimentando a liderança no jogo, ia-se impondo cada vez mais. Rooney teve uma boa oportunidade e Beckham, hoje mais apagado do que nos desafios anteriores, atirou à baliza na sequência de um livre batido na esquerda, num “cruzamento remate”. O resultado disso acabou por surgir exactamente ao trigésimo quarto minuto. Joe Cole, na asa esquerda do ataque inglês, fora da grande área, recebe de peito e sem deixar a bola cair remata com o pé direito fazendo a bola embater no poste antes de entrar na baliza. Aquilo a que se chama um remate “na gaveta”, quase no ângulo. Juntamente com os golos do jogo inaugural e a fantástica jogada do conjunto argentino cujo tento acabou por ser obtido por Cambiasso, este arrisca-se a ser o melhor golo do torneio. Lampard parecia apostado em marcar um golo e arriscava-se a consegui-lo, decorria o minuto trinta e nove. A bola ficou na parte de cima da baliza. Excelente remate do box-to-box londrino, que no último lance dos quarenta e cinco minutos iniciais quase marcava após uma triangulação dentro da área com o melhor homem em campo, Joe Cole. A primeira metade terminava assim, em crescendo inglês e com o jogo perfeitamente controlado, quase assegurando o primeiro lugar.


A segunda parte começou bastante diferente da primeira, com a Suécia a fazer tudo para vencer o jogo. Ljungberg ameaçou com um bom remate cuja defesa resultou em canto para os suecos que, ao ser cobrado, deu a assistência a Allback que, nas alturas, repunha a igualdade. 1-1 no marcador e os amarelos ainda sonhavam com o primeiro lugar. Wilhelmsson acabou por entrar, para substituir Jonson. Aos 54 minutos Larsson cabeceia à baliza e Paul Robinson, na maior intervenção de todo o encontro, mostrou uns reflexos incríveis ao desviar a bola que ainda bateu na barra. Um minuto mais tarde Ferdinand lesiona-se e deixa entrar Campbell, outro excelente central, para o seu lugar. A Suécia já queimava os pneus tal era a forma como carregava no acelerador e Lucic volta a fazer a bola batera na barra com um grande remate. Em apenas dez minutos a Suécia já tinha mandado duas bolas ao ferro e feito um golo. Brilhante! A partir do momento em que Eriksson tira Rooney para colocar Gerrard em campo o jogo equilibrou substancialmente. Os ingleses ocupavam bem os espaços, fruto da superioridade numérica no miolo e deixavam a Crouch todas as despesas ofensivas. Assim o jogo foi deixando de ter um só sentido. A verdade é que acabou por ser a Suécia, por intermédio de Kallstrom, a causar perigo quando este remata e Gerrard tira sobre a linha. Allback saia e Elmander vinha dar mais frescura ao ataque, mas isso de nada valeu. Sete minutos depois de um bom cabeceamento de Crouch, Stever Gerrard volta a pôr a selecção inglesa em vantagem. Depois de uma diagonal de Joe Cole (quem mais poderia ser?), o extremo cruza e Gerrard, solto na área, cabeceia sem hipóteses para Isaksson. Estava feito o 1-2. A Suécia continuava na busca desesperada pelo golo, que acabou por surgir ao minuto 89. Depois de um lançamento de linha lateral com imensa força, a bola salta na área e Larsson, num ligeiro toque, introduz a “redondinha” na baliza. Até ao fim do jogo foi a Suécia a tentar marcar para não apanhar a Alemanha, mas tal não veio a acontecer e foi mesmo a Inglaterra a ficar em primeiro lugar e a qualificar-se à frente da Suécia. Trinidad & Tobago e Paraguai ficam pelo caminho.


Eu limito-me a concordar com a FIFA e elejo, sem grandes dúvidas, Joe Cole como o homem do jogo de hoje. Em circunstâncias normais seria Frank Lampard o jogador que escolheria, pois fez vários remates impressionantes e demonstrou uma clara apetência para organizar o jogo. Porém, há um jovem que merece o destaque por todo o seu brilhantismo. Mesmo antes de ele marcar o golo eu já sabia que o ia escolher para o melhor jogador, apenas pela meia hora inicial. Momentos de pura magia: passes de calcanhar, fintas, tudo aquilo que de bonito se pode fazer com a bola. E aquilo que é de louvar é que tudo isso foi feito com extrema eficiência, sempre dando um contributo à equipa, sempre com um objectivo claro. O que Joe Cole percebe é que realmente importa chegar ao fim, mas há meios com mais e menos beleza para atingir esses mesmos fins, e Joe Cole provou que a técnica apuradíssima não colide com a eficácia e o jogo colectivo. Depois, claro, o golo magistral que apontou e tudo aquilo que já referi fazem com que este tenha sido o encontro cuja facilidade para apontar o melhor em campo foi menor. Joe Cole, por tudo o que fez, merece e muito a nomeação.


A arbitragem do suíço Massimo Busacca foi razoável. Há um fora de jogo duvidoso na primeira parte em que Rooney corria disparado na direcção da baliza e, na dúvida, deve ser o atacante o benificiado. Contudo, as dúvidas são realmente muitas e não se pode julgá-lo, nem aos seus assistentes. A única decisão polémica pode ter sido aquela mão assinalada a Ashley Cole que nada podia fazer para impedir a bola de lhe tocar no braço. O lateral esquerdo ainda esboça um movimento na direcção das costas mas ainda assim a equipa de arbitragem decidiu marcar falta. De resto, não há falhas a apontar e, no geral, foi muito aceitável.


• Houve 4 golos;
• Houve emotividade até ao final do encontro;
• A arbitragem aceitável;
• O fantástico ambiente vivido nas bancadas, com o apoio incondicional dos adeptos de ambas as formações e toda a festa à volta do terreno de jogo;
• O jogo soberbo de Frank Lampard e principalmente de Joe Cole;
• O golo de Joe Cole é do outro mundo.
• A melhoria da qualidade exibicional de Inglaterra;
• A entrega e persistência dos suecos;
• A enorme quantidade de alternativas possuídas pelos britânicos.


• A lesão de Michael Owen, que parece grave e pode impossibilitar o avançado inglês de actuar mais neste torneio;
• Rio Ferdinand saiu magoado e não se sabe até que ponto a indisponibilidade física pode afectar o jogador e a equipa.


• Sven-Goran Eriksson, treinador da selecção inglesa, é sueco, da nacionalidade dos seus adversários. Este facto já se tinha repetido no último Mundial quando Inglaterra e Suécia se cruzaram na fase grupos, tendo empatado tal como ontem, mas em 2002 foi 1-1.
• Larsson tornou-se o melhor marcador da Suécia em Campeonatos do Mundo, além de ter sido o jogador com mais presenças na competição ao serviço da selecção nacional;
• Allback marcou o 2.000º golo da história dos Mundiais;
• Toni, comentador da SportTv, ao tentar referir-se a Aaron Lennon disse “John Lennon”. (tive mesmo que dizer isto!).

Sem comentários: