sexta-feira, junho 16, 2006

Prospecção e seu papel no Futebol Internacional (diário de observador)

Cada vez mais FIFA e UEFA, consideram essencial e prioritário criar “regras” que fomentem a aposta na formação de jovens talentos.
Assim, recentemente tem sido discutido ,e várias vezes proposto, a obrigatoriedade dos clubes apresentarem nos seus planteis um certo número de jogadores das suas “canteras”.
Á primeira vista parece/parecia ser uma óptima ideia e uma forma de promover mais a aposta nas chamadas “academias”
No entanto, e como é natural, os clubes “milionários” estão agora preocupados em conseguir soluções para contornar este problema, pois muitos dos grandes clubes Europeus não têm até hoje grandes academias, ou Know How para as ter.
Existe ainda a preocupação em conseguir rentabilizar em termos de talento, as vagas no plantel que serão ocupadas por jovens da cantera.
Para não verem “x” vagas ocupadas apenas para fazer número e para cumprirem as regras, tornou-se necessário pensar em formas de conseguir cumprir a regulação através do preenchimento do plantel com jovens de qualidade.

Assim, a resposta encontra-se na prospecção, mais especificamente numa prospecção de jovens talentos a uma escala mundial ,e não apenas regional ou nacional como já existe á vários anos.
Cada vez mais, os grandes clubes recrutam “olheiros” experientes, alargam o número de elementos do seu departamento de prospecção, modernizam-no e vão á caça do próximo Ronaldinho ou Zidane.

E se é verdade que a FIFA instituiu regras para este autêntico “tráfico” de jovens talentos, também é verdade que existem formas de contornar ,também, essas regras…justificando a transferência de um miúdo de 12 ou 13 anos do Brasil para a Europa, com o motivo dos pais virem para cá trabalhar (obviamente razões de “fachada”).

Bom, digo-vos tudo isto porque temos assistido recentemente a uma autêntica agitação do mercado de jovens talentos, miúdos de 10,12,14 anos que trocam os clubes das suas cidades por alguns dos melhores clubes do Mundo, onde irão tentar ser “maturados” e “trabalhados” para serem as estrelas de amanha.
Como tal, vou deixar-vos alguns exemplos dessas movimentações de mercado e algumas pequenas histórias para perceberem até que ponto o futuro do Futebol vai passar pela detecção de talento precoce a uma escala planetária:

Em Portugal tivemos o caso do pequeno Ponde, jogador do Olhanense extremamente cobiçado e pressionado pelo Chelsea, que acabou “inocentemente” por se decidir pelo clube do seu coração o Sporting Clube de Portugal.

Em Espanha um novo talento precoce anda nas bocas do mundo, Nikon Jevtic.
De nacionalidade Inglesa este jovem talento de 13 anos, já passou por Inglaterra,Áustria e agora ingressou no Valência, mesmo com propostas tentadoras de outros clubes da Europa.
Ainda em Espanha o Barcelona tentou “pescar” Erik Lamelas, talento de 13 anos do River Plate, que se sentiu tentado a viajar para Espanha até porque correm rumores que lhe foi prometido um salário anual a rondar os 25 mil contos (imaginem!!), no entanto os pais com medo da segurança do filho e tentando zelar pelo seu crescimento num ambiente mais familiar, resistiram á tentação. Milão e Arsenal também tentaram a contratação do jovem prodígio.

No Brasil é Chera quem é comentado.
Encanta toda uma nação futebolística desde os seus 5 anos e depois da cobiça de Manchester, Sporting e muitos outros clubes Europeus, os seus pais consideraram ser de máxima importância manter o miúdo no seu país transferindo-o para o Santos, que pagará todas as despesas do jovem atleta incluindo as despesas relacionadas com os estudos.

Na Alemanha, Denis Krol (13 anos) mudou-se do Leverkusen para Barcelona aliciado pelas promessas dos dirigentes catalães.
O Barça, num torneio em Espanha, acabou por “tentar” outros jogadores do mesmo clube, o que provocou a ira dos dirigentes do Leverkusen, rejeitando desde então participarem em provas Internacionais.



Como se pode ver por estes exemplos, as alterações das leis da FIFA, que prevêm para 2008 a obrigatoriedade de cada clube ter 8 jogadores com 3 ou mais anos de formação no próprio clube, no plantel profissional, obriga a esta busca incessante pelos talentos emergentes no Futebol Internacional.
O Presidente do River Plate definiu esta novo “fenómeno” no panorama Futebolístico, como pirataria, aludindo ao “rapto” de jovens talentos aliciados por dinheiro ou fama..numa idade onde ainda estão a desenvolver a sua personalidade.
O Jornal As (espanhol) por seu lado, apelidou este fenómeno de “pedofilia futebolística”.


Após este relato, tenho obrigatoriamente que deixar esta pergunta no ar:
A FIFA e UEFA, ao criarem estas regras como forma de incentivar o trabalho de formação nos diversos panoramas nacionais, não estarão a ter como resultado o desenvolvimento do processo inverso?
Ou seja com a criação destas medidas não se estará cada vez mais a fumentar o “rapto” de talentos por parte dos grandes clubes Europeus aos de menor expressão?

Prestem atenção a esta história. É sobre o já citado Nikon Jevtic, a quem já o apelidaram de “rato de laboratório”.

O pai de Jevtic, radicado na Grã-Bretanha descobriu á cerca de 6 anos o talento precoce do seu filho.
Desde então decidiu fazer todos os esforços para fazer do seu filho uma grande estrela de futebol.
O irmão mais velho assumiu o treino do prodígio, acompanhando-o em 2 treinos diários, cabendo á irmã mais velha a tarefa de ser a professora do “menino”. Sim, é verdade, este menino nunca foi á escola.
O pai decidiu então mudar a família para a Áustria, passando Jevtic a treinar-se ,após passagens pelo West Ham e Arsenal, na Academia do Áustria de Viena.
Hoje em dia Jevtic joga no Valência, e o seu pai prevê que o menino se estreia pela sua selecção com 16 anos.
Jevtic assume agora a personagem de “el maestro”, nome que foi designado pelo seu próprio pai para substituir o nome Jevtic, algo difícil de pronunciar.

A pergunta que fica é: Será que cada vez mais se justifica apostar no talento precoce, trabalhando-o intensamente para se conseguir um “atleta perfeito” ?

José Carrascosa, psicólogo do desporto considera que é extremamente perigoso este tipo de experiências, e que toda esta pressão em Jevtic pode ter consequências graves no desenvolvimento psicológico do miúdo.
Já Jurgen Bauschmann, Sociólogo do desporto, considera que o treino de desempenho começa apenas aos 15 anos e que portanto a personalidade terá essa sim um peso fundamental no sucesso futuro do atleta. Com isto Bauschmann quer dizer que o desenvolvimento “forçado”,, antes da idade correcta , é pouco importante para o desenvolvimento posterior, ou seja, após os 15 anos de idade.
Conclui portanto, desaconselhando o investimento de dinheiro na contratação de “crianças”.

A verdade é que mesmo após estas opiniões, a caça ao talento tornou-se numa guerra feroz e constante, e cada vez mais os clubes procurarão “abastecer-se” com os maiores talentos precoces do globo.
Este fenómeno leva-me a concluir, que apesar de todos os esforços de FIFA e UEFA será cada vez mais difícil “controlar” esta competitividade agressiva e constante entre clubes, que fica bem patente na contratação ,cada vez mais constante, de jovens talentos futebolísticos.

A prospecção toma agora, mais do que nunca, um papel de destaque no Futebol Internacional.

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