Futebol defensivo na Formação. Será correcto? Será errado? Hum…penso que é um bom tema de discussão.
Como já frizei vários vezes, dirigentes, treinadores e adeptos têm que estar mentalizados e estar preparados para separar a realidade - Futebol de Formação da realidade Futebol de Alto Rendimento.
Em termos organizativos, etc, não é igual, mas sobretudo os objectivos não são iguais, são bem diferentes até.
Ao que me refiro com isto?
Simples!
Se no Futebol de Alto Rendimento os objectivos são os êxitos desportivos. Se as políticas directivas são tomadas nesse sentido, no Futebol de Formação mais importante que os êxitos desportivos está a formação de atletas, como forma de mais tarde “fornecer” á equipa sénior, jogadores de qualidade.
Obviamente não vou cair na hipocrisia de dizer que os resultados não interessam. Todos têm o desejo de vencer. Obvio que sim, mal era se não o fosse.
No entanto, as políticas, as estratégias e até a forma do staff técnico gerir o plantel..deve estar de acordo com a melhor forma de produzir atletas, e não de vitórias imediatas que em termos futuros não garantem qualidade e “Crescimento” e “maturidade” dos seus atletas.
Ora é exactamente na gestão do staff técnico que eu quero basear este texto, e sobretudo na forma como “ordenam” os seus miúdos…para jogar.
Todos sabemos que mais importante que a definição de um sistema táctico, é a definição do modelo de jogo como base e alicerces de uma equipa. Só depois implantamos um sistema táctico a esse modelo, para que o sucesso seja garantido.
Assim, numa análise breve ao Futebol Internacional, assistimos a uma postura cada vez mais defensiva e calculista das equipas, que cada vez mais optam por esquemas fechados e bem compactos, para depois com frieza e calculismo marcarem os golos necessários para a vitória. Será compreensível esta postura? Eu considero que sim…se a chave para os êxitos desportivos passa por um Futebol mais calculista e por vezes mais defensivo, então penso que esse Futebol deva ser aplicado…se bem que não em exagero.
Mas e nas camadas jovens? Haverá algum nexo em adoptar sistemas defensivos? Se o objectivo é formar jogadores, se o objectivo é “Exponenciar” as capacidades dos atletas, para terem uma progressão coesa e sustentada, terá alguma lógica optar por um sistema com 5 defesas, bastante povoamente no meio campo e esquecer quase por completo o ataque? Basear o seu futebol em pontapé para a frente..e exploração de contra-ataques?
Penso que não. É um erro crasso!
Em que me baseio para adoptar esta postura?
Em 1º lugar, se na formação o objectivo é exactamente “formar” e não o êxito desportivo obrigatório, então devem ser adoptados sistemas tácticos e dinâmicas de jogo que melhor favoreçam o “desenvolvimento técnico” dos atletas. Sistemas esses baseados em Futebol alegre e ofensivo, como forma dos atletas terem hipóteses de melhorar não só a qualidade de passe e a visão de jogo, mas também os índices técnicos.
Ora se uma equipa jogar em 4-3-3, 4-4-2…etc, com futebol de pendor atacante, os seus atletas poderão explanar e melhorar as características acima referidas.
Se por outro lado, o sistema táctico for 5-4-1 e a postura for defensiva, os miúdos no máximo melhorarão a sua capacidade defensiva e de destruir jogo, mas pouco mais do que isso.
Em 2º lugar, não podemos esquecer que os atletas de formação são jovens. Jovens esses que se apaixonaram pelo Futebol e que pretendem fazer do mesmo a sua vida. Ora, não se deve castrar logo á partida o prazer destes miúdos pelo Futebol, obrigando-os a sistemas defensivos rígidos e sem “beleza” ou “criatividade”. Provocará saturação e sobretudo um “abaixamento” dos índices psicológicos e motivacionais dos atletas..que jogando de forma não apelativa terão um rendimento menor em campo.
Em 3º, penso que é na formação que deve começar a defesa do Futebol enquanto espectáculo.
Pois são os miúdos de hoje que serão os talentos de amanha, e serão os técnicos de formação de hoje que provavelmente serão os técnicos dos principais clubes nacionais amanha, portanto deve haver um cuidado de mentalizar á “nascença” todos os “intervenientes” principais do jogo, para um jogo bonito e criativo, sempre que possível.
Por último, se a presença de poucos espectadores no Futebol Jovem é uma realidade, embora lógica, então é preciso adoptar formas de cativar adeptos para estes jogos.
É lógico que o Futebol de Formação não suscita o mesmo interesse do Futebol de Alto Rendimento. É lógico que as infra-estruturas do Futebol de Formação são menos apelativas aos adeptos, os horários dos jogos também são menos apelativos…etc.
Mas se a estes factores, juntarmos Futebol fechado, sem criatividade e demasiadamente mecanizado então os adeptos desaparecerão na sua quase totalidade.
Este meu texto, surge após vários observações feitas, onde em vários casos me deparei com equipas a defenderem completamente atrás do meio campo, procurando os “chutões para a frente” para a velocidade de uma valor mais talentoso..perdido lá na frente.
Para além destes sistemas provocarem jogos chatos, diminuem também as possibilidades dos miúdos melhorarem como jogadores, e “castram” na totalidade os jogadores mais talentosos tecnicamente.
É realmente frustrante, ver miúdos…que deveriam estar a ser direccionados para se desenvolverem enquanto atletas, a serem castrados e “usados” para interesses unicamente baseados nas carreiras dos treinadores e dirigentes, quando era suposto que a formação fosse encarada de outra forma.
De que serve a uma equipa o dinheiro gasto na formação, se está não for direccionada para formar atletas de qualidade, e sim para a tentativa de conseguir sucesso por parte de treinadores e dirigentes que não percebem minimamente a filosofia do Futebol jovem?
De que forma vão estas equipas motivar os seus jogadores, se estes não sentem prazer em jogar?
Pois é, em Portugal é “frequente” não haver distinção entre objectivos de Futebol de Alto Rendimento e objectivos de Futebol de Formação.
Procura-se invariavelmente o sucesso desportivo, e as exigências de adeptos e dirigentes são exclusivamente feitas nesse sentido.
É pena, pois noutros países onde a formação está mais desenvolvida criou-se uma mentalidade diferente.
Na Holanda o Ajax não joga para o titulo nacional de juvenis ou Juniores. “Joga” para a formação “organizada” de jogadores capazes de vir a integrar o plantel sénior.
Deixo-vos só com um exemplo que o técnico Norton de Matos me referiu…sobre um exemplo a que assistiu enquanto estudava a forma de trabalhar do Ajax:
Num jogo da equipa de Juniores do Ajax, estes perdiam por 3-0…
No entanto, Norton constatava que os adeptos continuavam a bater palmas e com um sorriso nos lábios. Intrigado tentou perceber a reacção, quando obteve esta resposta:
“Porque haveríamos de estar chateados? O objectivo desta equipa é formar talentos, e o defesa direito e o Médio esquerdo, estão a caminho da equipa sénior. Porque haveríamos de assobiar ou criticar? Estão a conseguir o pretendido”.
Dá que pensar não dá?
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