sexta-feira, abril 21, 2006

Mundiais Atacantes: Alemanha 1974

O novo troféu



Após a conquista da Taça Jules Rimet em 1970 pela selecção do Brasil, a FIFA teve de criar uma nova Taça do Mundial, taça essa que até hoje se conserva, sempre na posse da selecção actual campeã mundial. Sendo assim, em 1971 a FIFA decide o projecto vencedor e até hoje ainda temos a mesma taça.



Quase 100 equipas inscreveram-se para a edição da prova a realizar em terras germânicas. Na fase preliminar e como era hábito verificaram-se algumas surpresas. Na Concacaf, o Haiti, surpreendentemente eliminou o México e apurou-se pela 1ª e única vez na sua história para a fase final do mundial. No continente africano, mais uma selecção a estrear-se em fases finais, o Zaire. Na Europa, surpreenderam as eliminações da Hungria (aos pés da Suécia), Roménia (pela RDA), Espanha (frente à Jugoslávia) e Inglaterra. Este foi mesmo o caso mais escandaloso, tendo a selecção britânica sido eliminada pela Polónia.

No caso de Portugal, a eliminação deu-se em favor da selecção da Bulgária. Os jogadores lusos não foram além de 2 vitórias (ambas frente a Chipre por 4-0 e 1-0), 2 empates a 1 golo frente à Irlanda do Norte, e um empate frente à Bulgária na Luz (2-2) e uma derrota em Sófia por 2-1. Prestação modesta para uma selecção em renovação pós-Eusébio.

Caminho para a final

O tipo de competição da fase final foi alterado neste Alemanha-74. Após a primeira fase de grupos, onde se apuravam as 2 melhores selecções de cada grupo, far-se-ia a constituição de 2 grupos, desaparecendo desta forma o formato de quartos de final e meias finais. Os vencedores de cada um destes grupos na II fase seriam os finalistas.



No Grupo I, a selecção da casa era apontada como a grande favorita, mas não conseguiu vencer o grupo. Em primeiro lugar haveria de ficar a rival RDA, vencendo os alemães ocidentais por 1-0 num jogo que colocou à prova o clima de guerra fria existente na Europa. Além dessa vitória os alemães de leste venceram a Austrália por 2-0 e empataram com o Chile sem golos. Na segunda posição a RFA, que além da derrota já citada venceu o Chile por 1-0 e a Austrália por 3-0.

No Grupo II, o campeão mundial Brasil, teve grandes dificuldades em apurar-se. Pode-se dizer que conseguiu o apuramento por 1 golo. Empates a zero frente a Escócia e Jugoslávia e uma vitória por 3-0 frente ao Zaire. A Jugoslávia empataria a 1 com a Escócia e golearia os zairenses por 9-0. Por sua vez, a Escócia, no jogo frente à selecção africana, venceria por 2-0. Conclusão, a Jugoslávia claramente em 1º lugar, o Brasil em 2º com um goal-average de 3-0 e os escoceses em 3º com goal-average de 3-1... Quase tínhamos surpresa logo a começar.

No Grupo III, a grande selecção de futebol dos anos 70, a conhecida laranja mecânica. Com um fantástico Cruiff mas também com Neeskens e Rep, os holandeses ficariam em primeiro lugar do grupo mercê de vitórias frente a Uruguai (2-0) e Bulgária (4-1) e um empate sem golos frente à Suécia. Etes acabariam por conseguir também o apuramento, empatando a zero com a Bulgária e vencendo o Uruguai por 3-0.



No Grupo IV, a Polónia (que já havia sido carrasco da Inglaterra) surpreendeu tudo e todos ao vencer os seus 3 jogos (3-2 à Argentina, 7-0 ao Haiti e 2-1 à Itália). Na equipa polaca começava a despontar um dos grandes jogadores polacos, de seu nome Lato, que depois com o aparecimento de Boniek fez da Polónia uma selecção de grande qualidade nos finais dos anos 70/início de 80... Os italianos acabaram por ser eliminados pelos sul-americanos, devido ao goal average, pois empataram com a Argentina a uma bola, mas enquanto venceram o Haiti por 3-1, a equipa azul celeste ganhou por 4-1.

Finda esta primeira fase de grupos, agruparam-se os 8 apurados em dois grupos.

No Grupo A, a grande luta a travar-se seria entre a laranja mecânica e o Brasil. Nas duas primeiras jornadas os holandeses venceram a Argentina (4-0) e a RDA (2-0), enquanto os brasileiros venciam a RDA (1-0) e a Argentina (2-1). Conclusão, no jogo decisivo, os brasileiros teriam de vencer a temível selecção do país das tulipas. Foi um dos melhores jogos do campeonato, em que Cruiff deu um verdadeiro banho de futebol, levando a sua equipa a vencer por 2-0, com um golo seu e outro de Neeskens. O grande erro do seleccionador brasileiro de fazer uma marcação à zona, acabou por deixar Cruiff fazer o que queria e levar calmamente os holandeses à sua primeira grande final de uma competição internacional.



No Grupo B, a selecção anfitriã bateria nas duas primeiras jornadas a Jugoslávia (2-0) e a Suécia (4-2), enquanto que a grande surpresa da competição, a Polónia, bateria os suecos por 1-0 e os jugoslavos por 2-1. No jogo decisivo entre as duas selecções, em Frankfurt, a RFA acabaria por bater os polacos por 1-0, num jogo carregado de emoção, em que a Polónia fez sofrer a equipa da casa.

Chegava-se assim a uma grande final, em que a vantagem de jogar em casa teria de superar o melhor futebol do mundo em 74, a Holanda.

A Final

A final de 1974 era no fundo o sonho dos organizadores. Jogava-se entre a selecção da casa, razão logo para um grande sucesso, e o adversário era uma selecção que por si só garantia o espectáculo, com o seu sistema revolucionário. Oitenta mil pessoas, em pleno Estádio Olímpico de Munique assistiram a este grande espectáculo de futebol.

Além destas curiosidades era ainda o confronto entre a Alemanha de Beckenbauer e a Holanda de Cruiff. O primeiro retirava-se após 3 mundiais a grande nível. O segundo tinha a sua estreia como grande vedeta do futebol mundial. O futuro reservou-lhes um historial de ouro, tanto como jogadores como como treinadores. Para Cruiff ter uma carreira relativamente parecida com Beckenbauer só lhe falta agora ser... presidente?... :-)



Voltando ao jogo da final, perante um ambiente ensurdecedor, os holandeses começarem por silenciar todo o estádio olímpico, quando Cruiff logo no primeiro minuto fintou Berti Vogts, entrou na área e foi claramente rasteirado por um defesa alemão. O penalty foi marcado e Neeskens encarregou-se de inaugurar o marcador. Tudo corria de feição aos holandeses. Porém os holandeses, ao contrário do "futebol total" que tanto espectáculo proporcionou durante a competição, vendo-se a ganhar optar por jogar na expectativa e em contra-ataque. Perante isso o que se assistiu foi a uma Alemanha dominadora, a controlar todo o meio campo e a chegar à igualdade ao minuto 25, também através de uma grande penalidade. Ainda antes do final da primeira parte, os alemães acabariam por chegar ao golo da vantagem final, através de Gerd Muller. Estava consumada a reviravolta.

Na 2ª parte, os holandeses tentaram partir para cima dos germânicos, mas a boa organização defensiva alemã acabava por se impor ao génio dos holandeses, bem como uma soberba exibição do grande guarda-redes Sepp Maier.

A Alemanha conseguia por fim obter o segundo título mundial de futebol, depois da derrota na final inglesa de 66 e de chegar às meias finais do México-70. Era a grande consagração do Kaiser, Beckenbauer, que acabava a sua carreira em grande, com o título mundial.



A figura

É incontornável que o nome em destaque neste mundial se chama Johan Cruiff. Poderíamos dizer que era Beckenbauer e que é injusto o alemão não ter sido escolhido uma única vez figura de um mundial. Mas tal como em 66, em que foi ofuscado por Eusébio, em 74 o alemão acabaria por não ser tão brilhante como Cruiff. Este holandês é considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos. Veloz, astuto, corria por todo o campo abrindo lacunas para os companheiros. Com a bola nos pés, tinha habilidade e uma noção de espaço fora do comum. Diferente da maioria dos atacantes até então, não esperava que a bola chegasse até si. Procurava-a e criava desequilibrios. Estreou-se na selecção holandesa com apenas 19 anos, e foi a grande figura do Ajax campeão europeu de 71, 72 e 73. Tranferiu-se então para Barcelona onde haveria de ser campeão no ano de estreia. Foi vice campeao mundial em 74 e só não ajudou na campanha da Holanda de 78 porque se zangou com os responsáveis da federação do seu país. Foi também treinador do mítico Barcelona entre 88 e 96, tendo feito um trabalho notável, com a conquista entre outros títulos da única Liga dos Campeões do emblema catalão.

O goleador

O melhor marcador com 7 golos, foi o polaco Lato. Este afamado jogador, participou em 3 campeonatos do mundo, tendo jogado em 1974 a extremo direito. Destacava-se pela sua extraordinária velocidade, já que era capaz de correr 100 metros em 10,8 segundos. Fez quase toda a sua carreira no Stal Mielec, tendo-a terminado em 1985 no Atlanta, no México. Regista a conquista de dois terceiros lugares em campeonatos do mundo, com a Polónia (1974 e 1978).


A equipa ideal

A Holanda, mesmo não conquistando o ceptro mundial, acaba por ser a selecção mais representada na equipa ideal. Assim temos, Sepp Maier (Alemanha), Suurbier (Holanda), Pereira (Brasil), Breitner (RFA), Beckenbauer (RFA), Neeskens (Holanda), Lato (Polónia), Deyna (Polónia), Cruiff (Holanda), Gadocha (Polónia) e Resenbrinck (Holanda). Destaque para o facto de Beckenbauer ter pertencido às selecções ideias de 66, 70 e 74... Notável!...

Curiosidades Atacantes

- A "nova" taça do mundo que foi criada, foi escolhida de entre 53 projectos concorrentes, e o projecto vencedor foi o das oficinas Bertoni, de Milão, feita pelo escultor Silvio Gazzaniga, que definiu a taça da seguinte forma: "As linhas saem da base, enguendo-se em espirais e estendendo-se para receber o mundo. Das tensões dinâmicas notáveis do corpo compacto da escultura elevam-se as figuras dos dois atletas no momento emocionante da vitória. É um trabalho fluído e espontâneo e a obra exprime força e a pureza do espírito da competição desportiva". É isto que significa a Taça do Mundo actual.

- A Holanda criou neste mundial o conceito de Futebol Total. Neste tipo de futebol desaparecem os velhos conceitos que sujeitam as tácticas das equipas a esquemas rígidos por linhas: cada jogador, defesa ou avançado, pode ocupar qualquer posição no terreno de jogo. Esse sentido colectivo de jogo evita que o jogador seja tão individualista. Ete conceito é a base de quase todo o futebol como o conhecemos hoje.

- Os jogadores holandeses, após uma guerra quanto aos valores a receber pelo patrocínio da Adidas, decidiram retirar uma das tiras características da marca das suas camisolas no jogo da final, como forma de protesto.

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