Enviou-nos o nosso colega Garras 12, uma crónica assinada pelo seu pai, João Ladeira, acerca de uma questão muito pertinente: Livros de futebol... Porque escrever? Com que qualidade? E quem? Qualquer um, ora pois!
"Lá vai o tempo que o pessoal do futebol era visto como uma cambada de ignorantes, uns broncos iletrados..., essa ideia acabou, já ninguém pensa assim.
Hoje em dia a rapaziada da bola está muito mais evoluída, intelectualizou-se, alguns até resolveram tirar o casaco e começaram a escrever..., jogadores, dirigentes, técnicos, árbitros, toda agente escreve o seu livro, as próprias editoras não querem outra coisa.
O movimento literário, propriamente dito, começou quando o treinador do Sporting, Lazlo Boloni, aqui há uns anos atrás, aceitou publicar os seus apontamentos, e o que é extraordinário, é que foi logo recorde de vendas.
Depois o Mourinho, campeão como o outro, não lhe quis ficar atrás e escreveu também o seu livrinho da ordem... que foi outro sucesso, diga-se de passagem.
Foi um sucesso de tal ordem que o homem agora escreve em tudo o que é sítio, revistas, jornais, publicações científicas, política, culinária, modas e bordados, andou no Médio Oriente a promover a paz, e só não veio à Madeira resolver o problema dos aterros clandestinos, porque não lhe pediram.
Logo a seguir, os jogadores... num inédito assomo de intelectualidade pura, vai cada um ao seu computador e toca a escrever, foi o Deco, o Jorge Costa, o Vítor Baía, todos com o seu livrinho debaixo do braço, já autografado, revisto e encadernado..., é só ler.
O próprio Presidente do Porto, uma surpresa, um homem que ninguém diria ser pessoa para revelar o que pensa, não resistiu aos encantos da literatura e acabou também por acrescentar um título seu ao património literário nacional.
E se alguém pensou que os árbitros é que iam fazer o papel de idiotas no meio deste surto literário, enganou-se, enganou-se completamente, e a prova está aí: um antigo árbitro internacional de futebol acaba de anunciar uma obra literária da sua autoria.
Se for como eu estou a pensar, se o homem se entregou à escrita com os mesmos dotes artísticos que tinha quando arbitrava, estou em crer que o Prémio Nobel deste ano está no papo... a não ser que haja alguma engrenagem.
No meio disto tudo, o que me desanima, é ver que este ciclo literário só ocorre no Continente, aqui na Madeira, nada... ninguém se mexe.
Custa-me a entender tanta inibição, confesso, não percebo, ainda por cima até já temos uma Associação de Escritores a funcionar em pleno, com papel timbrado, carimbo e selo branco, tem Sede, Órgãos Sociais eleitos e anunciados, têm tudo, só lhe falta escritores, e ninguém escreve, é estranho.
Não aceito que me digam que é por falta de argumentos, isso não aceito, o que há mais por aí são temas para escrever, protagonistas, enredos, ideias que davam, de certeza, boas produções literárias. Estou a lembrar-me, por exemplo, quando anunciaram que "o Nacional é um concorrente directo do Sporting... somos ambos do mesmo Campeonato", acho que isto dava um bom romance.
Sinceramente, se alguém pegasse num tema destes e começasse a escrever, era livro que eu comprava logo, mais que não fosse, comprava por curiosidade, só para tirar dúvidas, para saber de que Sporting é que estavam a falar.
Eu cá vou ser franco, quando ouvi isto pela primeira vez, pensei logo que era o Sporting de Portugal, o de Alvalade, mas está visto que não era, deve ter havido um engano qualquer... depois, ainda admiti a hipótese de ser o de Braga, o Sporting de Braga, mas pelos vistos, também não era esse, de certeza que não era, e agora fiquei na dúvida.
É que ainda há outros, há o Sporting do Pombal, da Covilhã, o de Espinho, o do Porto Santo, e até houve um Sporting Farense, que tinha as mesmas cores e tudo, também era preto e branco, pode ser que seja esse, sabe-se lá se estão a pensar, no futuro, jogar ambos no mesmo campeonato, não se sabe... só perguntando, temos que perguntar.
Agora, no que respeita àquele desejo que apregoaram dizendo que "está no nosso horizonte fazer do Nacional o maior Clube da Região"... aí dou a mão à palmatória, neste caso, confesso que fizeram bem não escrever nada, ainda bem... as histórias de ficção, hoje em dia, estão pela hora da morte, não têm saída... era livro para amarelar na prateleira.
E não é por nada, eu não tenha nada contra, até acho que aquela associação que fizeram do objectivo com o horizonte foi achado feliz, é a imagem exacta que diz tudo, está provado que o horizonte não existe, o horizonte é uma ilusão, aliás, aprende-se, nos primeiros anos da escola, que o horizonte é uma linha imaginária, quanto mais nos aproximamos dela, mais ela se afasta de nós, é o que dizem."
[João Isaque Ladeira]
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