quinta-feira, novembro 02, 2006

Referências estrangeiras do nosso futebol: Alejandro Scopelli


A referência estrangeira desta semana é provavelmente desconhecida da maioria dos atacantes. O seu nome é Alejandro Scopelli, um argentino que deu um importante contributo para evolução do futebol português.
Alejandro Scopelli nasceu em La Plata, na Argentina, e ainda estudante ingressou nos Estudiantes de la Plata, numa altura em que a profissionalização do futebol se implementava na Argentina. Era um futebolista de invulgar habilidade e de uma brilhante intuição. Portanto, foi sem muita surpresa que o jogador integrou a convocatória da selecção argentina no primeiro mundial de futebol no Uruguai.
Depois foi para o Roma e, por surpreendente que apareça, representou a selecção italiana, uma vez que era filho de italianos. Isto parece estranho, mas naquele tempo eram vários os jogadores que representavam mais que uma selecção. Ainda bem que hoje a FIFA tem regras para proibir este cenário: porque, convenhamos, se assim fosse se calhar a nossa selecção já não contava com a magia de Deco.
Deixamo-nos, contudo, de suposições e voltemos a Alejandro Scopelli……

Por meados da década de 30, voltou tenuemente ao seu país natal, de modo a representar o Racing de Buenos Aires. Todavia, Alejandro tinha um fas
cínio pelo velho continente e o seu regresso à Europa não tardou. Paris, a cidade luz, apadrinhou o regresso do argentino ao nosso continente. Representou o Red Star e Racing de Paris, só que subitamente estalou a 2ªguerra mundial. Alejandro não teve outra alternativa, senão procurar um país neutro para se refugiar.
Portugal pareceu-lhe a melhor solução, e o Belenenses acolheu-o. Para os lados das Salésias, ajudou os azuis do Restelo a conseguirem classificações relevantes no campeonato. Não muito depois, foi “promovido” a treinador, porém um mal entendido fez com que o seu contrato terminasse. Obrigado a sair de Belém, muda para norte, para treinar uma outra equipa que veste de azul e branco, o Futebol Clube do Porto. Na cidade invicta, não consegui, porém, obter sucesso, acabando por abonar os dragões.
Barcelona foi a paragem que se seguiu e o Espanyol foi a “vítima”. Introduziu um método inovador, que consistia em pôr os jogadores a respirarem numa máscara de ar ao intervalo, de modo a que eles corressem tanto como na primeira parte. Esse método até teve resultados práticos.
Passou pelo Chile, antes de voltar a Portugal. Esteve com um pé no AS Roma, mas, curiosamente, vai-se lá saber porquê, a sua escolha estava dependente de uma Assembleia Geral. Após uma espera de três meses, comunicou a sua disponibilidade ao ……Sporting. Apanhou, no entanto, os leões numa fase de transição e chegou a passar um mau bocado em Alvalade. Uma passagem pelo Sporting que, porém, teve um momento caricato: era o treinador da equipa leonina, em 1954/55, que venceu o Belenenses na última jornada, retirando, assim, o título que já era festejado para os lados do Restelo. Este acontecimento veio provar, por outro lado, o enorme profissionalismo de um homem, que nunca negou o amor que sentia pelo clube que o acolheu no nosso país.
Tirando o episódio que retirou o título ao Belenenses, a sua passagem por Alvalade não foi de todo bem sucedida. Voltou a atravessar o Atlântico e em 1966 foi escolhido para seleccionador do Chile. Como treinador da selecção do Chile teve relativo sucesso, levando os chilenos aos jogos olímpicos de 1968 e ao Mundial de 1970, no México.
Para surpresas de muitos, voltou a Portugal para treinar o “seu” Belenenses, na época 1972/1973. Fez um bom trabalho, quer do ponto de vista técnico, quer do ponto de vista psicológico. Na época seguinte ao seu regresso, levou os azuis à vice-liderança do campeonato, algo que não acontecia desde a trágica época de 54/55.
Scopelli faleceu a 28 de Outubro de 1987, num hospital da Cidade do México, durante uma cirurgia.
De que Alejandro Scopelli deu um grande contributo ao futebol português, disso poucos duvidam. Trouxe para Portugal, entre outras coisas, a marcação individual. Era um treinador minucioso, que efectuava um trabalho produtivo mas lento, o que irritava aqueles que queriam resultados imediatos. Os seus títulos são poucos ou nenhuns. Mas será que devemos avaliar a qualidade de um treinador/jogador apenas pelo número de títulos?

"...morreu alguém que foi um cidadão do futebol mundial e a quem o futebol português, especialmente o Belenenses ficou a dever inestimáveis serviços. Gracias, mister"
In A Bola


Ficha técnica
Nome: Alejandro Scopelli
Data de Nascimento: 12 de Maio de 1908 a 28 de Outubro de 1987
Naturalidade: La Plata
Nacionalidade: Argentina
Clubes por onde passou: Estudiantes de La Plata, Roma, Racing de Buenos Aires, Red Star, Racing de Paris e o Belenenses
Clubes que treinou: Belenenses, FCPorto, Espanyol, Deportivo de la Coruña, Universidade de Santiago, Sporting …….
Seleccionador: Portugal, Chile e México
Internacional pelas selecções da Argentina e da Itália


Palmarés como jogador:
Vice-Campeão do Mundo

Palmarés como treinador:
Vice-campeão português

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